Justiça nega transferência de Arcanjo ao CCC e mantém prisão de “comendador”

Fonte:

O juiz Jorge Luís Tadeu Rodrigues, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, negou pedido de transferência para o Centro de Custódia de Cuiabá (CCC) de Noroel Braz da Costa Filho e João Arcanjo Ribeiro, presos no dia 29 de maio por força da Operação Mantus, da Delegacia Especializada de Fazenda e Crimes Contra a Administração Pública (Defaz), que revelou uma guerra pelo controle dos sorteios e premiações ligadas ao jogo do bicho em Mato Grosso. Ambos estão presos na Penitenciária Central do Estado.

Os pedidos de transferência ao CCC foram formulados na audiência de custódia, realizada no mesmo dia da prisão. Tanto Arcanjo como Noroel alegaram, entre outras coisas, que são ex-policiais civis e gozam do direito de prisão especial. “(…)Com essas considerações, indefiro o pedido de transferência formulado pelas Defesas de Noroel Braz da Costa Filho e João Arcanjo Ribeiro especialmente porque não cabe a este juízo interferir na administração penitenciária. (…)”, consta da decisão, cuja ação corre em segredo de Justiça.

Além deles, o outro chefe da contravenção e comendador Frederico Muller Coutinho, também teve pedido de revogação de prisão negado pelo mesmo juízo, juntamente com Rosalvo Ramos de Oliveira, Glaison Roberto Almeida da Cruz, José Carlos de Freitas, João Henrique Sales de Souza e Haroldo Clementino Souza. Os pedidos também correm em segredo de justiça e por isso não há muitos detalhes, mas a manutenção das preventivas do grupo FMC seguiram parecer do Ministério Público Estadual (MPE). “(…)Isto posto, em consonância com o parecer ministerial, indefiro os pleitos de revogação de prisão preventiva formulados por (…), mantendo na íntegra a decisão de fls. 702/761, cujos fundamentos acresço a esta. (…)”

MANTUS

A operação foi deflagrada pela Defaz e pela GCCO para o cumprimento de 63 mandados expedidos pelo juiz da Sétima Vara Criminal de Cuiabá, Jorge Luiz Tadeu. Essas ordens judiciais foram cumpridas em Cuiabá, Várzea Grande e em mais cinco cidades do interior do Estado. As investigações tiveram início em agosto de 2017 e conseguiram revelar duas organizações criminosas que comandam o jogo do bicho em Mato Grosso.

Uma dessas organizações seria a Colibri, liderada pelo ex-comendador João Arcanjo Ribeiro, e o genro, Giovanni Zem Rodrigues. A outra, a Ello/FMC, pertenceria a Frederico Muller Coutinho. Arcanjo sempre foi conhecido como O Comendador e é acusado de liderar o crime organizado em Mato Grosso durante as décadas de 1980 e 1990 e sonegação de milhões de reais em impostos, além de assassinatos, extorsão e diversos outros crimes, entre os quais, o de ser o mandante da execução do empresário Sávio Brandão no dia 30 de setembro de 2002.

Na Operação Mantus, policiais civis cumpriram 33 mandados de prisão e 30 de busca e apreensão. Uma lista com 20 nomes foi divulgada, com mandados expedidos para cumprimento em Cuiabá, mas o citado genro de Arcanjo, Giovanni Zen Rodrigues, foi preso no aeroporto de Guarulhos, São Paulo, já dentro de um avião.

A Polícia Civil também prendeu preventivamente duas contadoras da Ello FMC: Indineia Moraes Silva e Madeleinne Geremias de Barros. A polícia revelou que os mandados de prisão foram cumpridos em Cuiabá, Várzea Grande, Tangará da Serra (241 km de Cuiabá), Sinop (479 km de Cuiabá), Sorriso (397 km de Cuiabá), Campo Verde (141 km de Cuiabá), Rondonópolis (217 km de Cuiabá) e Rio de Janeiro.

Na casa de Arcanjo no bairro Boa Esperança, em Cuiabá, os policiais apreenderam mais de R$ 200 mil, relógios importados e documentos que, em tese, comprovam seu envolvimento direto na organização criminosa. Já na casa de Coutinho, a polícia apreendeu pouco mais de R$ 1,7 mil, dinheiro este que seria usado para despesas cotidianas, e relógios importados.

Para os policiais, é verdadeira a lenda urbana corrente nas ruas, de que João Arcanjo Ribeiro jamais deixou de controlar o jogo do bicho, mesmo quando esteve preso no Uruguai e depois no Brasil. No período de 15 anos em que ficou trancafiado, quem cuidaria dos negócios seria o genro Giovanni, mas o Comendador teria retomado a liderança da jogatina ainda no início do ano, quando foi solto. Agora, à moda máfia italiana: dividindo a liderança em família.

Coutinho, aliás, seria fã confesso de Arcanjo, de quem teria escolhido seguir os passos criminosos até mesmo na hora de obter título semelhante de comenda, ainda que outorgada pela Câmara Municipal e não pela Assembleia Legislativa, como no caso do seu inspirador. Por meio da obsessão pelo ídolo, Dom Frederico teria conseguido criar organização mais articulada e melhor estruturada.

Fonte: Folhamax