Com previsões alarmantes indicando uma seca histórica iminente no Pantanal este ano, tanto os institutos quanto as Organizações Não Governamentais (ONGs) necessitam se preparar para enfrentar os desafios que acompanham esse fenômeno, que incluem não apenas a escassez de água, mas também a ameaça de incêndios recorrentes no bioma. Em uma entrevista exclusiva concedida ao HNT, Cibele Ribeiro, superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Mato Grosso, delineou as medidas que a instituição planeja adotar.
“Quando a gente fala em Pantanal, o Ibama atua como bioma, estratégias de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Então, para este ano de 2024, nós temos já uma brigada planejada, que é de pronto emprego, ou seja, ela está pronta para poder fazer esse combate em Corumbá e, no Mato Grosso, temos as tratativas iniciadas com a Funai para podermos fazer uma brigada no nosso Pantanal, mais especificamente na terra indígena Guató. Então, essas são as nossas estratégias em relação às queimadas. A brigada de pronto-emprego tem um efetivo maior e, aqui, provavelmente devem ser 15 brigadistas que vamos contratar”, explicou a superintendente.
De acordo com dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB), a crise hídrica prevista para este ano é motivo de preocupação para as autoridades, uma vez que a bacia do rio Paraguai, que abrange a região, tem registrado precipitações abaixo da média. Até março, o déficit acumulado era de 270 mm e, com o fim do período chuvoso se aproximando, estima-se que os níveis na região estejam abaixo do observado nos anos de 2020 e 2021.
Quando questionada sobre um plano de mitigação para evitar a repetição das queimadas históricas que cobriram o céu de Cuiabá de fumaça em 2020, Cibele afirmou que há um protocolo de intenções assinado e uma equipe do Ibama está atualmente no Pantanal realizando a pré-verificação de estruturas e elaborando uma estratégia especialmente para o resgate de animais.
“Então, quando a gente pensa num desastre como esse, o que o Ibama tá planejando? Essas estratégias, logicamente, da contratação das brigadas, mas também planejando estratégias para o resgate de fauna, se precisarmos. Então, a gente tá com a equipe, inclusive, essa semana lá, para poder fazer a pré-verificação de estruturas, principalmente das fazendas que nos deram apoio nos anos anteriores, para a gente traçar uma logística mesmo de resgate e tentativa lá de remoção desses animais, que, como a transpantaneira é muito longa, é muito desgastante para os bichos. A ideia é a gente instalar pelo menos alguns ambulatórios que sejam móveis ou pensando em coisas mais para médio e longo prazo, em estratégia de conversão de multa para a gente fazer aquisição desses insumos, para garantir a instalação desses ambulatórios de repente para daqui a uns dois anos”, detalhou Cibele.
A superintendente enfatizou a importância da educação ambiental como uma ferramenta crucial para preparar as pessoas diante da crise climática global, capacitando-as para lidar com a crescente frequência de eventos climáticos extremos.
“Estamos sendo orientados pela coordenação do pré-fogo nacional para fazer o planejamentos também de educação ambiental, que é super necessário, o apoio principalmente no caso do Pantanal da população ribeirinha. Então, essas são estratégias que a gente tem definido, mas que dependem muito da instalação das brigadas”, defendeu Cibele.
Cibele também ressaltou o papel do desmatamento ilegal no agravamento da crise climática global, destacando a importância da preservação ambiental para as futuras gerações.
“A crise climática tem total conexão com o desmatamento na Amazônia, a gente sabe disso. […] Existe uma cultura de que a gente precisa desflorestar para poder produzir e o valor que a floresta tem não é um valor que as pessoas ainda enxergam como algo a ser explorado. A gente sabe que as estratégias de manejo florestal ou de pagamento por serviço ambiental são super importantes. Então, é essa questão de mudança mesmo de paradigma. O que é cultura hoje, que seria a agricultura e a pecuária, para essa cultura da floresta em pé. E uma outra estratégia com certeza é a educação ambiental. Eu imagino que são sementes que a gente vai plantar nas nossas crianças e nos adolescentes que vão mudar o mundo. Então, parece até utópico, mas é o necessário”, finalizou Cibele. (HNT)