Técnicos estão levantando dados para um projeto para a Cuiabá dos 300 anos que será comemorado em 2019. Fui um dos convidados para conversar sobre esse planejamento para o futuro. Duvido que tenha colaborado com alguma coisa. Mas dar palpites é fácil, lasquei os meus também.
Entrei pelo lado óbvio ao argüir que se o projeto é para o futuro deve-se ter como base o que pensam os jovens cuiabanos. Quem está no comando hoje das ações maiores em Cuiabá é a geração cuiabana que denomino de imprensada.
A geração dos mais velhos viveu na Cuiabá antiga, com pouca trepidação e mudanças. A geração mais recente já pegou a Cuiabá nova. No meio ficou aquela geração que teve contatos fortes com a Cuiabá de antes e vive uma relação um tanto quanto conflituosa com a de hoje.
É uma geração que, claro, pode colaborar num projeto para a Cuiabá do futuro, mas defendi que seria melhor o planejador se estribar nos filhos dessa geração e não nela em si. A geração mais nova aceita o passado, mas está voltada para um horizonte que não sei se a geração que está dividida entre o antes e o depois estaria vislumbrando.
A agroindústria está indo para as cidades do interior. A capital (e também Várzea Grande) estão fora do mapa. Cuiabá se transformará em prestadora de serviços? Essa questão de prestar serviços teria que ser também melhor analisada.
Antes a capital era praticamente o único pólo prestador de serviços. Vendia também quase tudo que o interior precisava. Hoje cidades como Sinop, Rondonópolis e Juína, em suas respectivas regiões, estão se transformando em centros de prestação de serviços também. Está diminuindo a vinda de gente na busca de serviços e produtos.
Se essa tendência se consolidar, o que fazer para Cuiabá ser um centro prestador de serviço? O que fazer para que ela não dependa tanto dos salários que o setor público paga?
Deveriam ser analisados ainda os impactos que o agronegócio traz para a cidade. Quando há bonança se vendem apartamentos, o interior se mostra mais presente. Se há crise, como houve recentemente, qual o tamanho do impacto na economia local? Como conviver com essa realidade?
Quais os impactos, negativos ou positivos, que poderão ocorrer em Cuiabá se as rodovias 163 e 158 forem asfaltadas? Será que ajudaria no crescimento econômico da capital ou afastaria ainda mais a cidade de ser pólo prestador de serviços para outras regiões? Com a 163 a produção do Nortão se dirigirá toda para Santarém e não mais passaria por aqui?
Já que a conversa era livre passei a dar palpites mais diretos. Um foi sobre o CPA. É um bairro que sozinho deve ter população equivalente à quinta cidade do estado e, no entanto, não possui um cinema, uma casa de espetáculo ou um estádio decente para esporte. Não tem nem mesmo um cemitério. Como incorporar melhor aquela população na Cuiabá dos 300 anos?
Os jovens da periferia têm um lazer caro. Sem opções, ficam nos bares e quiosques tomando cerveja. Frente ao salário pequeno que recebem, acaba sendo um peso na renda deles. Como levar lazer barato para a periferia? Uma avenida divide o Coxipó. Separado não cria identidade própria. Como conectar socialmente o bairro?
Um planejamento urbano para Cuiabá não pode deixar de pensar em Várzea Grande. Teria que ser pensado algo que inclua a cidade vizinha. Saneamento foi outro item que entrou nos palpites. É bom para a saúde da população e ajuda a melhorar a qualidade dos rios que vão para o Pantanal.
Não pude deixar de puxar um pouco para a integração econômica sul-americana. Acho que a Cuiabá dos anos 300 teria que pensar em ser a passagem do Brasil para atingir o Pacífico ou, se não tanto, pelo menos ser o centro da comercialização com os países andinos. Essa forma de prestação de serviços ninguém tiraria daqui (Cáceres talvez fique com um pequeno pedaço).
Alfredo da Mota Menezes escreve em A Gazeta às terças, quintas e aos domingos. E-mail: pox@terra.com.br Outubro de 2007