Cidades são feitas por pessoas e para pessoas. Somente mudam quando as pessoas mudam. Buscar um melhor ordenamento do ambiente urbano primando pela qualidade de vida da população é trabalhar por uma cidade sustentável.
Por isso, o planejamento das cidades tem impactos diretos e indiretos sobre a saúde da população: a organização de ruas, bairros, parques, avenidas, entre outros fatores influenciam no bem-estar dos moradores.
Viver de modo sustentável envolve muito mais do que banir sacolas plásticas ou jogar alevinos nos rios. Abrange mudança de estilo de vida, em educação, conhecimento, avanço tecnológico e consciência.
Infelizmente, são poucos que pensam na importância da cidade sustentável. De 91 países avaliados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o 44º com maior índice de poluição do ar e o nono país do mundo com maior número de mortes por problemas respiratórios (asma, bronquite, enfisema pulmonar e câncer de pulmão) e cardiovasculares. As populações mais vulneráveis são as crianças, os idosos e as pessoas que já apresentam doenças respiratórias.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) deu o alerta: o ar nunca esteve tão poluído pelo dióxido de carbono (CO2) como 2015. E a tendência de aumento continuará este ano.
O brasileiro Carlos Dora, Coordenador do Departamento de Saúde e Meio Ambiente da OMS, estima que um dos principais responsáveis por essas taxas é o transporte. Pensando na mesma direção, Maria Neira, Diretora da OMS para Saúde Pública e Meio Ambiente, acredita que o investimento forte em transporte público pode ser a solução para reduzir de forma importante a taxa de poluição do ar.
Ou seja, o VLT passou a ser uma necessidade para o futuro da humanidade. As cidades sustentáveis criaram o compromisso político para eliminar o uso de combustíveis fósseis e reduzir as emissões de CO2.
Em Cuiabá, e por parte do Governo Estadual, não existe essa consciência. Ao invés do transporte limpo, ecologicamente correto, o Estado prefere gastar mais com a manutenção de um transporte poluente e ineficiente, com o aumento do número de atendimentos e internações hospitalares, além do uso de medicamentos, custos esses que poderiam ser evitados com a melhoria da qualidade do ar da cidade. Isso sem falar, que a poluição do ar pode também afetar ainda a qualidade dos materiais (corrosão), do solo e das águas (chuvas ácidas), além de afetar a visibilidade.
A se manter, mesmo que em parte a opção para ônibus, as alternativas de tração com combustível limpo para ônibus, sejam eles urbanos ou rodoviários, são muito promissoras. Há vários veículos rodando comercialmente e protótipos sendo testados mundo afora, utilizando tração puramente elétrica com baterias, sistemas por indução eletromagnética, supercapacitadores, hidrogênio e híbridos.
Mas, quando falamos em planejamento urbano para garantir a mobilidade com saúde, devemos pensar na integração de várias formas de transporte e de facilitação da movimentação das pessoas (algumas delas estão ligadas em http://bit.ly/2fYmL5c). A palavra-chave é integração. Integrar as várias modalidades de transporte e inovar, com criatividade, no uso de meios que possam promover o deslocamento rápido, seguro e saudável para as pessoas.
Cuiabá tem todas as condições de dar um salto nessa questão, basta interesse da sociedade e prioridade por parte de suas lideranças. Esse é um assunto que deve estar na pauta das conversas de todo mundo, um bom começo para criar consciência.
Vicente Vuolo é economista, cientista político e analista legislativo do Senado Federal.