Símbolo de luta e resistência contra a escravidão e representatividade da força da mulher negra, Mãe Bonifácia terá sua história contada nas telas do cinema. A personagem histórica será retratada pela renomada atriz Zezé Motta em longa-metragem que levará seu nome e as gravações estão previstas para iniciar ainda este ano.
Com produção executiva de Rosivania Reichert, da Produtora Artimagem e direção de Salles Fernandes, o filme promete ser uma obra marcante e a expectativa é de movimentar o cenário cultural e audiovisual de Mato Grosso. Aprovado em 2024 no Edital de Produção Audiovisual da SECEL-MT e financiado pela Lei de Emergência Cultural Paulo Gustavo, o filme conta também com o apoio da Prefeitura de Sorriso, por meio da Secretaria Municipal de Cultura.
O Gazeta Digital conversou com o diretor do filme, o cineasta Salles Fernandes, já reconhecido por curtas premiados como “O Minhocão do Pari – A Origem da Lenda” e “Tereza de Benguela” que abordam temas também muito caros a cultura e história regional.
Gazeta Digital – Mãe Bonifácia, assim como outras mulheres que fazem parte da história de Mato Grosso, é uma figura extraordinária para sua época e possui uma carga quase folclórica, que mescla a história da cultura regional com uma força da mulher que luta pelos oprimidos. Como surgiu a ideia de fazer um longa-metragem sobre ela?
Salles Fernandes – Gostamos de dar destaque a figuras do estado de Mato Grosso, porque são muito importantes para contarmos realmente quem foram, quem realmente lutou pelas pessoas, então tivemos a ideia de resgatar. A ideia do filme é um resgate à história de Mato Grosso, que poucas pessoas sabem da sua própria história.
Gazeta Digital – Foi anunciado que Zezé Motta fará o papel da protagonista. Como a produção chegou ao nome da atriz e como foi esse processo de trazer uma intérprete tão experiente para a produção?
Salles Fernandes – Quando pensamos em Bonifácia, a gente logo vê quem seria a intérprete. E não veio outra pessoa na nossa cabeça a não ser Zezé Motta. Ficamos muito felizes, assinamos contrato com ela, a gente andou bem no processo com o empresário, e não há nada melhor do que a Zezé Mota para ser a protagonista dessa história. Além de ser uma figura muito talentosa, é uma mulher que vem sempre defendendo o movimento negro, as figuras importantes, as mulheres. A Zezé, para a gente, a sua história já é um currículo fantástico.
Gazeta Digital – Em seu histórico, você já tem outras produções que abordam temas regionais no currículo, como é o caso de O Minhocão do Pari – A Origem da Lenda” e “Tereza de Benguela”, que também resgatam essa cultura mato-grossense. De onde vem essa vontade de colocar a história do nosso estado nas telas e como fazer cinema no cerrado?
Salles Fernandes – A vontade que a gente tem de colocar esses personagens na nossa história, essas figuras históricas, é justamente fazer com que o próprio mato-grossense e o brasileiro saibam dessas pessoas e histórias. Histórias que estão ali esperando serem contadas. Estamos provocando, dando luz a essa história tão rica que o nosso estado tem, através do cinema. Um material que possa ser exibido para todos.
Gazeta Digital – Mãe Bonifácia foi uma negra alforriada que auxiliava outros escravos a encontrarem refúgio no quilombo. Embora existam documentos que comprovem que ela de fato existiu, inclusive uma certidão de óbito como já foi noticiado pelo Gazeta Digital no ano passado, muitos ainda têm uma visão de que ela seria uma figura fruto de lendas antigas. Quais aspectos da história de Mãe Bonifácia você considera mais relevantes para serem contados no cinema e como pretende equilibrar o real com a ficção?
Salles Fernandes – Mãe Bonifácia ajudou muita gente a ganhar liberdade, então ela lutou por isso e também curou muita gente. Foi maravilhoso fazer um processo de pesquisa em cima do legado dela, porque a gente viu uma figura fantástica, que mulher incrível que Mato Grosso gerou.
A discussão de existe ou não existe, eu acredito que ela existiu. Tem pessoas que tendem a apagar essas pessoas, o Brasil infelizmente tem esse legado de apagar a sua própria história, mas eu não tenho dúvidas nenhuma que Mãe Bonifácia existiu. A questão do registro de óbito é mais uma prova. Vamos focar a história no aspecto transmitido pela oratória, contado de geração para geração, e também vai ter a nossa visão, uma questão de ficção.
Gazeta Digital – Como você imagina que o filme influenciará o entendimento e o reconhecimento da figura de Mãe Bonifácia, não apenas em Mato Grosso, mas no Brasil como um todo? Qual mensagem você espera que o público leve ao assistir o filme?
Salles Fernandes – A gente espera, acredita e sonha que o nosso filme se torne uma referência histórica. Eu tenho uma felicidade muito grande de Tereza de Benguela ser usado em universidades, faculdades pedem e a gente cede feliz da vida porque a história vai ser contada. Espero justamente que isso aconteça e a mensagem que eu tenho para as pessoas é que acreditem, valorizem as figuras femininas do nosso Brasil. Temos mulheres incríveis e trazer isso, trazer uma figura do passado, uma figura feminina tão corajosa como a Mãe Bonifácia, eu acho que nos anima e nos dá muita vontade de continuar contando essas histórias. (Fonte: Gazeta Digital)