Cuiabano que lavou pratos na Europa consegue entrar em Oxford

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Foram tantos anos de sacrifício e renúncia que o cuiabano Rafael Nolasco de Souza, de 37 anos, não esconde o orgulho de seu feito. Ele agora é aluno da Universidade de Oxford, considerada uma das maiores e mais prestigiosas do Mundo.

O imigrante que lavou pratos e trabalhou como ajudante de pedreiro na Europa agora estuda Gerenciamento de Projetos Complexos (Msc in Major Programme Management) na prestigiosa universidade.

Filho de pais servidores públicos, Rafael conta que teve uma infância confortável na Capital mato-grossense, mesmo não sendo de uma família rica.

Na maior parte de sua vida, estudou em escolas particulares, porém concluiu o ensino médio na Escola Estadual Antônio Epaminondas, quando o dinheiro da família ficou mais escasso.

Mesmo vindo de uma condição financeira humilde, o jovem Rafael já tinha grandes sonhos. Ambicioso desde pequeno, ele afirma que sempre teve o desejo de morar no exterior, mas acreditava que seria impossível, já que vivia em Cuiabá e tudo parecia distante.

Apesar de estar um pouco desacreditado no início, desde a adolescência o cuiabano decidiu se agarrar aos livros e aos estudos para que pudesse ter um futuro melhor, seja no Brasil ou em outro país. Mas o sonho de morar fora nunca deixou de ser a meta de Rafael.

“Estudei sempre com o objetivo de alcançar algo melhor. Como filho de servidores, a minha oportunidade era limitada, porque conta muito ter contatos, indicações políticas e houve muita coisa a que não tive acesso”, explica.

Em 2007 ele se formou em Direito ainda em Cuiabá, mas via que aquela não era sua vocação. Isto porque Rafael sempre mostrou ter tendência para a liderança, para elaboração de projetos, algo totalmente distante de seu curso.

Então, a partir daquele momento, começou a buscar caminhos para poder, finalmente, ir para o exterior. Seu primeiro pensamento era ingressar nos Estados Unidos ou na Inglaterra, porém, sem saber falar inglês,  precisou mudar temporariamente seus planos.

O cuiabano então optou primeiramente pela Espanha. Arriscando um “portunhol”, foi na Península Ibérica que ele deu seus primeiros passos para alcançar uma carreira de sucesso e, enfim, chegar a Oxford.

Dificuldades e conquistas

A viagem para a Espanha só foi possível devido a um empréstimo feito pelos pais. O dinheiro foi usado para que ele pudesse se manter nos primeiros meses enquanto buscava aprender uma língua diferente, em meio a uma cultura diferente e ainda tentando aproveitar ao máximo as oportunidades de estudo no país.

Rafael conta que sua primeira vitória ocorreu quando ele conseguiu passar em uma prova e foi aprovado no curso de Administração de Empresas na Universidade de Barcelona. Os estudos só foram concluídos em 2011 e enquanto se empenhava em aprender sobre o mundo dos negócios, o cuiabano se desdobrava trabalhando fazendo bicos.

Como meio de se sustentar, ele trabalhou em boates limpando banheiros e sendo garçom. Atuou também como ajudante de pedreiro, limpando escadas e lavando pratos.

“Passei muito tempo me submetendo a esses trabalhos, mas sempre tive um ponto: buscar um recomeço e conseguir as coisas pelo meu mérito, com meu potencial”, explica.

Na mesma época ele fez seu primeiro mestrado e decidiu se mudar para Dublin com o objetivo de melhorar o inglês. Já com grande conhecimento no mundo dos negócios devido aos anos de estudo, foi no país que Rafael viu sua sorte mudar.

Depois de trabalhar com projetos globais na gigante IBM e evoluir no inglês, o cuiabano pôde, enfim, realizar sua vontade de morar na Inglaterra. No país, ele se mudou para Bristol, onde consolidou ainda mais sua carreira, com cursos e especializações na área.

Arquivo Pessoal

Rafael Nolasco de Souza

Rafael na Radcliffe Camera, construção mais fotografada em Oxford

Rafael conta que seu pai costumava dizer: “Seu melhor amigo é o livro, cuida bem dele que ele vai cuidar de você no futuro”. E essa frase o ensinou a sempre se dedicar aos estudos.

Foi usando esse conselho como inspiração que o cuiabano decidiu arriscar mais uma vez e ir em busca do único sonho que ainda não havia realizado.

Realização

A vontade de estudar na melhor universidade do Mundo era algo que acompanhava Rafael desde pequeno, tanto que um dia ele chegou a pedir para o pai pagar seus estudos, sem saber do quão caro e difícil seria chegar naquele lugar.

À época seu pai apenas brincou, dizendo que “só ganhando na Mega-Sena” poderia proporcionar esse sonho ao filho.

Antes de fazer sua aplicação para Oxford, o cuiabano conta que lembrou desse momento em sua vida. No entanto, mesmo com todo incentivo da família e da namorada, ele estava pouco confiante em receber uma resposta positiva da instituição.

A insegurança, segundo ele, se instalou após muitos anos sofrendo com descriminação e xenofobia por ser um estrangeiro que estava alcançando seu lugar em altos cargos nas empresas em que trabalhou.

“As pessoas não entendem, já me falaram que eu deveria estar vendendo hambúrguer no McDonald’s. Você cresce aqui, mas com eles tentando quebrar sua autoconfiança”, afirma.

Mesmo com as incertezas, ele tentou. Em um processo longo e exigente, Rafael precisou entregar três redações complexas e de temas específicos, precisou comprovar a fluência no inglês acadêmico fazendo uma prova, além de enviar seu currículo e duas cartas de recomendações de empregos anteriores.

Antes de receber o resultado da aplicação, o cuiabano também passou por duas entrevistas, uma por telefone antes de entregar o material, e outra logo depois.

Três semanas depois, ao entrar no portal de aplicações, Rafael descobriu que havia sido aceito em Oxford. Porém, ele ainda precisava ser aceito em um dos colégios para, aí sim, entrar definitivamente na universidade.

Com a apreensão de talvez nadar para morrer na praia, ele conta que passou por uma nova entrevista e só então pôde comemorar a nova vitória. Cercado pela emoção da família, Rafael finalmente pode realizar seu sonho de infância.

Agora, Rafael concilia a rotina de trabalho flexível com o curso em Oxford. Apesar de, às vezes, passar madrugadas em claro, ele afirma que não há experiência igual.

O curso está programado para terminar em outubro de 2023 e, até lá, o cuiabano espera aproveitar ao máximo tudo que a universidade oferece, desde palestras com nomes ilustres dos negócios, até os contatos que faz com os colegas dentro do campus.

Fonte: Midianews