Com seca extrema, terras indígenas de MT sofrem com dificuldade de acesso a água

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O relatório “Amazônia à beira do colapso”, apresentado pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) nesta quarta-feira (25.09) durante a Semana do Clima em Nova York, faz um retrato das condições climáticas extremas enfrentadas pela região amazônica em 2024.

Descrevendo o ano como o mais crítico já registrado, o documento destaca como a seca e as altas temperaturas recordes têm intensificado os impactos nas terras indígenas, particularmente em Mato Grosso, que aparece como um dos estados mais vulneráveis da Amazônia às mudanças climáticas.

De acordo com o relatório, 11 territórios indígenas em Mato Grosso estão localizados em áreas classificadas como de alta vulnerabilidade às mudanças climáticas, especialmente no que diz respeito à seca extrema. Esses territórios, além de enfrentarem a escassez de água e um balanço hídrico negativo, sofrem com o isolamento das comunidades e a falta de tecnologias adequadas para armazenamento de água. A COIAB destaca a necessidade urgente de fortalecer a capacidade adaptativa desses povos para lidar com a crise hídrica.

Entre os territórios mais afetados, há três povos isolados, cuja situação é descrita como de “vulnerabilidade muito alta”. Esses povos estão localizados nos territórios Kawahiva do Rio Pardo, Arara do Rio Branco e Piripkura, todos no município de Colniza.

Conforme a COIAB, a dificuldade de acesso e a limitada infraestrutura para enfrentar os extremos climáticos tornam esses grupos ainda mais suscetíveis aos impactos das secas prolongadas. O cenário é agravado pela falta de demarcação definitiva de algumas dessas terras, o que, segundo os autores do relatório, compromete diretamente a resiliência desses povos.

Além da seca extrema, a intensificação das queimadas em 2024 também é ponto de alerta no relatório. Mato Grosso se destaca negativamente por concentrar 7 dos 10 territórios indígenas com maior número de focos de calor em agosto, mês que registrou 2.355 incêndios nos territórios de Utiariti, Parabubure, Areões, Pimentel Barbosa, São Marcos, Nambikwara e Sararé. A situação se agravou em territórios como Parabubure e Areões, que viram um aumento de 340% e 562%, respectivamente, no número de focos de calor em relação ao mesmo período de 2023.

O território indígena Paresi, por exemplo, lidera o ranking anual de queimadas no estado, com 651 focos de calor entre janeiro e agosto de 2024. A COIAB aponta que as queimadas, além de destruírem a biodiversidade local, aumentam a pressão sobre as comunidades indígenas, que já lidam com os efeitos severos da seca.

A importância da demarcação

Para enfrentar os efeitos devastadores das mudanças climáticas, a COIAB defende a demarcação urgente e contínua das terras indígenas como a principal estratégia de resiliência. O fortalecimento das brigadas indígenas, que atuam na defesa dos territórios contra invasores e no combate às queimadas, também é considerado fundamental para proteger essas áreas, que funcionam como barreiras naturais à degradação ambiental.

“A demarcação das terras indígenas é essencial para garantir a sobrevivência das comunidades e para preservar a resiliência climática da Amazônia”, afirma o relatório. Segundo a COIAB, essas áreas são mais preservadas do que as regiões ao seu redor, o que reforça o papel determinante das terras indígenas na proteção da floresta e na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

Fonte: PNB