A guerra da Rússia contra a Ucrânia pode gerar um “efeito dominó” na economia mato-grossense. Além do agronegócio, que é diretamente impactado pela falta de insumos, o setor do comércio também deverá sentir os efeitos do conflito no Leste europeu, com retração de investimentos, menor geração de empregos e diminuição na arrecadação de impostos. A avaliação é feita por José Wenceslau de Souza Júnior, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Mato Grosso (Fecomércio-MT).
Desde o início da invasão na Ucrânia, várias sanções foram impostas à Rússia e países aliados, o que inclui o bloqueio de importações. Com isso, os insumos que agora não podem mais ser comprados do país governado por Vladimir Putin, tiveram aumento de preço por outros fornecedores. No caso do Brasil, mais especificamente Mato Grosso, o destaque vai para o fertilizante usado pelos produtores nas lavouras, com destaque para soja, milho e algodão.
O petróleo, de onde é obtido o óleo diesel, utilizado na agricultura e no transporte de mercadorias, tem a Rússia como uma grande produtora e, consequentemente, também uma grande exportadora. Com isso, o preço já está sofrendo pressão devido à escassez causada pela guerra, elevando o custo de produção do agronegócio. O resultado disso é o impacto a vida do consumidor.
“Eu tenho dito sempre que onde o agronegócio vai bem, o comércio vai melhor ainda. Quando nós olhamos números de contribuição do agronegócio, ele contribui pouco em arrecadação de ICMS para o estado de Mato Grosso, em função da Lei Kandir. Toda a exportação dos nossos produtos, as commodities, nós não pagamos ICMS. Mas, indiretamente, o comércio e a população do estado do Mato Grosso é beneficiada pelo agro, porque toda essa exportação gera circulação de dinheiro e esse dinheiro acaba caindo dentro do comércio”, explica José Wenceslau.
Segundo o presidente da Fecomércio, o setor do comércio vinha em um bom ritmo, se recuperando da crise causada pela pandemia de covid-19. Porém, com a guerra o cenário deve mudar. A Federação está alertando os empresários para que repensem os investimentos, porque, se a guerra se prolongar, o Estado deve sofrer um grande impacto.
“A grande preocupação nossa com o comércio é justamente a retração, porque nós estamos em um momento de expansão do comércio, um momento muito bom que estamos vivendo na economia do estado de Mato Grosso. E com esta guerra, esta dificuldade de insumos e o aumento dos preços, o empresário terá que calcular muito seus investimentos, calcular muito a expansão dos seus negócios. E envolve geração de emprego, geração de impostos, então vem tudo em cadeia”.
Até mesmo o dólar, que vinha apresentando uma queda, com a guerra já começou a ter aumento, impactando assim o preço dos combustíveis.
“Quando os preços sobem, o poder de compra do consumidor cai muito e isso reduz as nossas vendas. Então que o empresário esteja atento ao mercado, esteja atento aos noticiários para que faça a sua programação, que continue com a sua empresa aberta, que continue contratando e nós queremos que continue vendendo muito, mas que não se iluda, o mercado internacional, essa guerra que está tão longe do estado de Mato Grosso e afeta nós diretamente através do agronegócio”, disse José Wenceslau.
Alternativas
Mato Grosso, considerado o celeiro do Brasil e até do mundo depende muito de fertilizantes e outros insumos oriundos da Ásia e da Rússia. O Ministério da Agricultura já afirmou que tem estoque suficiente até para o mês de outubro. A preocupação agora é com a safra 2022/2023, cujos insumos ainda não foram comprados.
O presidente da Fecomércio, considera que a situação é sim séria e considerou a fala do ex-governador e ex-ministro da Agricultura, Blairo Maggi, de que não iria faltar o insumo, como uma forma de acalmar o produtor regional, que está perdido no amontoado de informações que vêm do Leste Europeu.
“70% do que nós importamos para tocar o nosso agronegócio, que são os defensivos agrícolas, vem da Ásia e, principalmente, da Rússia. Então neste momento de agora, que nós estamos acabando a colheita de uma safra e já plantando a safrinha, estes insumos já foram comprados no ano passado”, disse.
José Wenceslau ainda afirmou que o Governo Federal tem buscado outras alternativas para suprir a demanda por insumos no Brasil. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, vai ao Canadá procurar opções para compra de insumos. Ele eligiou os esforços para solucionar o problema, mas avalia que isso não deve ser suficiente.
“O volume que nós consumimos de insumos agrícolas é muito grande e só o Canadá não consegue suprir isso, então temos que procurar outros países. Mas todos sabem que quando há uma procura muito grande no mercado, o preço sobe, então isso acaba impactando no bolso de todos nós mato-grossenses”.
“O impacto imediato é no agro, mas o grande contribuinte no estado do Mato Grosso, falando de ICMS, é o comércio. Mas indiretamente o agro alimenta o comércio, esta é a grande preocupação deste impacto. O comércio do estado do Mato Grosso está em um ritmo muito bom, em função da explosão do preço do agro, a soja explodiu de preço, o milho, a pluma de algodão, a nossa proteína animal. Então Mato Grosso gira em torno do agronegócio”, finalizou o presidente da Fecomércio.
Fonte: RD News