Explorar cavernas é mergulhar em um mundo misterioso e encantador, em que a escuridão revela histórias antigas, formações geológicas espetaculares e uma conexão com a natureza. Pouco explorado, o turismo de cavernas ainda está em crescimento em Mato Grosso. Prova disso é que a maior caverna do estado, a Caverna do Jabuti, foi aberta há pouco mais de um mês, após 18 anos de espera. A reportagem é do RD News. Confira:
Localizado em Curvelândia (a 279 km de Cuiabá), o local tem 4 km de extensão, o equivalente a 33 campos de futebol em linha reta. Desde abril, a caverna passou a receber grupos de turistas, mas a luta do setor agora é conseguir infraestrutura para o que o local seja frequentado.
Atualmente, Mato Grosso tem 585 cavernas registradas, de acordo com Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (Cecav) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). No entanto, a maior parte delas não é conhecida pela população, apesar de ter milhares de anos de história – e muitas nem podem ser visitadas ainda, por questões ambientais. O Monumento Natural Caverna do Jabuti é um desses locais milenares e recentemente recebeu autorização para abrir visitação. A caverna, formada por arenito e calcário, tem cerca de 600 milhões de anos, segundo pesquisadores, mas só foi descoberta em 1982 por desbravadores da região.
Desde então, um grupo de pesquisadores passou a trabalhar para o mapeamento e licenciamento ambiental do local. A bióloga da Prefeitura de Curvelândia, Fabiana Bezerra, fez parte deste trabalho de mapeamento e conta que há 18 anos luta por esse projeto.
“Só agora conseguimos a legalização, de acordo com as normas ambientais, e a caverna pode ser oficialmente visitada. Mato Grosso tem muitas paisagens, rios, cachoeiras, mas quando nos deparamos com uma caverna gigantesca como essa, com salões imensos, pensamos: esse vai ser o chamariz da região Sudoeste. A nossa intenção é que a caverna seja mais um motivo para as pessoas visitarem a região. O turista pode ser daqui e ir para um balneário em Mirassol d’Oeste ou às cachoeiras de Salto do Céu e de Rio Branco, podem ir à Reserva do Cabaçal”, detalha.
Prefeitura de Curvelândia
A bióloga explica que uma parceria com o Sebrae está sendo trabalhada para que sejam formatados roteiros turísticos na região para fomentar a economia local e o turismo rural, já que o município é pequeno, com 5 mil habitantes, e tem predominância rural. Para isso, Fabiana afirma que é preciso recursos para investimentos em infraestrutura no local.
“Hoje o turista vem à Caverna do Jabuti, faz o passeio e vai embora. Queremos então implantar tirolesa, arvorismo e uma torre de observação de aves. Mas precisamos de recursos. O monumento natural está em uma unidade de conservação de 250 hectares, com muito potencial. Então, se o turista tem outras atividades para fazer no parque, ele fica mais tempo na região, almoça na cidade ou posso ofertar para ir em uma propriedade rural ter um almoço caipira. Eu consigo atrair mais turistas e assim desenvolver a economia local”, argumenta.
Em 2014, O Monumento Natural Caverna do Jabuti foi tombado como patrimônio histórico e artístico do estado. Em março de 2023, o local conseguiu a dispensa de licenciamento de infraestrutura e foi aberto oficialmente pelo Município.
A visitação
Para a visitação da Caverna do Jabuti, o turista precisa ser acompanhado por um guia. O valor cobrado é de R$ 50 por pessoa. São 15 ambientes diferentes dentro da caverna e o passeio dura cerca de 2 horas.
O acesso não é tão difícil, pois os salões são altos e permitem que as pessoas andem em pé nos ambientes. Os grandes salões ornamentados têm uma infinidade de espeleotemas, que são as formações rochosas resultantes da sedimentação e cristalização de minerais dissolvidos na água. As formas dependem do vento, da água, da posição da caverna e dos minerais, entre outros fatores. Algumas das que são encontradas na caverna foram nomeadas como “Pão de Açúcar”, “Expansão do Universo”, “Altar do Sacrifício” e “Saia da Noiva”.
Prefeitura de Curvelândia
Turismo de cavernas em MT
Apesar de não ser muito conhecido, o estudo de grutas e cavernas tem um nome específico: espeleologia. A bióloga, espeleóloga e presidente do Instituto Mato-grossense de Espeleologia (Imesp), Natally Carvalho Neves, afirma que o turismo de cavernas em Mato Grosso está em crescimento, e que assim como a Caverna do Jabuti, existem outros monumentos com grande potencial turístico, com formações geológicas que impressionam, mas ainda pouco exploradas.
Caverna Aroe Jari, em Chapada dos Guimarães
Uma delas é a Gruta da Lagoa Azul, em Nobres (a 124 km de Cuiabá), uma das maiores cavernas submersas do Brasil, com águas cristalinas e uma grande variedade de formações rochosas. Outra é a caverna Aroe Jari, em Chapada dos Guimarães (a 65 km de Cuiabá), considerada uma das mais bonitas do país, com diversas salas e um rio subterrâneo que pode ser explorado em passeios de bote.
“O estado tem grande potencial. Apesar de ter 585 cavernas registradas, sabemos que existem muitas outras, esse número ainda é pequeno perto do potencial que temos. Precisamos fazer expedições, prospecções e registros. Mas o mais importante não é só encontrar essas cavernas e grutas, mas regularizá-las, uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo setor atualmente”, afirma.
Cavernas irregulares
A espeleóloga explica que um dos problemas enfrentados pelo setor é a falta de legalização e licenciamento ambiental nessas áreas.
“Muitas cavernas foram abrindo e as pessoas indo sem atender as normas que a lei federal manda, que é fazer o Plano de Manejo. Atualmente, a única que tem o Plano de Manejo em Mato Grosso é a Gruta Lagoa Azul, que está interditada há anos. Nas cavernas de Chapada dos Guimarães, o plano de manejo ainda será iniciado. As abertas estão em sua maioria ilegais. Em Jaciara, o plano está em andamento na Gruta que Chora. Em Santa Terezinha também”, explica.
Reprodução
Gruta Lagoa Azul, em Nobres, é a única que tem o Plano de Manejo em Mato Grosso, mas está interditada há anos
A bióloga informou ainda que mais três cavernas em Nobres, no Parque Sesc Serra Azul, estão em processo final e devem ser legalizadas até o ano que vem: Gruta das Raízes, Pote de Diamante e Labirinto do Jacaré. Além disso, mais 10 cavernas localizadas em propriedades rurais podem ser abertas futuramente em Nobres. As discussões ainda estão em andamento com os proprietários da região.
Esse plano de manejo é um conjunto de estudos técnicos e científicos que devem ser realizados nas grutas e cavernas para que o turismo responsável possa ser realizado.
De acordo com a espeleóloga, o fato desses locais terem iniciado o plano é um sinal de que o turismo de cavernas em Mato Grosso está se desenvolvendo.
“Mato Grosso tem tudo para ser referência de turismo espeleológico. Estamos em frente a um rico patrimônio turístico que é pouco explorado. É necessário que esse segmento seja melhor desenvolvido no Estado, mas também que ele seja regularizado”, afirma.
Belezas das cavernas
Espeleóloga há mais de 20 anos, Natally conta os detalhes e as riquezas que o turismo de cavernas proporciona. “É um outro planeta. Tem vidas ali dentro que não tem aqui fora. Há tipos de vida que não têm olhos, porque lá dentro não precisa disso. É muito interessante. E é um ambiente totalmente frágil. Temos formações rochosas com formatos únicos, que depende do formato da caverna, do vento que corre ali dentro, do mineral. Temos também a calcita nas cavernas de calcário, que é um mineral que brilha parecido com o diamante e encanta os olhos de todos, assim as piscinas azuis formadas dentro delas”, relata.
Além disso, Natally explica que os monumentos tem uma grande carga histórica e cultural. “A Caverna Aroe Jari, mesmo, tem relação com os índios bororos com a caverna, pois antigamente eram feitos rituais de funeral e isso não está registrado em livro nenhum. É um lugar de energia bem forte. Na França, hoje, há cavernas utilizadas para terapia. Em Cocalinho, fazem ritual espiritual de cura e a cura está dentro da caverna. Então, tem muita coisa além desse cientifico natural que estamos acostumados. É fascinante e encantador”, conclui.
Fonte: RD News