A distância dos grandes centros atrasou o progresso de Cuiabá entre os anos 1800 e 1900, especialmente no transporte. Entre cavalos e carroças arrastadas pela força dos bois, as vias ainda eram de terra, sem paralelepípedos que começaram a ser postos muito tempo depois.
Os bondinhos de Cuiabá, que funcionaram de 1891 a 1918, tinham um desenho parecido ao usado em Montevidéu, mas, ao invés da motorização, ainda dependiam da tração animal. Os trilhos tinham a rota que partia do Largo da Mandioca (Praça da Mandioca), Beco do Candieiro, Prainha, Rua Treze de Junho e paravam na estação final, que ficava no Port.
Primeiro carro – Segundo Márcio Galvão Vasconcelos, o primeiro veículo a chegar a Cuiabá foi o Fiat vermelho, adquirido neste ocasião pela Casa Dorsa que era um comércio local, em 1918. “Desta vez, a missão do automóvel não se restringiu ao trabalho e foi alugado por Dom Aquino, então presidente do Estado e ganhou outras funções”, garante em sua monografia.
A pesquisa ilustrada traz uma fotografia em que Dom Aquino e os amigos aparecem segurando um tamanduá no carro, após uma caçada. Neste sentido, uma total ostentação em forma de status, riqueza e poder.
Dom Aquino era encantado por carros. Foi graças a ele que também que o segundo veículo circulou em vias cuiabanas. O elegante Fiat Landal, dos poucos que já possuíam buzina, tocava 15 notas musicais.
Informações essas foram extraídas da pesquisa “Das quatro patas do cavalo ao motor de vários cavalos – o automóvel em Cuiabá”, defendida em graduação na UFMT pelo historiador Márcio Galvão Vasconcelos (in memorian).
Após um ano, frota de carros desfila e gera comoção
Há 100 anos, enquanto Cuiabá ainda completava seus 200 anos de fundação, chegavam uma variedade de carros motorizados na cidade.
Os populares ficaram alvoroçados. Desta vez, era um desfile na rua 15 de Novembro. A rua acabava de receber uma pavimentação moderna e isso a tornara o cenário perfeito para o tráfego dos novos transportes.
Em 1965 a frota de carros era maior e vias movimentadas e modernas
A carreata era formada por sete veículos. Entre eles, um Fiat Vermelho Turier, de modelo 1912-1920. Na fila de possantes, também estava Fiat Landal, considerado um dos carros mais desejados da época.
Ele foi alugado por Dom Aquino e apelidado como “Chico Fita”. Logo atrás, haviam dois carros Ford e três ônibus, que lembravam o design de bondes, e funcionariam na frota para populares entre Cuiabá-Porto.
Sonho do VLT
Os anos foram passando e veio a euforia da modernização provocada pela a realização da Copa do Pantanal.
Cuiabanos ficaram esperançosos com a notícia da construção de obras estruturais e com a implantação de um modal de transporte coletivo moderno: o VLT. Pacientes, suportaram os desvios, buracos, mudanças e mais mudanças. A Capital começou a ser “rasgada” para a implantação dos trilhos. O tempo passou e, apesar do atraso, o governo garantia que o sonho seria realizado.
Em novembro de 2013, chega a primeira composição do VLT, formada por sete vagões. Os itens desfilaram pela cidade, mas as obras empacaram. A Copa aconteceu em julho e o transporte não veio. Em outubro, nova esperança. O então governador Silval Barbosa testa o modal. Promete então entregar ao menos 7 km da linha que vai do aeroporto à primeira estação após o Rio Cuiabá, no bairro Porto, mas deixa o governo sem concluir o trecho.
Trilhos e vagões, após obra empacar, seguem abandonados. 100 anos depois do desfile dos carros, população sonha com transporte público de qualidade
Junto com a saída de Silval vem uma avalanche de denúncias, prisões e o VLT não avança. A população vê o governo Pedro Taques (PSDB) começar e acabar. Em 2018, elege Mauro Mendes. Até agora, nenhuma solução efetiva foi tomada. A cidade mais populosa de Mato Grosso chega aos 300 anos com um trânsito melhorado, mas com um transporte público caótico. As pessoas andam em ônibus superlotados, muitos velhos e poucos com ar condicionado.
Já nas ruas, milhares de carros, alguns importados, e motos disputam espaços pelas avenidas que parecem cada vez menores para tanta gente motorizada. Carroças quase não existem. A modernidade veio e trouxe junto os seus problemas.
Fonte: RD News Fotos: Misc