Vivendo na Ucrânia há quatro anos, o mato-grossense Sidney dos Santos Junior, de 23, tem usado suas redes sociais para compartilhar a rotina em meio à guerra no País após o ataque russo no final de fevereiro.
Estudante de Medicina, o jovem mora atualmente na cidade de Dnipropetrovsk e, apesar de ainda não ter visto nenhum dos ataques na cidade, tem vivido na pele os transtornos causados pelo conflito.
Entre os relatos estão desde problemas com o transporte público, dificuldade para sacar dinheiro nos bancos à escassez de alimentos nas prateleiras dos supermercados.
Em alguns dos stories publicados no Instagram, Sidney mostrou as prateleiras parcial ou totalmente vazias do maior supermercado da cidade – um prédio de três andares.
“Nos mercados as filas estão gigantescas. Aí chega uma pessoa e já pega praticamente todo o alimento para estocar. Tudo está difícil por aqui”, afirmou.
Outro relato compartilhado com seus seguidores foi o episódio em que foi abordado polícia secreta ucraniana quando estava a caminho de casa. Segundo o jovem, os oficiais vasculham as ruas à procura de infiltrados russos.
Em conversa com o MidiaNews, Sidney explicou como tudo aconteceu. “Eu fiquei uma hora esperando o trem para ir para casa e como ele não vinha eu decidi voltar de a pé”. O jovem tomou essa decisão mesmo diante da proibição de andar na rua após o toque de recolher. “Às 20h bate a sirene e não tem mais como ir para casa, nem sair”, disse.
O estudante foi abordado por cinco policiais encapuzados enquanto falava ao telefone com a mãe. “O cara já chegou metendo a arma no meu peito, um movimento errado que eu fizesse ali e ele me matava”, desabafou.
Ele se apresentou como um estudante de Medicina de nacionalidade brasileira e, depois de ter seus documentos avaliados, foi liberado. “Levei um susto, foi uma experiência traumatizante”.
Tamanho foi o impacto da abordagem que ele decidiu dormir em um ciber-café para não correr o risco de um novo encontro com a Polícia. “Tive que dormir lá, sentando”.
A revolta com os impactos da guerra
O estudante conta que as estações de trem estão lotadas e que passageiros brigam para conseguir lugares nos vagões. Ele tentará sair do País ainda esta noite, ou amanhã pela manhã a depender da situação.
Seu primeiro destino pretendido é a Romênia, um dos países que fazem divisa com a Ucrânia. Depois, possivelmente, tentará ir para o Canadá, para onde pretendia se mudar após concluir a faculdade.
O estudante cursava o décimo semestre de Medicina e, faltando pouco mais de um ano para a conclusão dos seus estudos, teve as aulas suspensas.
“Eu estava aqui de boa estudando, quase formado. Eu ia me formar e tentar ir para o Canadá construir um futuro, construir uma vida. E do nada uma guerra. O que eu tenho é raiva, estresse e tristeza perante essa situação, esse é o meu sentimento”, desabafou.
Segundo o jovem, o que lhe desperta certo medo é a possibilidade de um ataque nuclear após as ameaças do presidente russo.
Cidades desertas e homenagens
Sidney contou que não perdeu ninguém próximo, mas isso não aconteceu por pouco. Um amigo que mora na mesma cidade que ele teve a casa atingida por um míssil.
“A sorte é que ele não estava em casa, estava em um abrigo antibombas. Mas se estivesse na casa, teria morrido”, disse.
Em outros registros feitos pelo rapaz em sua rede social é possível ver rosas deixadas aos pés de monumentos erguidos em homenagem a militares.
“A gente pode ver que os ucranianos são um povo que tem um amor muito grande pelos militares deles”, diz enquanto mostra o buquê. “O povo ucraniano é um povo que tem um amor muito profundo pelo seu País”.
Confira as demais publicações do estudante em sua página do Instagram.
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Fonte: Midianews