Ocorre nesta terça-feira (15) o julgamento de Edgar Ricardo de Oliveira pela chacina ocorrida em um bar em Sinop (500 km ao Norte) em fevereiro de 2023. No total, 7 pessoas morreram, entre elas uma menina de 12 anos. Ao ser preso Edgar teria dito que as vítimas “não valiam nada” e “mereciam”. Uma testemunha, investigador de polícia, destacou a frieza do réu, que matou as pessoas enquanto fumava um cigarro.
A sessão é conduzida pela juíza Rosângela Zacarkim dos Santos. Pelo Ministério Público irá atuar o promotor de Justiça Herbert Dias Ferreira. Pelo réu irá atuar o defensor público Ricardo Bosquesi.
A primeira testemunha ouvida na sessão de julgamento de Edgar foi Raquel Gomes de Almeida, mãe de Larissa Frazão de Almeida, de 12 anos, e esposa de Getúlio Rodrigues Frasão, 36, ambos mortos na ocasião.
Ela relatou que seu marido já havia jogado apostado antes contra Edgar e Ezequias, sendo que Getúlio perdeu e a dupla ficou debochando. Eles depois marcaram uma revanche para o dia do crime. Pela manhã Edgar jogou com Getúlio e perdeu, indo embora em seguida. Já à tarde o réu retornou com Ezequias e jogou novamente com Getúlio, perdendo novamente.
Ela relatou o momento dos homicídios. Se lembra que Ezequias ordenou que todos ficassem encostados na parede enquanto Edgar foi buscar as armas de fogo. Em seguida dispararam contra as vítimas. Raquel disse que Larissa estava próxima do pai. Em lágrimas ela se recordou do momento que sua filha correu, antes de ser atingida nas costas pelos disparos.
“Ela passou por mim, (…) saiu correndo, eu disse ‘Larissa não vai’, ela disse ‘mãe eu não posso ficar aqui’, saiu correndo (…). Logo em seguida quando ela correu, eu ia correndo e ele mandou eu ficar no chão, eu fiquei no chão, pensei que eu ia morrer e ela ia ficar sozinha, porque ela tinha corrido”, contou a mãe da vítima.
Segundo Raquel neste momento todas as outras vítimas já estavam mortas e então os suspeitos atiraram em Larissa. Os criminosos pegaram a bolsa da mulher, acreditando que o dinheiro da aposta estava lá, e teriam tentado atirar contra Raquel, mas a arma já estava descarregada.
“Minha vida se transformou, porque eu tinha eles dois, ele trabalhava, tinha a Larissa que ficava comigo, agora eu não tenho ninguém, estou sozinha, não tenho mais ela comigo (…). Quero que ele continue preso, que ele pague pelo que ele fez, ela não vai mais voltar, mas ele estando preso já é um alívio”, pediu a mãe de Larissa.
A segunda testemunha ouvida foi o investigador da Polícia Civil Wilson Cândido de Souza, que atuou no caso. Ele contou que, ao ser preso, Edgar teria dito que “quem ele matou não valia nada, eram todos farinha do mesmo saco, eram todos vagabundos e mereciam”.
Ele então teria sido questionado sobre Larissa, de apenas 12 anos, que também foi morta. Edgar então teria falado “não, mas essa menina não era pra matar”. O delegado o confrontou dizendo que atirou pelas costas e que ele tinha conhecimento sobre armas, não era nenhum amador. Neste momento o suspeito se calou e não conversou mais com a polícia.
“Estou há 23 anos na Polícia Civil, 13 anos na divisão de homicídios, e eu desconheço um crime tão bárbaro igual a esse, da forma como eu vi aí. E o que mais nos causa estranheza é a frieza com que ele matou essas pessoas, fumando cigarro, sem um pingo de compaixão”, disse o investigador.
A terceira testemunha ouvida foi Kelma Silva Santos Andrade Costa, viúva de Maciel Bruno de Andrade Costa, 35, que era o dono do bar onde ocorreu o crime e também foi a primeira vítima executada. Ela contou que presenciou uma outra ocasião, anterior, em que Edgar teria se descontrolado.
“Uma vez que teve um torneio lá e o Edgar quebrou um taco na cabeça de um, isso eu estava presente, e o Bruno teve que intervir”.
Ela também falou que sua vida mudou totalmente, que Maciel Bruno era um bom pai e seus filhos, uma menina de 14 anos e um menino de 9, sentem muito a falta dele.
“Minha filha só vive chorando, era muito apegada a ele, e é difícil (…). Volta e meia ela comenta alguma coisinha, tipo datas comemorativas que o Bruno sempre comemorava (…). Ele era amoroso com eles, fazia sempre programinha entre eles, cinema, filme, piscina, essas coisas ele sempre fazia com eles, levava na escola, buscava todo dia”, disse a viúva emocionada.
A testemunha seguinte foi Luis Carlos Souza Barbosa, sobrinho do Getúlio. Ele estava no bar no dia da chacina. Ele contou sobre o momento em que os suspeitos ordenaram às vítimas para que encostassem na parede. Disse que viu o primeiro disparo em Maciel Bruno e depois disso fugiu.
“Veio um flash ligeiro (…). No segundo tiro foi na hora que eu me saí para encostar na parede, já esboçando querer correr (…). Na hora do segundo tiro eu corri, nessa hora eu não vi mais nada, eu corri e corri, minha mente só era correr (…). Com muita luta achei um terreno baldio, me escondi, esperei uns 5 minutos, aí lembrei da minha família no Maranhão e liguei, disse ‘pai mataram todo mundo lá no bar’”.
No caminho de volta Luis Carlos se deparou com as autoridades e, já próximo do bar, avistou o corpo de Larissa no chão. Ao correr ele disse que escutou Raquel gritar o nome da menina.
Em seguida foi ouvida a testemunha Thyago Celestino Pereira, escrivão de polícia. Ele também disse que Edgar negou que teve intenção de matar Larissa e que disse que o crime não foi premeditado, que as armas estavam no veículo porque pretendia ir para seu sítio. No entanto, o policial destacou a possibilidade de que Edgar tenha perdido a última partida de sinuca de propósito.
“Todo mundo que tem noção mínima de sinuca conseguiria derrubar aquela bola na caçapa, era a última bola do Edgar, ele ganharia a partida, ele estava com o taco profissional dele, não era taco do bar, então ele tinha condição de ganhar aquela partida, mas a gente não sabe se por querer ou se ele realmente errou, ele acabou que não derrubou essa bola, e a partir desse momento que ele não derrubou essa bola é que se inicia esse crime bárbaro”.
O escrivão também contestou a versão do réu, de que não teve intenção de matar a menina de 12 anos. Ele apontou que, conforme a perícia, o disparo feito com a espingarda atingiu Larissa no meio das costas.
“A marca dos balins na região das costas ada Larissa dá a entender que ele mirou no centro das costas dela, porque se ele tivesse mirado no ombro ou tentado enxergar o cara na frente, não pegaria ali onde pegou, na região central das costas”, disse.
O caso
Os assassinatos ocorreram na tarde do dia 21 de fevereiro de 2023 em um bar em Sinop. 6 vítimas morreram no local e uma no hospital. Os suspeitos foram identificados poucas horas após o crime, sendo Ezequias Souza Ribeiro, 27, e Edgar Ricardo de Oliveira, 30.
As identidades das vítimas também foram divulgadas naquele dia. Entre elas estão Getúlio Rodrigues Frasão, 36, e Larissa Frazão de Almeida, 12, pai e filha, respectivamente. Larissa foi atingida com um tiro nas costas.
A mãe da menina, Raquel Gomes de Almeida, também estava no estabelecimento e presenciou a ação dos criminosos. Ela sobreviveu.
Ezequias Souza Ribeiro foi baleado e morto na tarde do dia 22 em confronto com policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Ele chegou a ser levado a um hospital, mas não resistiu. O outro suspeito do crime, Edgar Ricardo de Oliveira, de 30 anos, se entregou à polícia na manhã do dia 23 de fevereiro. Ele está preso na Penitenciária Central do Estado (PCE).
Fonte: Gazeta Digital