Aliar tecnologia e trabalho humano é, sem dúvida, o ponto-chave para alcançar resultados grandiosos, especialmente quando se fala em políticas públicas em estados com extensão territorial como o de Mato Grosso.
O Vigia Mais MT, programa de monitoramento em tempo real idealizado pelo Governo do Estado, transformou Mato Grosso em um case nacional ao reduzir custos ao poder público e, sobretudo, contribuir para a queda nos índices de criminalidade e infrações.
O projeto nasceu da visão do governador Mauro Mendes (União), após uma viagem à China, onde conheceu o conceito de “muralha digital”. A missão de transformar a ideia em realidade coube ao secretário de Estado de Segurança Pública, coronel César Roveri, e ao assessor técnico da Sesp, Leandro Alves.
“A partir dessas viagens, principalmente na Ásia, foi onde o governador teve a concepção de muralha digital, que é o conceito de várias câmeras, de vários tipos, modelos, nos logradouros públicos, e tudo isso integrado às forças policiais”, disse Leandro.
“O coronel Roveri era secretário da Casa Militar e deu essa missão para ele: ‘Olha, eu preciso criar um projeto de Estado e quero que Mato Grosso seja o estado com mais câmeras por mil habitantes, que é a conta que a gente usa’”, completou.
Durante 90 dias, a equipe técnica da Sesp se debruçou sobre modelos nacionais e internacionais de segurança pública até chegar ao formato que hoje é referência. A comissão estudou projetos de monitoramento de São Paulo, Rio de Janeiro, de estados do Sul, e principalmente buscou saber o que não deu certo.
“Não tem nenhum estado no Brasil com essa metodologia que nós queríamos aplicar aqui. E aí em cima disso, a gente fez um trabalho de mais de 800 páginas técnicas para apresentar o modelo do Vigia Mais MT para o governador e o secretário validar”.
O resultado desse trabalho foi um sistema robusto que hoje integra 15,9 mil câmeras em operação em 74 municípios, e que consolidou Mato Grosso como o estado mais vigiado da América Latina, com 7,95 câmeras para cada mil habitantes.
Reprodução
O conceito de muralha digital, quando o controlador do Ciosp delimita linhas para cercar o lugar vigiado
“A gente chamou um perito da Politec, e pegamos o índice populacional, criminal, renda per capita, tudo dos 142 municípios de Mato Grosso, e jogamos essas informações em uma base de dados. Daí o algoritmo nos deu quantas câmeras para cada cidade seria necessário para manter um índice de segurança. De início, deu 15 mil câmeras”, explicou Leandro.
Os resultados vieram rápido. No primeiro ano, nos 16 primeiros municípios com a instalação 100% concluída, houve redução média de 46% na criminalidade geral e até 75% em roubos e furtos de veículos.
“Nós cercamos o estado. Agora, o criminoso que tenta migrar para outro município é identificado no trajeto. A ideia é que ou ele é preso, ou ele vai embora de Mato Grosso”, afirmou.
“O primeiro município a atingir 100% de cobertura foi Salto do Céu. Depois de instalarem todas as câmeras, eles ainda solicitaram mais unidades para cobrir pontos que haviam ficado descobertos. Tem município com 70% de redução, tem município com 40%, mas a média é de 46%, de todos os índices”.
Além da redução, o diferencial do Vigia Mais está na confiabilidade das imagens, garantida pela tecnologia conhecida como “hash”, que assegura a autenticidade e validade jurídica dos registros de vídeo.
“Hoje, só para você ter uma ideia, de janeiro a junho a Polícia Civil utilizou mais de 2.200 imagens do Vigia em inquéritos policiais. Ou seja, o delegado baixa a imagem, ela já vem com um hash, ele anexa ao procedimento e encaminha para o Judiciário”, explicou.
O sistema do vigia, que permite ainda o rastreamento completo de suspeitos em deslocamento entre cidades, ampliou a eficiência nas investigações.
“A grande vantagem é a integração. O crime anda sobre rodas: se o criminoso age aqui, ele vai para outro município, para outro local. E, se essas imagens não estiverem conectadas, por assim dizer, não é possível identificar a direção, o sentido e por onde ele fugiu”.
A expansão do programa
Victor Ostetti/MidiaNews
O assessor técnico da Sesp, Leandro Alves, explicando como funciona o Vigia Mais MT
Com o sucesso do programa, o modelo foi expandido para novas áreas da segurança pública. O Vigia Mais Motorista nasceu após os homicídios de três motoristas de Uber, em abril de 2024, em Várzea Grande.
A adesão, como disse Leandro, é gratuita, simples e pode ser feita online pelo site da Sesp. Uma vez cadastrado, o usuário receberá um treinamento para aprender a usar o aplicativo.
“Nós estamos falando de motoristas de aplicativos, motoboys, taxistas, caminhoneiros, ou seja, todos aqueles que exercem atividade remunerada com direção podem aderir ao programa”, disse.
A ferramenta também permite acionamento por voz e conta com botão físico, que pode ser colocado no volante, no bolso do condutor, em qualquer lugar seguro. Desde a implementação, essa inovação fez Mato Grosso reduzir em 67% os homicídios de motoristas de aplicativo, segundo a Sesp.
“Nós fomos os pioneiros disso. Criamos um aplicativo e esse aplicativo se comunica direto com a segurança pública. Quando ele aperta o botão do pânico pedindo socorro, aparece o nome do motorista, e as câmeras do Vigia que estão ao redor, a cada segundo, mostram a localização dele em tempo real, e a gente manda a polícia pra fazer a interceptação. O acionamento é direto”.
O programa de segurança também avançou para o combate à evasão fiscal, por meio das câmeras de leitura de placas (OCR) instaladas nas rodovias. O cruzamento de dados entre as guias de transporte e o sistema Vigia Mais MT permite que a Secretaria de Fazenda (Sefaz) identifique cargas irregulares e coíba fraudes.
“A Sefaz usa as câmeras de leitura de placas (OCR) para cruzar dados de guias de transporte e combater a evasão fiscal. Já a Sinfra reduziu custos com diárias e deslocamentos, porque os engenheiros agora acompanham obras em tempo real”.
Outro braço importante do programa é o Vigia Mais Educação, implantado pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc) para proteger escolas e otimizar recursos. Atualmente, são 5,5 mil câmeras instaladas em 458 unidades escolares, que contam com “cercas virtuais” e alertas automáticos em caso de invasão.
“Algumas escolas funcionam até no período noturno. Pelo sistema, a gente seleciona a área que a câmera deve analisar, e coloca essas linhas, como se fosse uma cerca. Se alguém pula o muro depois do horário permitido, o sistema gera um alerta no Ciosp. Isso permitiu à Seduc redimensionar o uso de vigilantes e economizar R$ 25 milhões só no primeiro ano”.
Após os ataques em escolas registrados no país, o sistema foi ampliado com a criação do botão do pânico. Cada diretor e coordenador tem acesso à ferramenta, que aciona imediatamente as forças de segurança em caso de emergência. “Quando aciona, a polícia é enviada imediatamente à unidade, sem necessidade de ligação. É uma resposta rápida”.
Essência mato-grossense
O assessor técnico destacou que o software e a infraestrutura do Vigia Mais são totalmente desenvolvidos dentro do estado e para funcionar em Mato Grosso.
“O armazenamento das imagens das placas de veículos dura um ano. E das outras imagens fica por dez dias. Nesse meio tempo, as autoridades podem usá-las em investigações. O software Vigia é nosso. Nós criamos ainda os aplicativos que a PM e a Polícia Civil tem acesso. Ele tem em formato de web, e tem um desktop que é pro centro de operações. É uma estrutura mais robusta”.
O programa ainda foi pensado para que o uso da tecnologia venha acompanhado de capacitação técnica, que é oferecido pelo Vigia e ajudou a reduzir custos de implantação e instalação das câmeras, tanto para os municípios quanto para a iniciativa privada que deseje aderir ao sistema.
“A nossa ideia era levar as câmeras com o menor custo possível. Criamos um curso de 12 horas e ensinamos o técnico da prefeitura ou o profissional de TI a fazer a instalação. Porque uma câmera de segurança, digamos, tem 40% do resultado dependente de uma instalação bem feita. Essa é uma das grandes vantagens do programa Vigia Mais Mato Grosso”.
Hoje, o sistema é referência nacional e tem despertado o interesse de outros estados e do Ministério da Justiça. “O que construímos aqui é inovação genuinamente mato-grossense. O Vigia Mais é o imposto do contribuinte voltando em forma de serviço: segurança, economia e eficiência”.
Todo o sistema é centralizado no Centro Integrado de Operações da Segurança Pública (Ciosp), em Cuiabá, onde chegam as imagens de todas as câmeras instaladas pelo Estado.
Essa centralização permite que o secretário Roveri, junto aos líderes das Forças de Segurança, tomem decisões rápidas em situações de crise, como ocorreu no último roubo a banco, em Brasnorte.
Ao concentrar seu território em uma única rede de videomonitoramento e aplicar tecnologia para otimizar a gestão pública, Mato Grosso se tornou o primeiro estado a criar uma muralha digital totalmente integrada. O resultado comprova que o crime realmente encontra “terra infértil” diante da vigilância constante. (Midianews)










