O esquema de uma facção criminosa para jogos de azar por meio de “raspadinhas”, comercializadas em mais de 20 cidades de Mato Grosso e desarticulado na Operação Raspadinha do Crime, na última terça-feira (14), era divulgado por influenciadores digitais.
Mais de 80% dos lucros arrecadados eram revertidos para o financiamento das atividades da facção criminosa Comando Vermelho.
Um dos líderes da facção em Cuiabá, Ederson Xavier de Lima, o “Boré”, foi dos principais alvos da Polícia Civil de Mato Grosso.
Boré foi preso na Praia de Piratininga, em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, no dia 28 de setembro.
Atualmente detido na Penitenciária Central do Estado (PCE), na Capital, o bandido foi alvo de um novo mandado de prisão preventiva.
A engrenagem criada pela facção criminosa foi desarticulada após investigações conduzidas pela Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) e pela Delegacia Especializada de Repressão ao Crime Organizado (Draco), da Polícia Civil de Mato Grosso, em conjunto com a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco).
As investigações identificaram que os faccionados instalaram núcleos regionais nas cidades onde eram revendidas as raspadinhas, coordenados pelos próprios integrantes do grupo criminoso, chamados de “irmãos da facção”, responsáveis diretos pelos pontos, que eram identificados como “quebradas”.
Parte dos envolvidos no esquema atuava como influenciadores digitais e pequenos empreendedores, promovendo os jogos em redes sociais e propagando a falsa ideia de que se tratava de uma ação promocional legítima.
O ESQUEMA – Foram identificados membros do grupo que desempenhavam funções cruciais para a sustentação da atividade ilícita, atuando na distribuição dos bilhetes aos comércios e fazedo a arrecadação dos valores, além de promover o controle contábil, a prestação de contas e a remessa dos valores ao núcleo superior.
A divisão dos lucros seguia a seguinte proporção: 10% ficavam com o distribuidor local (irmão da quebrada), 10% eram repassados ao comerciante revendedor e os 80% restantes eram encaminhados ao núcleo financeiro da facção, pelos “irmãos” que realizavam a transferência para a conta “laranja” indicada após o fechamento mensal.
Também era função dos “irmãos” intimidar os comerciantes, ou até mesmo acionar a “disciplina” da facção, sempre que houvesse descumprimento das normas ou ameaças à regularidade do “projeto”.
Assim, os núcleos regionais e locais constituíam a base territorial da estrutura criminosa, assegurando sua capilaridade, lucratividade e a manutenção da ordem imposta pela facção.
DIVULGAÇÃO – A primeira publicação oficial da “Raspa Brasil” ocorreu em 23 de março de 2025, por meio do perfil no Instagram criado especificamente para divulgação do projeto.
Percebeu-se, em seguida, o crescimento exponencial do seu alcance no interior de Mato Grosso.
Para divulgação e expansão da atividade ilícita, a facção criminosa utilizava influenciadores digitais, inclusive menores de idade, que eram recrutados para divulgar os bilhetes nas redes sociais, criando uma narrativa de normalidade, sorte e êxito financeiro.
Diversos jovens, com grande número de seguidores nas redes sociais, foram cooptados pelo grupo criminoso para divulgar vídeos de supostos prêmios, normalizando a prática e expandindo o alcance da “marca” em toda a internet.
Comerciantes e donos de bares e distribuidoras também atuavam na divulgação e expansão do produto no Estado.
Uma jovem influencer se identificava como “representante” do projeto, responsável por gravar dezenas de vídeos promovendo o jogo e associando sua imagem à iniciativa.
A estratégia buscava reduzir a percepção de ilicitude, mascarar o vínculo com o crime organizado e ampliar a aceitação social do produto, convertendo um mecanismo de financiamento da facção em uma suposta ação promocional legítima.
DISTRIBUIÇÃO E PRÊMIOS – As remessas de raspadinhas eram enviadas por transportadoras comuns, acompanhadas de notas de carga simuladas para disfarçar o conteúdo dos malotes.
A unidade era comercializada pelo valor de R$ 5, com promessas de premiação de até R$ 50 mil.
O pagamento de prêmios era realizado por meio de um QR Code, que direcionava os ganhadores a um número de WhatsApp, onde ocorria a comunicação direta para o resgate dos supostos prêmios.
Apesar dos valores prometidos, não foi identificado, no material apreendido durante diversas ações e operações da Polícia Civil, nenhum prêmio superior a R$ 100. (Diário de Cuiabá)