Através da lente de sua máquina fotográfica e usando seu amor por cartões-postais, o jornalista André Portocarrero conseguiu resgatar memórias e mostrar as mudanças que ocorreram em Cuiabá em uma série de imagens com antes e depois da cidade.
André conta que tudo começou quando ele ainda era estudante do curso de jornalismo na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Naquela época, no ano de 2013, precisava fazer um trabalho para uma das disciplinas quando surgiu a ideia.
O jornalista conta que tentou resgatar sua história e seu amor pela Capital por meio da atividade. Apesar de ter nascido em Campo Grande quando os estados ainda eram unidos, André afirma que sempre se considerou cuiabano e era fascinado pelos postais antigos da cidade.
Colecionador desde pequeno, ele baseou seu trabalho nos cartões feitos pelo fotógrafo Pierre Marret e os próprios registros da antiga Cuiabá inspiraram André a voltar nas regiões eternizadas pelo francês. Nessas andanças ele começou a fotografar também e, aos poucos, documentou as mudanças que ocorreram na Capital ao longo dos anos.
“As pessoas sentavam na porta de casa. A cidade era bucólica, acolhedora, tranquila, sem esses problemas de violência, correria, estresse… E comecei a voltar para esses lugares e voltar para aquela Cuiabá antiga, que estava na minha memória”, conta.
A maioria dos registros foram feitos em 2013 e em 2015, outros foram trabalhados agora em 2022. No entanto, o jornalista afirma que a essência da mensagem que é transmitida por essas imagens comparativas carrega o mesmo significado, uma Cuiabá transformada.
Em suas andanças pela cidade, André chegou a arriscar sua vida ao subir em lugares remotos para conseguir capturar o mesmo ângulo que uma vez, anos atrás, Marret também havia fotografado. Como quando subiu na torre da catedral ainda inacabada: “Olhei para baixo pensei que ia cair e morrer”, brinca.
A documentação trouxe à tona uma realidade que, segundo ele, o deixou em choque. Para ele já era de se esperar as mudanças, pois é algo natural, porém André notou que a Capital perdeu muito de sua essência.
Ele afirma que é notável que não houve uma preocupação de preservar as arquiteturas antigas, mas sim de fazer uma mudança completa. Situação que impossibilita que a história contada pelo concreto e pelas ruas permanecesse viva além da fotografia.
“A gente fica pesaroso de ver como a cidade já foi bonita, arborizada, tranquila, comparado no dia a dia”, diz.
“O que mais me chocou dessas reproduções foi a Avenida Getúlio Vargas, em dois momentos, uma focando a catedral e outra na subida, rumo ao Choppão, que é bem descaracterizado. Triste mesmo”, acrescenta.
Trabalho reconhecido
Apesar de tudo ter começado de forma despretensiosa, o trabalho de fazer o antes e depois de Cuiabá virou uma nova paixão na vida de Andrés, principalmente pela troca que ele pode fazer com outros cuiabanos antigos.
Ele relata que sempre viu que a Capital tinha um movimento muito grande de moradores que gostavam de contar as curiosidades sobre a cidade e abrir este debate sobre sobre seus 302 anos de existência.
Na época em que começou a fazer as fotos as redes sociais ainda estavam começando a se popularizar na região. André lembra que foi um dos primeiros que se inseriu no movimento de compartilhar a história na internet.
Não se denominando o primeiro, o jornalista afirma que foi um precursor desse resgate feito em grupos de WhatsApp e páginas de Facebook, o que hoje é tão popularizado. Com isso, sua documentação da cidade alcançou muitos moradores e trouxe seus feedbacks.
“As pessoas comentam que se sentem emocionadas por ver. É muito interessante porque desperta nas pessoas esse sentimento de amor pela cidade. É bem legal, gosto muito disso”, afirma.
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Já tendo o trabalho reconhecido pela população, agora André espera que os registros alcancem as autoridades. Isto porque o jornalista mantém a esperança de que os políticos comessem a preservar mais e não apenas transformar.
“Quero que através dessas imagens, quem olhar para o passado não tão distante e o presente possa ver o que Cuiabá já foi e o que pode voltar a ser, com o trabalho de cuidar da cidade”.
Foto: André Portocarrero
Planos futuros
Apesar de ter retornado para fotografar alguns lugares este ano, o jornalista afirma que desde 2015 não faz um trabalho mais dedicado às fotografias, justamente por causa das ocupações do dia a dia.
No entanto, André conta que tem planos para voltar a fotografar mais frequentemente e abrir uma página dedicada para arquivar todos esses comparativos, que deve se chamar “Cuiabá Antes e Depois”.
Ele ainda não tem uma previsão de quando as ideias vão sair do papel, mas se diz animado para voltar ao trabalho que começou há anos, principalmente pelo constante retorno positivo dos moradores de Cuiabá.
“É como falo, um momento no tempo, a foto desperta todo tipo de sentimento. É um arquivo mental, não só imaginário, por isso é muito importante”, finaliza.
Fonte: Midianews
