Duas cidades de Mato Grosso são campeãs do ranking de mortes violentas intencionais na Amazônia Legal. A pesquisa contemplou cidades com até 20 mil habitantes, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entre os anos de 2022 e 2024..
Vila Bela da Santíssima Trindade (521 km a Oeste de Cuiabá) teve 136,1 homicídios a cada 100 mil habitantes. Nobres (146 km ao Norte) apresenta 114,3 homicídios a cada 100 mil habitantes, conforme a análise.
No caso de Vila Bela, a sua localização em região da fronteira do Brasil com Bolívia é um dos pontos apresentados como possíveis causas para esse cenário.
Além disso, há a “invasão” de garimpeiros e de organizações criminosas vinculadas ao narcotráfico, em especial na Terra Indígena Sararé
Em Nobres, a pesquisa destaca a presença de facções criminosas que estão em guerra pelo controle do tráfico na região.
Nas duas cidades, de acordo com o Fórum, destaca-se a atuação da facção criminosa Comando Vermelho, que opera no tráfico de drogas e de armas e em práticas de homicídios.
Alto Paraguai (220 km a Médio-Norte de de Cuiabá) está em quarto lugar na lista de cinco municípios (99,3 homicídios a cada 100 mil habitantes).
De acordo com a pesquisa, a cidade é “dominada” pela facção Tropa do Castelar, uma “dissidência” do Comando Vermelho.
Entre as cidades com população entre 20 mil e 50 mil habitantes, destacam-se Barra do Bugres (168 km a Médio-Norte), em 2º lugar, com taxa de 89, e Aripuanã (1.002 km a Noroeste de Cuiabá), em 3º lugar, com taxa de 85,9.
Barra do Bugres fica na rota do escoamento das drogas vindas da Bolívia e é diretamente afetada pelas disputas entre facções criminosas pelo domínio do tráfico.
Na cidade, a pesquisa detectou as atuações das facções Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital (PCC).
No geral, a taxa de mortes violentas intencionais no Estado foi de 29,8 em 2024, representando a terceira maior taxa da Amazônia, mas com um recuo de 3% em relação ao registrado no ano anterior.
Em todos os municípios da Amazônia, 8.047 pessoas foram vítimas de mortes violentas intencionais.
O número representa uma taxa de 27,3 assassinatos para cada 100 mil habitantes da região, valor 31% superior à taxa nacional, que foi de 20,8 no mesmo ano.
CRESCIMENTO – A expansão das facções criminosas tem sido um dos principais desafios à Segurança Pública em todo país.
Em Mato Grosso, que compõe a Amazônia Legal, a situação não é diferente.
De acordo com a 4ª edição do Cartografias da Violência na Amazônia, divulgada na quarta-feira (19) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), 65,24% dos municípios mato-grossenses apresentam evidências da presença dessas organizações.
No Estado, 92 cidades têm atuação de faccionados.
Do total, 78 contam com pelo menos um grupo criminoso e, 14 municípios, com duas ou mais facções.
Ao todo, de 772 municípios amazônicos, 344 (44,6%) apresentam alguma presença de facções, o que conforme o estudo, demonstra um processo de capilarização que transcende os grandes centros urbanos.
Atualmente, o cenário amazônico enfrenta 17 facções ativas, com destaque para o Comando Vermelho (CV), Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Bonde dos 40 (B40).
Além disso, a presença criminal não se distribui de forma homogênea, sendo que 258 municípios (33,4%) registram a atuação de apenas uma facção, enquanto 86 (11,1%) concentram disputas entre duas ou mais organizações, indicando áreas de conflito e instabilidade social.
Conforme o relatório, nos últimos anos, observa-se ainda um processo de interiorização e diversificação das dinâmicas criminais, com a consolidação de rotas estratégicas para o tráfico de drogas, armas, minérios e madeira, conectando a região aos mercados nacional e internacional.
Também os dados, que indicam a presença de facções criminosas na Amazônia, permitem delinear um panorama preocupante da expansão territorial do crime organizado, revelando a crescente capilaridade de grupos nacionais e regionais em contextos urbanos, rurais e fronteiriços.
Em entrevista à Rádio CBN, o governador Mauro Mendes (União) falou sobre a tramitação do projeto antifacção, em tramitação no Congresso Nacional, e voltou a reforçar a importância de existir penas mais duras para o combate às organizações criminosas.
“O que nós queremos é desestimular (a entrada para o crime) e trazer segurança para o cidadão de bem, que está ficando amedrontado com a atuação dessas facções no Brasil e aqui em Mato Grosso nós temos combatido duramente”, disse.
Segundo ele, só neste ano, foram presos mais de 2 mil faccionados no Estado, mas a maioria foi solta em audiência de custódia.
“É muito ruim isso, a polícia prende, a lei é frouxa, a Justiça vem e solta. Então, nós precisamos ter esses instrumentos mais eficientes para dar ao Estado e a polícia uma condição de combater melhor (as facções”, disse.
ESTADO MAIS VIOLENTO PARA MULHERES – Em 2024, 586 mulheres foram assassinadas na Amazônia Legal, o que representa uma taxa de 4,1 vítimas por grupo de 100 mil mulheres, 21,8% superior à taxa média nacional, que no mesmo ano foi de 3,4 mortes por 100 mil mulheres.
No último ano, o estado mais violento para as mulheres na região amazônica foi Mato Grosso, que registrou taxa de homicídios femininos de 5,3 mortes para cada grupo de 100 mil mulheres.
Os feminicídios seguiram a mesma tendência no Estado, que tem a maior taxa de (2,5 por 100 mil), seguido de Roraima e Maranhão, ambos com taxa de 2,0 mortes por 100 mil. (Diário de Cuiabá)








