Nova Ubiratã (MT) abriga a fazenda mais cara à venda no Brasil: uma propriedade rural de 66 mil hectares, com pista de pouso homologada para jatos e mansão como casa-sede, está avaliada em R$ 5,8 bilhões, segundo levantamento feito pela plataforma especializada Chãozão a pedido do jornal Estadão. A propriedade lidera uma lista de dez fazendas bilionárias à venda no país.
A força do agronegócio tem sido determinante na valorização das terras agrícolas. Em 2025, o Brasil deve colher uma safra recorde de 339,6 milhões de toneladas, impulsionada pela produção de soja (169,5 milhões de toneladas), o que aqueceu ainda mais o mercado de imóveis rurais.
BR-163 e o eixo das propriedades mais valiosas
Das dez fazendas mais caras à venda no Brasil, quatro estão localizadas em Mato Grosso — três delas ocupam o topo do ranking. O Estado, considerado o celeiro nacional de grãos, concentra grande parte dessas propriedades ao longo da BR-163, conhecida como a “rota da soja”.
A valorização das terras acompanha o crescimento do setor agropecuário. Segundo a CEO da Chãozão, Geórgia Oliveira, os preços mais do que dobraram em algumas regiões nos últimos cinco anos. “Esse movimento foi particularmente intenso no Centro-Oeste e nas fronteiras agrícolas, como o Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e o Sealba (Sergipe, Alagoas e Bahia)”, destacou.
Dados da Scot Consultoria apontam que, entre 2019 e 2024, o preço médio de terras voltadas à agricultura aumentou 113,3%, enquanto as voltadas à pecuária subiram 116,3% — em contraste com a inflação acumulada de 33,63% no mesmo período.
Estrutura de luxo e distrito próprio
A fazenda mais cara, localizada a 426 km de Cuiabá, possui terras com dupla aptidão para lavoura e pecuária, além de infraestrutura completa: armazéns, algodoeira, oficinas, alojamentos, mansão com área de lazer e hangar com capacidade para seis aeronaves. Em 2024, foram cultivados 33 mil hectares de soja e 16 mil de algodão, com 7,4 mil hectares de pastagem e confinamento para 30 mil cabeças de gado.
Um diferencial curioso é a formação do Distrito Água Limpa dentro da propriedade, com praças, escolas (inclusive técnica), restaurantes, lojas, postos de combustíveis e agências bancárias.
Outras fazendas bilionárias no Estado
- Paranatinga (MT): segunda propriedade mais cara, avaliada em R$ 5 bilhões, com 88 mil hectares.
- São Félix do Araguaia (MT): terceira do ranking, com 121 mil hectares e preço estimado em R$ 4,5 bilhões.
As negociações envolvem cláusulas de confidencialidade, por isso os nomes dos proprietários não são revelados.
Agroindústria impulsiona mercado e valoriza o milho
O avanço da agroindústria também contribui para o aumento dos preços das terras. Segundo a Unem (União Nacional do Etanol de Milho), das 40 biorrefinarias em operação ou construção no Brasil, 17 estão em Mato Grosso. A maior delas, Inpasa, em Sinop, produziu 3,7 bilhões de litros de etanol em 2024 a partir de milho cultivado na região.
Além de etanol, a empresa fabrica óleos vegetais e DDGS (subprodutos usados em rações animais). Esse modelo de produção agregou valor ao cereal, reduziu o custo logístico e fortaleceu pequenos produtores — especialmente aqueles que passaram a cultivar sorgo.
Mato Grosso como potência agrícola global
Caso fosse um país, Mato Grosso estaria entre os dez maiores produtores de grãos do mundo, equiparando-se à Argentina na produção de soja. Com uma área territorial de 903 mil km² — equivalente a três vezes a extensão da Itália — o Estado lidera também na produção de milho, algodão e carne bovina, com 34,2 milhões de cabeças de gado, o maior rebanho do país.
Interesse estrangeiro e regulamentação
Segundo dados da Chãozão, o interesse internacional por terras brasileiras está em alta. Em 2025, a plataforma registrou 113 mil buscas feitas por americanos, além de milhares por britânicos, chineses, alemães, australianos e portugueses.
Embora a compra de propriedades rurais por estrangeiros seja permitida no Brasil, há restrições. Áreas próximas às fronteiras ou na Amazônia Legal precisam de aprovação do Conselho de Defesa Nacional (CDN), e imóveis com mais de 20 módulos de exploração indefinida exigem autorização prévia do Incra. (Com Folhamax)