Catedral de Cuiabá comemora 50 anos com exposição de fotos da antiga capela; veja história

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Repleta de narrativas, curiosidades e relatos peculiares, a nova Catedral Basílica Senhor Bom Jesus de Cuiabá comemora 50 anos, nesta quarta-feira (24). O templo guarda histórias excêntricas e desconhecidas por grande parte da população mato-grossense e coleciona um acervo de singularidades, que vão desde uma cripta com restos mortais de autoridades históricas, a testemunhos sobre o desenvolvimento econômico-social pela qual a capital passou.

Para comemorar a data, uma exposição está sendo realizada na Catedral Metropolitana e ficará disponível até essa quinta-feira (25). Uma missa também será celebrada às 18h30 desta quarta para comemorar o aniversário.

Antiga Catedral Basílica Senhor Bom Jesus de Cuiabá, com a primeira torre incorporada — Foto: Divulgação

Antiga Catedral Basílica Senhor Bom Jesus de Cuiabá, com a primeira torre incorporada — Foto: Divulgação

A Catedral foi fundada em 1722 pelo capitão-mor Jacinto Barbosa Lopes, mas foi demolida em 1964. Segundo a historiadora Leilla Borges de Lacerda, naquele período, corria o boato de que a igreja estava caindo e, por isso, o arcebispo da época, Dom Orlando Chaves, decidiu demolir a capela.

“Disseram, na época, que a igreja estava caindo, o que não era verdade, era apenas uma parede que estava com problema. Ele usou aquilo como desculpa para demolir a igreja, porque ele acreditava que Cuiabá precisava de modernidade e inovação”, contou.

Em contrapartida, o cura da Catedral, Deusdetit Monge de Almeida, contou ao g1 que a demolição foi feita, porque o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) não autorizou o tombamento da capela, à época.

“Foi construído duas torres depois que a igreja foi fundada e foi por isso que o Iphan não tombou ela. Eles [os responsáveis do órgão] disseram que como a capela tinha sido descaracterizada e não tinha mais a imagem original, eles não tinham como considerá-la um patrimônio”, explicou.

Catedral do Senhor Bom Jesus de Cuiabá na década de 60 — Foto: Arquivo pessoal

Catedral do Senhor Bom Jesus de Cuiabá na década de 60 — Foto: Arquivo pessoal

Curiosidades

É comum na tradição da Igreja Católica Apostólica Romana que os restos mortais de prelados, bispos e arcebispos sejam enterrados nas próprias catedrais. Por isso, o subsolo da Catedral conta com uma cripta que serve de cemitério às autoridades políticas e eclesiásticas locais.

Com a demolição da velha catedral, os cadáveres, armazenados na época, foram transferidos para a Igreja Nossa Senhora do Bom Despacho e foram recolocados na nova cripta somente em agosto de 1974.

No cemitério estão enterrados: Dom Carlos Luiz D’Amaur, Dom José Antônio dos Reis, Dom Luiz de Castro Pereira, Pascoal Moreira Cabral, Miguel Sutil de Oliveira, Dom Francisco de Aquino Corrêa, Dom Orlando Chaves, Frei José Maria de Macerata e Dom Bonifácio.

Arte atrás do altar tem mais de 20 metros de altura, feita de colagem de pastilhas, desenvolvidas pelo artista polonês Arystarch Kaszkurewicz — Foto: Denise Soares/G1

Arte atrás do altar tem mais de 20 metros de altura, feita de colagem de pastilhas, desenvolvidas pelo artista polonês Arystarch Kaszkurewicz — Foto: Denise Soares/G1

Outra curiosidade é a história da arte no altar principal da Catedral. São mais de 20 metros de altura de uma imagem feita com colagem de mais de 2 milhões de pastilhas, desenvolvidas pelo artista polonês Arystarch Kaszkurewicz.

O artista, que não tinha mãos, veio para o Brasil para fugir da 2º Guerra Mundial. A arte foi feita em três anos com a ajuda de alunos e freiras do antigo colégio Dasa, o atual Centro Educacional Maria Auxiliadora (Cema).

Padre preso

Por volta de 1870, época em que a igreja era governada pelo estado, o padre Ernesto Camilo Barreto foi preso após fazer fortes críticas ao governo. Segundo o padre Deusdetit, ele era jornalista e tinha um jornal chamado “Imprensa de Cuyabá”, onde aproveitou do poder da mídia para defender os povos indígenas e as pessoas pobres.

“Ele fez denúncias gravíssimas ao governo, tanto que foi preso depois que terminou a celebração da missa. Na época, o governo tinha autoridade para interferir nos assuntos religiosos, por isso todos os padres eram servidores do estado, tanto que ele [Ernesto] era deputado”, concluiu.

Fonte: G1 MT