Cuiabá tem 5 pontos de ‘cracolândia’ e apenas uma clínica pública para tratamento de viciados

Segundo a Secretaria Estadual de Segurança Pública (SESP), parte da droga consumida em Cuiabá vem da Bolívia. De janeiro a junho de 2023, 15 toneladas de maconha, cocaína e pasta base foram apreendidas em todo o estado.

A estudante Tália da Silva, de 22 anos, contou que, quando era criança, sofreu as primeiras consequências das drogas, com o padrasto e a mãe sendo dependentes químicos.

“Aquele alvoroço em casa, confusão, briga, eles batendo nas coisas de casa, minha irmã era mais nova e eu tinha que proteger ela. Eu via as pessoas no fundo da escola se divertindo fumando e foi assim que eu comecei”, relembrou.

Em Mato Grosso, 82% dos 141 municípios enfrentam problemas relacionados ao consumo de crack, conforme relatório do Observatório do Crack, da Confederação Nacional de Municípios (CNM).

Para o doutor em Segurança Pública Naldson Ramos, o fim das ‘cracolândias’ não deveria ser só de assunto de segurança pública.

“Esta política tem de ser praticada de forma sempre conjunta, integrada, com todos os entes federativos e não somente o executivo”, disse.

Um pontos de aglomeração está localizado no centro histórico da cidade, um no Beco do Candeeiro e outros três são localizados nos bairros do Porto, Jardim Leblon e Alvorada. Todos os pontos são constantes alvos da Polícia Militar.

Para dar assistência, uma comissão especial antidrogas foi criada pelo TJMT. O Juíz Moacir Tortato explicou que o objetivo é ampliar os projetos de combate às drogas que dão certo nas comarcas. “Essa comissão monitora as deficiências que o estado tem com relação ao enfrentamento dessa situação”, ressaltou.

Em todo o estado , existem sete clínicas terapêuticas, custeadas pela União para atender dependentes químicos de forma gratuita.

As clínicas são selecionadas por meio de licitações do Sistema Único de Saúde (SUS). Ao todo, são 290 vagas para 380 pessoas atendidas, ou seja, o atendimento já está 31% acima da capacidade disponível.

As clínicas terapêuticas ficam localizadas nas seguintes regiões:

• Cuiabá – Tenda de Abraão, saída para a Chapada – em frente ao Barreiro Branco
• Tangará da Serra – 3 unidades terapêuticas, sendo duas masculinas e uma feminina; Instituto Resgate João L Pizzato e Associação da Comunidade Terapêutica Viver de novo
• Lucas do Rio Verde – Associação terapêutica Portal da Sobriedade
• Carlinda – Obra Social Ns. da Glória Fazenda da Esperança Bento XVI
• Juína – Unidade filial de Juína Desafio Jovem Ebenezer

Na falta de atendimento público pela comissão especial, comunidades religiosas realizam trabalhos voluntários e os dependentes químicos ficam internados com acompanhamento médico e psicológico. Quando iniciam a recuperação, participam de cursos de alfabetização, informática e corte e costura.

O administrador de um centro terapêutico, Sandro Barbosa, contou que na maioria dos casos os profissionais continuam em contato com os pacientes.

“Muitas vezes a gente faz um acompanhamento pós tratamento e a psicóloga, assistente social, monitores, estão sempre em contato com aquelas pessoas que já se recuperaram”, disse.

Para costureira Edilene Farias da Silva, de 37 anos, a maior conquista foi recuperar a dignidade e a autoestima depois de passar quase 20 anos vivendo nas ruas.

“Eu aprendi que tem como a gente voltar para a sociedade, é só querer, buscar ajuda de tratamento e eu posso falar que eu sou uma nova pessoa”, comenta.

O crack está entre as drogas com maior potencial de dependência. É produzido a partir da pasta da cocaína, misturada com outras substâncias como água e bicarbonato de sódio. Por isso, os efeitos do crack e da cocaína são muito semelhantes. No entanto, nas pedras do crack há muitas outras substâncias com variados graus de impurezas que podem causar danos irreversíveis ao organismo.

Fonte: G1 MT