Curiosidade e possibilidade de ganhar dinheiro de forma rápida e fácil através do celular. Esses são alguns dos fatores que fazem com que apostadores sejam atraídos para o caça-níquel digital ‘Fortune Tiger’, conhecido popularmente como ‘Jogo do Tigrinho’, conforme elencou a psicóloga humanista Bianca Barbosa, inscrita no Conselho Regional de Psicologia sob o número 18/06965.
“Inicialmente, o que leva as pessoas a apostarem é a curiosidade diante da possibilidade de ganhar dinheiro de maneira rápida e fácil através do celular. Uma proposta tentadora… Cada um terá suas motivações pessoais mais específicas; alguns, porque estão precisando muito de dinheiro e veem ali uma oportunidade única; outros por mera curiosidade. A pandemia contribuiu para o aumento do vício nesse tipo de jogo, já que muitas pessoas tiveram sua fonte de renda afetada e se encontraram “presas” em casa, com um celular na mão e a possibilidade de fazer algum dinheiro”, explicou a profissional em entrevista ao HNT.
Segundo a profissional, além do prejuízo financeiro, os jogos de azar, como o ‘Tigrinho’, também causam vício similar à dependência química. Isso porque, assim como o uso de entorpecentes, o ato de apostar também libera os chamados “hormônios da felicidade”, como a dopamina.
“Os jogos de azar despertam o mecanismo do vício no cérebro. O vício está relacionado ao prazer e a um sistema de recompensa. No caso dos jogos de azar, quando a pessoa ganha uma aposta arriscada, ela sente uma grande satisfação e alívio, e mesmo perdendo outras apostas, sabendo da possibilidade de ganhar novamente e já tendo experienciado a satisfação que isso traz, ela continua apostando. Além de estar relacionado a substâncias, o vício também pode estar relacionado a um determinado comportamento. A perda do controle sobre o consumo de uma substância ou repetição de um comportamento nocivo pode ser configurado como um vício. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o vício uma doença física e psicoemocional”, conforme informou Bianca Barbosa.
A compulsão em apostas, assim como qualquer outra doença, também tem tratamento. No entanto, o processo de cura pode ser prejudicado caso o doente não aceite sua condição.
“O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) reconhece oficialmente o vício em jogos de azar como um transtorno. Nem sempre a pessoa viciada reconhece que tal comportamento se tornou um vício. É comum ter a ideia de que, quando quiserem, conseguem parar. Nesses casos, o tratamento se torna mais difícil pela resistência, caso não reconheçam os prejuízos que o vício traz à saúde e bem-estar. O tratamento deve incluir acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Passar menos tempo em frente às telas, mais tempo com família e amigos, praticar atividade física e conversar sobre as emoções podem ajudar no alívio da compulsão, mas buscar ajuda profissional é o primeiro passo”, afirmou Bianca Barbosa.
O QUE DIZ A LEI
O delegado Rogério Ferreira, da Delegacia do Consumidor (Decon), explica que os caça-níqueis digitais, como o Tigrinho, são chamados de jogos de azar, por dependerem da sorte para que o apostador ganhe, o que torna a prática ilegal. Isso difere o jogo das bets, por exemplo, que também cresceram nas redes sociais, mas a prática é legalizada.
“Algumas apostas estão sendo legalizadas no Brasil, como essas ‘bets’. Contudo, jogo de azar, é aquele sobre o qual o apostador não tem nenhum controle ou forma de ter um resultado que ele possa verificar. A aposta fica totalmente na sorte. É um jogo aleatório, que o apostador não tem controle sobre o resultado. Esse tipo de conduta é ilegal. É diferente das ‘bets’, porque o apostador aposta um determinado número de escanteios ou de cartões amarelos, vermelhos, por exemplo. No caso do jogo de azar, o resultado é totalmente aleatório”, diferenciou a autoridade policial.
Além da aleatoriedade, nos jogos de azar também não há qualquer garantia de que os resultados tenham sido idôneos, ou seja, sem manipulação ou garantia de pagamento do prêmio, em caso de vitória.
Mesmo sendo ilegal, na internet, não faltam relatos de pessoas que perderam tudo para o jogo de azar. No entanto, conforme o delegado Rogério Ferreira, a Decon ainda não recebeu nenhuma queixa de vítimas lesadas por esse tipo de aposta.
“Temos investigações em andamento, mas não há conhecimento de vítimas. A Delegacia do Consumidor não tem conhecimento de vítimas. Se alguma pessoa se sentir lesada, pode procurar a Delegacia do Consumidor”, ponderou Ferreira à reportagem.
O delegado orientou para que as pessoas que tenham sido lesadas por caça-níqueis digitais procurem a Decon para que um inquérito seja instaurado e os responsáveis, devidamente penalizados. (HNT)