Engraxate perde ponto após 60 anos de trabalho em Cuiabá

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Engraxate mais famoso e antigo de Cuiabá completa 60 anos de profissão sem sapatos para polir. Há quase dois anos, Aquilino Alves da Silva, 72, foi “despejado” do seu local de trabalho com a promessa de que teria um novo espaço para receber os clientes, mas isso não aconteceu. De tanto cobrar respostas, já recebeu até ameaça de morte.

Por 6 décadas, o profissional manteve seu ponto no calçadão de frente à praça da República, quando o centro da cidade se resumia àquelas ruas estreitas e não havia transporte coletivo. O homem viu o desenvolvimento da cidade e com ela a destruição da profissão.

Com a construção da Estação Alencastro, a cobertura sobre as cadeiras do engraxate foi retirado. A justificativa era de que a avenida Getúlio Vargas, naquele trecho, seria aumentada para o melhor trânsito do ônibus, no entanto a tal obra não foi feita, assim como a cobertura das cadeiras do engraxate não foi devolvida.

“Eu já cansei de pedir. Me prometeram um ponto novo e até agora nada. Eu venho aqui, às vezes, para ver se aparece algum sapato para engraxar. Como meu ponto foi arrancado, meus clientes também sumiram. Eles acham que não venho aqui mais”, conta o idoso.

Aquilino conta que em dias bons chegava a engraxar 3 a 4 pares de sapatos por dia. Cada par custa R$ 15, mas agora há semanas que não aparece um cliente.

“Tem semana que eu venho aqui e não aparece ninguém. Hoje mesmo eu estou precisando muito de dinheiro, vim aqui, mas não apareceu ninguém”, afirma.

O engraxate relata que tem um cliente fiel que leva os sapatos para Aquilino em sua casa e depois busca quando estão prontos. “Ele é o que sempre leva. Eu gosto que vão na minha casa. Quando estava no ponto eu conversava com muita gente. É muito ruim ficar em casa, sozinho”, relata.

Hoje o homem que tem problemas de saúde e há 10 anos perdeu uma perna sobrevive com o salário mínimo que recebe de auxílio doença. A renda é usada para pagar aluguel, comida, despesas domésticas.

De tanto cobrar resposta sobre o espaço prometido, Aquilino conta que já sofreu até ameaça de morte para “parar de incomodar”. “A pessoa me falou que agora me dão atenção, mas se eu morrer ninguém vai lembrar. Isso é uma ameaça, não é? Para mim foi”, conta.

Enquanto havia cobertura no ponto, Aquilino dividia o espaço com outro engraxate, mas este não suportou as adversidades e abandonou a profissão.

“Não tem condição de ficar aqui. É muito sol ou chove, além disso tem os pombos que ficam aqui fazendo sujeira na cabeça das pessoas”, completa.

Outro lado

A Prefeitura de Cuiabá entrou em contato com o Gazeta Digital e explicou que com a requalificação da Praça Alencastro todos os engraxates foram retirados do local. A Prefeitura disse que por vezes buscou diágolo com o senhor Aquilino para que ele pudesse trabalhar normalmente na Praça da República. No entanto, ele negou a mudança para o local. Segundo a Prefeitura, até o espaço já foi mostrado ao engraxate, mas ele se negou a mudar para o endereço que fica em frente ao atual.

Fonte: Gazeta Digital