“Resolvi denunciar porque não quero morrer, eu não vou morrer”. Este é o desabafo de Eliana Reis, empresária de 55 anos, que alega ter sofrido agressões físicas do marido, o também empresário Michel Helio Prado de Camargo Libos, de 49 anos. O caso aconteceu no dia 2 de abril, dentro do restaurante administrado pelo casal, o Pontal do Manso, em Chapada dos Guimarães. Preso em flagrante, ele diz vítima de uma armação criada por Eliana.
Ainda segundo Eliana, o marido sempre andava com uma pistola, e durante a discussão, ainda teria tentado sacar uma arma para atirar na vítima. “Ele colocou a mão na cintura para sacar uma arma, porque ele só anda armado. Só não atirou em mim porque lembrou das câmeras”, disse a vítima.
De acordo com o boletim de ocorrência, no momento da prisão foram encontradas uma pistola calibre 9mm, com nove munições, e uma segunda arma escondida debaixo de uma cama na residência do casal.
Apesar da prisão em flagrante, no dia 5, três dias após o crime, Michel foi solto, alegando problemas de saúde, apresentando as dores que sentia por conta de uma hérnia, além das questões que ainda enfrenta por conta dos medicamentos que utiliza após ter feito uma cirurgia bariátrica. Ainda de acordo com o documento obtido pelo Olhar Direto, o empresário mencionou que possivelmente teria contraído a Covid-19 da esposa.
Em entrevista, Eliana negou que teria o vírus e disse ainda que a fala do acusado seria apenas uma forma de conseguir sair da cadeia e voltar a administrar o restaurante.
Violências recorrentes
Segundo Eliana, a violência registrada no início deste mês não foi a primeira sofrida por ela. “Ele já fez isso dentro da nossa casa, ele sempre faz isso, principalmente nos momentos que a gente está sozinho. Essa não é a primeira vez que ele tem um comportamento violento comigo”, contou.
Em outros momentos, Michel teria agredido a empresária verbalmente e fisicamente, mas por vergonha e medo, a mulher nunca conseguiu denunciá-lo. “Sempre fiquei quieta porque tinha vergonha de falar o que acontecia, mas não aguentei mais apanhar. Tiveram vezes que precisei sair correndo e me esconder, porque ele ia para a parte de cima da nossa casa buscar uma arma”, afirmou a vítima.
Com o agravamento da pandemia, Eliana conta que um dos motivos das brigas do casal era o fato do empresário não respeitar as determinações municipais de fechamento do comércio. “Ele queria deixar o restaurante aberto durante a noite, deixava muita gente entrar. Isso sempre foi motivo de briga. Eu falava para ele que estamos em uma pandemia gravíssima, mas ele não queria respeitar os decretos. A fiscalização nunca chegava até lá”, relatou.
No dia da agressão que motivou a denúncia, a empresária afirmou em depoimento que Michael chegou a declarar que, caso fosse preso, iria “moer” Eliana e assim que saísse da cadeia “iria matar ela e seus filhos”.
“Aquela foi a primeira vez que ameaçou pegar um revólver para atirar em mim na frente de outras pessoas, até então ele fazia isso só quando estávamos sozinhos. No momento em que ele fez isso, é porque ele ultrapassou todos os limites, já estava no auge da violência”, finalizou.
Acusado nega todas as declarações
“A possessividade dela é doentia”, declarou Michel sobre as denúncias feitas pela empresária. Em entrevista ao Olhar Direto, o homem disse ainda que nunca agrediu Eliana e que toda a denúncia se trata de uma armação para que a mulher consiga parte dos seus bens.
“O que ela está fazendo comigo é a mesma coisa que ela fez com o ex-marido dela em 2014. Não houve nada daquilo, aconteceu apenas uma discussão onde ela pegou uma colher de pau e veio para cima de mim e eu tive que contê-la”, afirmou.
O caso citado por Michel se trata do processo de divorcio litigioso entre Eliana e o então servidor da Secretaria de Estado de Fazenda de Mato Grosso (Sefaz-MT), Luiz Carlos Vilalba Carneiro, na época com 55 anos. O caso ganhou repercussão na imprensa local após a empresária também denunciar o servidor por violência doméstica.
De acordo com a denúncia, datada em 2 de maio de 2014, Luiz teria feito diversas agressões verbais quando encontrou a mulher em um restaurante da capital. Ainda no relato da vítima, o servidor teria ido até o carro e buscado uma arma para tentar matá-la. “Eu disse para ele assinar logo os papéis da separação, mas ele afirmou que jamais iria fazer isso e, então, deu um tapa em meu rosto”, contou a empresária na época do crime.
Diante da situação, o então casal entrou em uma briga judicial que resultou em um acordo de separação de bens. No documento disponibilizado na plataforma Jusbrasil, utilizada para consulta de processos, consta que Eliana aceitou um acordo onde ficava com dois terrenos, sendo um deles localizado em um condomínio de luxo na capital, avaliado em R$ 500 mil. Além de um apartamento também localizado em uma área nobre da capital, avaliado em R$ 800 mil.
Na época em que permanecia casado com a empresária, o servidor atravessava um período de instabilidade, já que estava entre os investigados na Operação “Mala Preta”, que apurou a atuação de empresários e fiscais em fraudes e sonegação fiscal por meio de empresas de fachada em Mato Grosso. Segundo Michel, o fato de Eliana ter conhecimento dos detalhes da ação do servidor fizeram com que ela criasse toda a situação para ficar com os bens do ex-marido.
“O mesmo circo que ela armou comigo, ela fez com o ex-marido. Ela já me ameaçava várias vezes, dizendo que ia acabar com a minha vida, que eu vi o que ela fez com o ex-marido dela. E eu tinha um pouco de medo dessa situação”, relatou o empresário.
Questionado sobre a presença das armas em sua propriedade, Michel disse que por estar em uma área rural, mantinha o armamento apenas para proteção pessoal. Ainda sobre o fato, o empresário comentou que ambas as armas foram compradas na presença de Eliana. “Tenho as armas pelo fato de eu morar em área rural, e na realidade as armas que eu tenho aqui foram compradas junto com ela, não é para machucar ninguém”, disse.
Investigações continuam
O caso está sendo acompanhado pela Polícia Judiciária Civil (PJC-MT), dentro da Delegacia Especializada de Defesa da Mulher. Desde o dia da agressão, a empresária permanece amparada por medidas protetivas, que estabelecem distância mínima entre a vítima e o agressor, além de proteção policial quando necessário.
Segundo Eliana, fazer esta nova denúncia é uma forma de amplificar a voz de muitas outras mulheres que sofrem violência e não denunciam. “Espero que isso sirva de exemplo para outras mulheres. Talvez eu pague com a minha própria vida, mas não quero que ele saia impune disso”, concluiu.
Já Michel afirma que todos os fatos serão esclarecidos e que as verdadeiras intenções da empresária serão expostas em breve. “Hoje mil verdades do homem não valem uma mentira da mulher com essa lei. Deixei as coisas acontecerem, porque o tempo é o pai da verdade. Preciso me libertar disso. Me coloquei à disposição da Polícia para que a verdade seja mostrada, ela não pode fazer isso mais com ninguém”, finalizou.
Fonte: Olhar Direto