No mundo animal, o calor e a seca extremos de 2024 se materializaram na forma de capivaras louras. No Pantanal do Mato Grosso, e mesmo em parques de Cuiabá, algumas dessas roedoras semiaquáticas, conhecidas pela pelagem castanha ou ruiva, ganharam uma tonalidade amarelo-claro e dourada. As causas foram a exposição ao sol sem misericórdia por meses a fio, explicam cientistas.
O ecólogo Juliano Bogoni, professor da Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat) e da Rede de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal (Bionorte), diz que a lourice das capivaras expõe os efeitos da inclemência do clima sobre a fauna.
“A mudança de cor é resultado da necessidade dos animais de se adaptarem ao ambiente inóspito. Mas a seca e o calor têm um impacto fisiológico muito maior do que isso. Geram perdas metabólicas, os animais precisam fazer alterações em sua termorregulação. Tendem a mudar o horário de atividade e ficar mais noturnos. Diminui a disponibilidade de alimentos e há mais estresse térmico,” frisa Bogoni.
E ser loura em terra de onça é sinônimo de problema. Bogoni diz que as louras são mais chamativas que suas irmãs castanhas e, assim, vulneráveis à sua maior predadora. A mudança de cor não é permanente. A volta da chuva e uma menor exposição ao Sol podem deixar as capivaras ruivas e castanhas de novo. Porém, à medida que a mudança do clima avança e transforma ecossistemas, os animais perdem habitats.
Para as capivaras e todos os bichos do Pantanal, as chuvas são questão de sobrevivência. Sem elas, não há cheia, e sem cheia, não existe Pantanal.
“A seca prolongada e extrema provoca mudanças profundas na fauna adaptada à água,” diz Bogoni.
Ainda vai demorar para que muitas das áreas pantaneiras castigadas pela seca inundem, afirma Ibraim Fantin, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).
“Está chovendo agora e algumas áreas já estão com água, mas viemos de um período muito seco. Por isso, mesmo que chova na média, não será tão rápido,” explica Fantin.
Ainda louras dos rigores da primavera passada, as capivaras esperam por dias melhores trazidos pelas chuvas de verão.
Fonte: O Globo/Folhamax