O terreno movediço a que está atascado o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro, poderá tragá-lo de tal tamanho que, içá-lo, poderá vir a ser um trabalho difícil. De início, o prefeito cuiabano, que fora deputado, foi surpreendido com aqueles vídeos em que ele, José Domingos, Alexandre César, Luciene Bezerra, Hermínio Barreto (já falecido) e Ezequiel Fonseca recebem dinheiro [que se supõe ser propina] do ex-chefe do governo Silval Barbosa, Silvio Correa. As informações são do Blog do Massa, cujo jornalista editor Jorge Maciel fez um levantamento da história do gestor à frente da Prefeitura de Cuiabá.
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Foi uma cena deprimente: atrapalhado, Emanuel deixa cair maços de dinheiro do bolso do paletó. Aliás, o episódio ganhou o chavão popular de “Escândalo do paletó”, em que a “gorjeta” deixaria (como deixou) o então governador Silval à vontade para fazer o que todos já sabem o que fez.
Logo a seguir, a polícia prendeu o então secretário de Saúde de Cuiabá, Huark Douglas Correia, e mais dois médicos na Operação Sangria, que ainda investiga de desvio de verba da saúde pública em Cuiabá. Huark viu o sol quadrado durante 20 dias, saiu, mas deixou um rastro que pode levar ao gabinete do sétimo andar do prédio da prefeitura, em breve.
Atordoado, o prefeito Emanuel saiu de cena, enquanto usava o pelotão de choque liderado pelo presidente da Câmara, Misael Galvão, para estancar uma ‘CPI do paletó’, que se deu infrutífera. Assustado, Emanuel recebeu dias depois da sua aparição, o então ministro da Saúde, Ricardo Barros, que deixou por aqui R$ 16 milhões de fundos e mais R$ 80 milhões de emendas e algum que estava em caixa deixado pelo ex-prefeito Mauro Mendes. Com isso, ele concluiu o Novo Pronto Socorro – obra iniciada pelo predecessor.
Uma forte campanha publicitária, liderada pelo irmão, Popó Pinheiro, quem realmente comanda a Comunicação, quietando os já quatro secretários da pasta como marionetes, os chamados secretários de holerite, serviu para criar um cenário de realizações: vieram reformas de praças e contêineres transformados em paradas de transporte coletivo urbano, urbanização e criação de pequenos parques, e obras sempre ligadas ao trânsito, onde o secretário Antenor Ribeiro (Semob) ‘passeia’ absoluto, vinham arrancando suspeitas e arrepios.
Logo, os movimentos do eterno e ‘inteligente’ secretário, que se notabilizou por trocar sinaleiros em Cuiabá em todas as gestões anteriores, foram captados pela polícia e órgãos de controle.
E investigações chegaram à bando: na polícia civil e na Câmara Municipal, onde foi instalada outra CPI, tramitam inquéritos sobre aplicação do dinheiro de multas, contratos de R$ 15 milhões dos “semáforos inteligentes” e a compra de equipamentos eventualmente superfaturada.
Por último, em um terreno lamacento ou sob o sol inclemente dos 40 graus e muita poeira, milhares de veículos – motos, automóveis, caminhões e ônibus – vinham sendo amontoados, sob a luz de mais um projeto, o Rodando legal, de uma empresa de mesmo nome. As operações da Semob podem ser comparadas com as colheitas no laranjal: mais de 2500, segundo uma CPI que corre na Câmara, veículos eram recolhidos nas ruas, ao menor deslize.
Ali na sede do Rodando Legal, na avenida Beira Rio, a vítima pagava de 110 a 400 reais em diárias, até que o coitado tivesse condições de retirar seu bem, com detalhe de ter que pagar multas vencidas e a vencer, taxas esquisitas, diárias e pagamento do guincho, geralmente 150 reais, no mínimo. E o pagamento no cartão? Cobrança de taxa ilegal entre 10 a 20% sobre o valor, e no boleto, 10 reais. Resultado? Crime contra o consumidor, sobrepreço e muito dinheiro drenados e fatiados para os bolsos dos empresários Carlos de Mello Logulo e a L2r Participações e sabe lá quem mais.
No Ministério Público (MPE), procuradores se debruçam sobre três inquéritos relacionados ao trânsito, onde pode “sobrar” para o secretário da pasta, para o prefeito e para empresários envolvidos na farra.
Mais recentemente, investigadores da delegacia de Combate à Corrupção (Deccor) aportaram na Secretaria Municipal de Educação, de onde levaram equipamentos de mídia, documentos e planilhas de pagamentos. A suspeita de corrupção e duplicidade de pagamentos recai também sobre o chefe do Executivo cuiabano.
Na esteira de possíveis assaltos ao bolso do contribuinte, a Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor) e a Defaz (polícia fazendária) voltaram a ancorar nas portas da administração pública municipal, com uma operação na Secretaria de Assistência Social, Direitos Humanos e da Pessoa com Deficiência de Cuiabá. Os investigadores apuravam denúncias de superfaturamento na compra de 5 mil cestas básicas pelo valor de R$ 129,80 a unidade, em plena pandemia.
A denúncia foi do vereador Diego Guimarães (Cidadania), um dos integrantes da minoria na Câmara Municipal, onde está instalada uma base majoritária e patrocinada para agirem como “encanadores”, aqueles que vedam vazamentos. Os encanadores são patrocinados com cargos na prefeitura, e quase todos os empregados, não trabalhadores, são conhecidos cabos eleitorais dos vereadores.
O blog apurou que a Polícia Federal trabalha, e faz tempo, para verificar enormes quantidade de recursos federais que foi enviada para combate à Pandemia. O vereador Dilemário Alencar, há uns 15 dias, vem cobrando nas redes sociais o emprego de R$ 95 milhões que o prefeito ainda não tratou de explicar o que foi feito. Na semana passada, o governo federal voltou a enviar uma das parcelas do R$ 42 milhões para o mesmo fim.
Na história político-administrativa, nenhuma administração foi tanto sacudida por suspeitas de corrupção. Se logo de entrada o prefeito foi pilhado com o dinheiro do “Paletó” e trilhou o seu mandato com turbulências e abalos, logo aguardar por mais suspeitas e polícia na porta do Alencastro não será surpresa. Afinal, como se atribui a uma máxima do filósofo chinês Confúcio, “o que começa errado tem todas probabilidades de acabar errado”.