Letícia Sabatella encerra filmagem e diz que deixa MT transformada

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Com locações em Mato Grosso, o longa-metragem “Religare”, dirigido por Marithê Azevedo e produzido pela Latitude Filmes, traz Letícia Sabatella em uma narrativa que entrelaça conflitos ambientais, cultura indígena e a busca por pertencimento. O filme marca a estreia de Dona Domingas, fundadora do grupo de siriri Flor Ribeirinha, no cinema.

Na tarde de segunda-feira (2), a equipe do filme recebeu jornalistas para uma conversa no São Gonçalo Beira Rio.

No filme Letícia Sabatella interpreta Eloá, uma mulher que, após enfrentar crises pessoais, reencontra suas raízes ao se reconectar com a mãe, vivida por Dona Domingas.

A líder cultural, que nunca havia atuado antes, descreveu a experiência como “um sonho”.

“Parece que no passado ela foi minha filha de verdade”, disse Dona Domingas sobre Letícia Sabatella. “Choramos muito no nosso primeiro encontro, aqui debaixo da figueira centenária do meu quintal. Senti como se ela fosse uma filha”.

“Dona Domingas tem uma energia que cura. Quando ela me abraçou, senti que estava sendo reconectada com algo muito maior. Minha personagem, Eloá, passa por isso no filme: ela encontra na cultura e na relação com a mãe uma força que a medicina tradicional não oferece. E descobre que a cura está na cultura, na dança, no contato com a terra”, afirmou Letícia.

“Aprendi que saúde não vem só de remédios, mas de dançar, cantar, estar em comunidade. Dona Domingas, aos 71 anos, é a prova disso”.

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A atriz, que ficou três semanas gravando na Capital, falou também sobre sua imersão na cultura local. “Eu só tinha vindo a Cuiabá rapidamente antes, para eventos. Dessa vez, pude sentir a cidade. E esse quintal da Flor Ribeirinha é um centro do Mundo”.

A preparação para o papel foi intensa e sensorial. “Fui entendendo Eloá aos poucos, como alguém que se distraiu com a vida urbana e precisa voltar ao essencial”, explicou.

Cultura

A atriz ainda contou um pouco de sua relação com a cultura e a culinária cuiabanas.

“Eu emagreci, estou mais saudável, a pele firmou. Comi pacu assado, farofa de banana, peixes que nunca tinha experimentado e que são super saborosos. Mas o que me pegou foi a mojica de pintado”, contou Letícia.

“A comida cuiabana tem uma suavidade, um jeito de preservar o sabor original dos ingredientes”.

Uma das cenas mais marcantes foi filmada no Rio Cuiabá. “A Dona Domingas remando na canoa, me levando… Aquilo era um ritual de verdade”, disse a atriz. “A Marithê [diretora] pensa o filme como uma cerimônia. Teve uma cena com o xamã Eric que fez um ritual na mata. Voltei pra casa transformada. O cinema tem esse poder”.

O processo do filme

Letícia Sabatella revelou que acompanhou o projeto por quase uma década, depois que a diretora lhe mostrou as primeiras ideias. “Fui vendo o roteiro crescer, ganhar prêmios, até se tornar realidade. Quando a gente gravava, eu dizia pra ela: ‘Parabéns, você conseguiu’”.

A atriz também elogiou o audivisual de Mato Grosso. “Precisamos contar essas histórias que vêm do centro do Brasil, que mostram quem somos de verdade. Se uma menina do siriri só vê filmes estrangeiros, como vai ter orgulho da sua cultura?”.

“É incrível quando a gente tem uma iniciativa que um governo que privilegia, que fortalece, entende a importância do audiovisual, do seu país, do seu povo e descentraliza esse poder […] e pulveriza essa produção cultural para todos os lugares. Então essa descentralização é superimportante e muito bem-vinda.”

A visão da diretora

Marithê Azevedo falou do caráter universal da história. “Não é um filme só sobre Cuiabá, mas sobre temas que ecoam em qualquer lugar: terra, ancestralidade, resistência”, afirmou. A cena final, gravada no rio, foi descrita como “um ritual”. “É a mãe guiando a filha como numa jornada junguiana”.

Antes de embarcar de volta para casa, a atriz disse que está indo embora diferente de quando chegou a Cuiabá. “Aprendi que progresso não pode apagar nossas raízes. Tem uma cena onde minha personagem diz: ‘A cidade me ensinou a correr, mas aqui eu reaprendi a respirar’. Isso resume tudo”.

“Eu fiquei encantada, estou muito, muito profundamente agradecida por ter tido essa oportunidade. Para mim é um respiro muito grande na minha vida. Vim e pisar nesse chão e encontrar pessoas tão adoráveis, tão delicadas, encontrar tanto amor e tanta arte, tanta cultura”.

“Religare” tem previsão de estreia em 2026. Enquanto isso, a equipe inicia as filmagens com outras duas personagens que completam o triângulo de histórias do filme. (Fonte: Midianews)