A jovem foi atingida por um tiro nas costas, que perfurou o pulmão e o coração, quando estava em um carro com seu namorado e mais duas pessoas voltando de uma festa no bairro Duque de Caxias, na madrugada de 18 de dezembro de 2016.
“Ela saiu apenas para comemorar, porque tinha terminado a faculdade, depois de quatro anos de luta. Minha filha era minha amiga, minha conselheira. Não tem um dia que eu acordo e que não tenha a minha Adriele na minha mente”, afirma.
No inquérito instaurado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) o autor do crime foi indiciado ainda por tentativa de homicídio qualificado contra as outras três pessoas que estavam no veículo com a vítima.
Gonçalina diz que se preocupa, pois a justiça só é feita quando as pessoas têm dinheiro.
“Eu espero que a Justiça faça o que tem que fazer, sem dó, porque ele não teve. A justiça tem que ser feita, não interessa quem ele seja. Eu não tenho nome, porque não sou pobre, não vou descansar enquanto não tiver justiça. Não vou ter ela de volta, mas pelo menos vou saber que quem fez está pagando”, diz a mãe.
A arma usada no crime foi uma pistola de calibre 40, de uso restrito das Forças Armadas.
Investigação
Após quatro anos de diligências para confirmar a identidade do veículo que era conduzido pela pessoa que realizou os disparos, assim como cruzamento de informações, análise de inúmeras câmeras de segurança, depoimentos e laudos, a equipe do delegado Caio Fernando Albuquerque conseguiu fechar a linha de investigação e coletar provas que levaram ao autor dos disparos.
Na última semana, o delegado encaminhou representação pela prisão preventiva do investigado ao juízo da 12ª Vara Criminal de Cuiabá, que indeferiu o pedido. “Condutas como essa, notadamente perpetradas por quem se espera o contrário, são inaceitáveis; uma jovem perdeu a vida sem dar o mínimo motivo, e, por muito pouco, seus amigos não tiveram o mesmo triste fim. Uma mãe, até hoje, peregrina à Polícia Civil e Ministério Público, suplicando a apuração do ocorrido com a filha”, destacou Caio Albuquerque.
Voltando de uma festa
Adriele Munis e o namorado foram a uma festa no bairro Duque de Caxias, na noite de 17 para 18 de dezembro. Após o fim da confraternização, o casal foi embora com dois amigos, um deles o aniversariante.
Indícios e análise de câmeras, além de depoimentos coletados, apontaram que o veículo em que estava Adriele trafegava na Avenida Isaac Póvoas e no cruzamento com a Avenida Presidente Marques, houve a colisão entre os dois carros e uma discussão entre os ocupantes dos dois veículos e a partir desse ponto inicia-se a perseguição.
Os dois veículos passaram pelo cruzamento com a Rua Barão de Melgaço, ao lado da Praça Rachid Jaudy, quando então ocorreram os três disparos vindos do Honda Fit, que atingem o Palio na parte traseira e alveja Adriele nas costas.
Com a morte de Adriele no Pronto-socorro de Cuiabá, a DHPP iniciou a investigação do homicídio e começou as diligências para reunir informações que pudessem chegar ao autor dos disparos. Diante das primeiras informações coletadas, além de depoimentos iniciais dos ocupantes do Pálio, a equipe de investigação traçou uma linha que chegou a um possível suspeito, que depois não se confirmou.
Negativa em depoimento
Em 2019, a DHPP voltou a realizar novas diligências cruzando informações de todos os veículos que passaram no horário próximo e pelo mesmo trecho onde os dois carros envolvidos transitaram. Além disso, a equipe de investigação coletou dados e imagens em uma boate na Avenida Isaac Póvoas de frequentadores que portavam armas de fogo na data do crime. E as informações da análise de balística para chegar ao tipo de arma compatível com a munição encontrada no corpo de Adriele (calibre .40), compatível com pistola da marca Imbel, levaram a Polícia Civil a uma pessoa que esteve na boate na madrugada em que ocorreu o crime, portando uma arma de fogo, que posteriormente, após outras diligências, foi constatado que o registro estava em nome da Polícia Militar do Estado.
Com a localização da pistola, a Polícia Civil requisitou exame de confronto balístico à Politec, que constatou que a munição que atingiu Adriele foi disparada da arma em questão. A partir dessa informação, chegou-se ao nome da pessoa que estava com a arma acautelada.
Em um primeiro depoimento na DHPP, o investigado negou qualquer das informações apuradas nas investigações que o colocavam na boate, portando uma arma de fogo compatível com a que fez o disparo que matou Adriele, assim como das provas periciais e no deslocamento do veículo no trajeto feito pelo Pálio em que estavam as vítimas.
Dias depois após o primeiro depoimento, o investigado, diante das informações que lhe foram apresentadas, solicitou um novo interrogatório, onde confessou a autoria dos disparos, mas alegou que agiu em legítima defesa. Ele declarou que atirou contra o carro onde estava Adriele porque sofreu uma tentativa de assalto. Contudo, as provas coletadas comprovam que em momento algum as vítimas esboçaram qualquer ato que pusesse em perigo de vida o casal que estava no Honda Fit (investigado e sua namorada), assim como os ocupantes do Pálio não desceram do veículo durante o trajeto apurado.
Pessoas que estavam com o investigado na noite em que esteve na boate e depois saíram junto com ele, em veículo separado, mas acompanhando o mesmo trajeto, também foram ouvidas e as informações dementem a declaração do autor dos disparos.
Diante de todo o conjunto probatório coletado nas investigações, indicando a materialidade do homicídio doloso consumado e homicídios dolosos tentados, o delegado Caio Albuquerque representou pela prisão preventiva do investigado. As investigações apontaram ainda indícios de que após a colisão de trânsito e discussão, o investigado seguiu no encalço do veículo em que as vítimas estavam, até que tivesse condições para fazer os disparos certeiros, o que indica a intenção de matar.