Com ferrovia, cidade de MT passará de ‘primo pobre’ a ‘bilionário’

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Dom Aquino (a 166 km ao Sul de Cuiabá) é o “primo pobre” no meio de bolsão do agronegócio que engloba Rondonópolis, Primavera do Leste, Campo Verde e Jaciara, no Sul de Mato Groisso.

Com 7.890 habitantes e pequena demanda por serviços públicos, sua prefeitura executa um orçamento de R$ 60 milhões.

Porém, com o apito do trem no terminal que a Rumo Logística constrói nesse município, com capacidade de embarque anual de 10 milhões de toneladas, sua receita poderá receber um impulso de 1,27 bilhão anualmente, com a cobrança do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN).

Em 2027, quando o terminal entrar em operação, Dom Aquino vira a página do pires na mão por recursos estaduais e federais, e entra para o seleto grupo nacional da opulência tributária.

O terminal em obras à margem da BR-070, próximo à Primavera do Leste (a 240 km da Capital), deverá entrar em operação para escoar a safra 2026/27.

Para Primavera, sua localização será importante para o incremento da receita com a movimentação das carretas do modal rodoferroviário e terá efeito positivo sobre a construção civil; por outro lado, exigirá maior prestação de serviços públicos municipais.

Para Dom Aquino será o melhor dos mundos, por sua distância daquela cidade; o município abocanhará a alíquota de 6% sobre o ISSQN do transbordo das cargas agrícolas e a movimentação não terá nenhuma interferência na vida da população.

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Dom Aquino

Com 7.890 habitantes e pequena demanda por serviços públicos, a Prefeitura de Dom Aquino executa um orçamento de R$ 60 milhões

A geografia foi generosa com Dom Aquino.

A Rumo constrói a Ferrovia Estadual Senador Vicente Emílio Vuolo, com 743 km, entre Rondonópolis e Lucas do Rio Verde 354 km ao Norte de Cuiabá), com um ramal para a Capital.

Por razões de logística, a empresa definiu que o primeiro terminal acima do Complexo Intermodal de Rondonópolis (CIR) em Rondonópolis seria construído 170 km ao Norte.

O município de Dom Aquino foi o contemplado, embora as obras estejam em curso na área próxima à Primavera do Leste.

Os números do terminal são superlativos. Dom Aquino embarcará 10 milhões de toneladas de soja, milho e algodão, anualmente.

O preço da soja situa-se entre o algodão e o milho.

Numa citação que pode ser um pouco maior ou menor, dependendo de cada tipo de commodity embarcada, Dom Aquino teria uma receita de 1,27 bilhão sobre a soja, considerando-se sua cotação média de R$ 127 a saca na região de Rondonópolis, na semana em curso.

Dom Aquino praticamente não recebe novos moradores.

A população é antiga, todos se conhecem e muitos são chamados pelo apelido, como é o caso do prefeito Carlos Alberto da Costa (Republicanos), que a população chama de Carlim Amarelo.

Com a chegada do trem, por mais planejamento que faça, Carlim Amarelo terá dificuldades para aplicar a dinheirama.

A cidade tem apenas quatro escolas municipais, que somam mil alunos, e todas na área urbana.

A substituição das escolas por outras, modernas, a conclusão da pavimentação da cidade e a construção de rede de coleta e tratamento de esgots são as principais demandas.

No campo da Saúde, não será preciso grande investimento, pois a prefeitura presta serviço satisfatório na saúde básica, e nem mesmo com a montanha de dinheiro que terá o município conseguirá contratar especialistas da média e alta complexidade.

Os pacientes nessas áreas terão que ser encaminhados para Jaciara, distante 23 km, ou para Campo Verde, a 50 km.

Distante 21 km da BR-364/163, Dom Aquino perdeu competitividade com os municípios vizinhos e enfrenta problema orçamentário, situação essa que o mantém na dependência de emendas parlamentares e convênios com os governos federal e estadual.

Um secretário da prefeitura, sob condição de anonimato, revelou que a receita com o IPTU é praticamente zero.

Segundo ele, adversário do prefeito não recolhe o IPTU por ser adversário, e companheiro não o faz porque também manda na administração.

Além dos cofres vazios, Dom Aquino tem um PIB pequeno, de R$ 320.194.000,00, e o principal indicador social, o IDH, é baixo, de 0,690, numa escala de zero a um.

Com as ruas pouco movimentadas, Dom Aquino é uma cidade pacata.

A economia é calcada na pecuária leiteira, soja, na extração do látex em seringais de cultivo e no envasamento de água mineral.

Anualmente, a cidade promove uma feira agropecuária.

O município tem somente um distrito: Entre Rios, onde não há escola municipal e os alunos são transportados, diariamente, para a rede escolar na sede do município, distante 15 km.

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Ferrogrão - índios

Com o apito do trem no terminal que a Rumo Logística constrói nesse município, com capacidade de embarque anual de 10 milhões de toneladas, sua receita poderá receber um impulso de 1,27 bilhão anualmente

MEMÓRIA – Dom Aquino emancipou-se de Poxoréu (251 km ao Sul de Cuiabá), em 1958, com o nome de Mutum, em alusão a um córrego que banha o lugar.

Seus primeiros moradores foram garimpeiros de diamante.

Em 1965, o município foi rebatizado, recebendo o nome do ex-arcebispo de Cuiabá e ex-governador, Dom Francisco de Assis Corrêa.

É o único município mato-grossense que teve o nome trocado. Dom Aquino não tem salvador da pátria, mas o ex-prefeito Ivanildo de Oliveira (1977/82) disputou o Governo em 1998, pelo Prona, segundo ele, para chegar ao poder e transformar seu município.

Porém, o eleitorado não entendeu assim: Ivanildo recebeu apenas 3.904 votos, e Dante de Oliveira foi reeleito ao cargo pelo PSDB.

O AMANHà– O terminal da Rumo mudará o perfil socioeconômico de Dom Aquino, pois sua localização geográfica garante constância nos embarques das lavouras cultivadas no entorno, no município e nos vizinhos Primavera do Leste, Santo Antônio do Leste, Paranatinga, Campo Verde, Nova Brasilândia, Planalto da Serra e Poxoréu.

Além do cultivo sempre crescente na área do futuro terminal, a vice-presidente de Relações Institucionais da Rumo, a economista Natália Marcassa de Souza, revela que um estudo aponta que, nos próximos 10 anos, a área cultivada com as principais commodities agrícola aumentará em 60%, sem necessidade de desmatamento, ocupando pastagens degradadas ou parcialmente degradadas. (Diário de Cuiabá)