A política é sempre recheada de fatos interessantes e inusitados, e nem sempre a lógica, a prudência e o bom senso são seguidos como instrumentos de uso ou convencimento. Certa vez, ocorreu uma eleição em Mato Grosso em que um candidato concorria a uma vaga na Assembleia Legislativa, assim como seu cunhado, que disputava pela mesma posição.
Convencido da vitória, ele era um dos adeptos do conhecido “já ganhou” e, sem dar muita importância à sensatez, proclamava a todos que já estava eleito.
Os carros de som passavam pelas ruas, anunciando o nome de vários candidatos, enquanto os comícios agitavam a cidade em diferentes pontos, criando uma atmosfera de grande animação. Vivia-se então um clima político fervoroso, repleto de discussões, distribuição de panfletos, e muros e postes cobertos de cartazes.
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As conversas acaloradas eram frequentes e, muitas vezes, se transformavam em ofensas e
disputas ferrenhas.
Conta-se que, em um desses dias, já às vésperas da eleição, o candidato chegou em casa e foi logo interpelado por sua esposa, que desejava saber sobre suas chances de vitória. Ele respondeu de imediato, com certa prepotência e excesso de confiança, que a vitória já estava garantida, que “era favas contadas”.
Na casa, havia três votos: o dele, o da esposa e o de Sinhá, a velha empregada, e todos votavam na mesma urna.
Porém, quando o resultado foi anunciado, o “vitorioso” foi fragorosamente derrotado. Furioso, ele chegou em casa acusando todos de traição. Aos gritos, lamentou não ter obtido sequer os três votos que contava naquela urna. Exasperado, acusou Sinhá de ter votado em outro candidato.
Para sua surpresa, a esposa então esclareceu que Sinhá, de fato, votou nele; no entanto, ela própria destinou seu voto ao irmão, que enfrentava uma situação eleitoral difícil, ao contrário dele, que já proclamava a vitória certa. Com essa revelação, a justiça foi, enfim, restabelecida.
*TEOCLES MACIEL é advogado, professor, escritor, compositor, ex-prefeito de Barão de Melgaço e foi deputado estadual na Assembléia Constituinte de Mato Grosso (1988-89).
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