Infectologista reforça alerta da OMS e recomenda uso de máscaras contra a varíola

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Com o avanço dos casos de varíola, do vírus monkeypox, o uso de máscaras não pode ser relaxado, conforme alerta a infectologista do Hospital Universitário Júlio Müller, Márcia Hueb.

Professora de infectologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), a médica relembra que a rápida expansão da doença fez com que a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitisse um alerta de emergência em torno do vírus.

Ao Gazeta Digital, a médica explicou como se dá a transmissão da doença, esclareceu sobre a situação atual do vírus em Mato Grosso e falou sobre a letalidade da infecção. Confira a entrevista na íntegra a seguir.

GD – Quais as principais características da infecção pela nova varíola?

MH – Primeiramente, a doença não deve ter seu nome associado aos macacos porque eles não são reservatórios da doença, apenas os vírus foram inicialmente identificados em macacos de laboratório na década de 50. Eles são suscetíveis à doença, como nós humanos. É uma infecção recentemente descrita. Portanto, conceitos que temos hoje podem não ser válidos amanhã. É uma doença causada por um vírus semelhante ao da varíola humana do passado, mas menos transmissível e menos letal.

GD – Essa doença é tão letal quanto à covid-19? O quanto devemos nos preocupar?

MH – São doenças muito diferentes. A covid-19 é predominantemente respiratória e de transmissão aérea por pequenas partículas suspensas no ar, enquanto a varíola é transmitida por contato físico íntimo ou próximo com lesões e secreções; menos frequentemente por gotículas da via respiratória. Essa diferença faz a covid ser de mais rápida disseminação e daí ter se tornado essa pandemia sem precedentes. A varíola pode até ter uma disseminação rápida a depender da história dos contatos, ou seja, se múltiplos contatos, muitos são infectados. Mas os focos de doença tendem a ser mais limitados.

GD – Quais as formas de transmissão? Passa pelo ar?

MH – A transmissão inter-humana ocorre principalmente por contato próximo ou íntimo com secreções advindas de bolhas ou pústulas. Transmite pelo ar por gotículas, o que nos faz recomendar manter o uso das máscaras e todas as recomendações higiênicas: manter as mãos limpas com lavagem ou álcool, limpeza das superfícies.

GD – Existe algum marcador específico que torne um determinado grupo de pessoas mais suscetível à infecção?

MH – Não temos um marcador biológico conhecido relacionado à suscetibilidade e temos que ser cuidadosos em atribuir a qualquer comportamento específico.

GD – É possível que a varíola possa gerar outra situação de crise sanitária a exemplo da covid-19?

MH – Não na mesma proporção, pelas características de transmissão já descritas. Mas já há uma alerta de emergência pela OMS, reconhecendo o caráter expansivo.

GD – Há vacina para a varíola? Caso sim, quais os entraves para uma ampla campanha de imunização nacional?

MH – Sim, existe uma vacina já em produção. É considerada uma vacina adequada para bloqueio de transmissão. Ou seja, a partir de um contato direto, com exposição de risco, a vacina poderia ser recomendada. Contudo, não temos informações se o governo brasileiro está em negociação para a compra dessas vacinas.

GD – É possível falar em quais fatores tornam cenários de crise sanitária cada vez mais comuns?

MH – A facilidade de deslocamento, inclusive entre países diferentes, seria um fator aceito. Pode ser adiada a entrada de um novo patógeno, mas dificilmente serviria a um bloqueio total. Mudanças ambientais, como o desmatamento extenso, pode trazer patógenos diferentes.

Fonte: Gazeta Digital