Bolt de MT calça 47 e corre descalço por não encontrar sapatilha

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O Brasileiro Sub-20 de atletismo, realizado no Paraná nesta semana, reservou uma cena inusitada. Na disputa dos 400m rasos, uma das baterias classificatórias contou com Maurício Souza, de 16 anos. O jovem do Mato Grosso conseguiu a marca de 51s37, se classificou para a final da prova e fez isso correndo descalço.

Maurício é de Araputanga, cidade a pouco mais de 400km da capital Cuiabá, e disputa quase todas as provas dos 400m que está inscrito sem sapatilha no pé. O motivo? O jovem tem o pé nº 47 e não consegue comprar calçados deste tamanho na cidade onde mora.

“Ele tem corrido descalço mesmo. Está calçando 47 e não temos como comprar a sapatilha. Aqui é difícil achar nesse tamanho e quando achamos é muito caro para nós. Ele chegou a ter uma nº45, mas o pé do meu filho cresceu um pouco. O Maurício chegou a usar mesmo não tendo como e a sapatilha estourou na frente”, comentou Mariele, a mãe do jovem atleta, em entrevista exclusiva ao Estadão.

O vídeo da prova em que Maurício corre descalço os 400m rasos no Brasileiro Sub-20 ganhou notoriedade nas redes sociais na última sexta-feira. Nele, é possível ver que o jovem atleta, mesmo disputando contra atletas até três anos mais velhos que ele, consegue se manter bem, mesmo sem sapatilha, e garante um dos melhores tempos da final da prova, que acontece neste domingo (9). Além da prova individual, o corredor está na disputa do 4x400m no Brasileiro Sub-20.

“É, eu corro sem sapatilha. Não tenho uma porque eu estou usando nº47 e fica difícil achar. Também vim para o Brasileiro Sub-20 sem aqueles shorts térmicos, mas fui com o meu bermudão mesmo”, comentou Maurício após a prova.

MUDANÇA DA FAMÍLIA E COMEÇO NO ATLETISMO

A relação do atletismo com Maurício não é longa. Na verdade, tem pouco mais de um ano e a razão dela ter começado é seus pais terem que se mudar de região na cidade de Araputanga.

“Ano passado eu e meu marido passamos por um processo da prefeitura de Araputanga e tivemos que nos mudar. Deixamos a parte rural e fomos morar na parte urbana da cidade. Depois disso, a vida do Maurício mudou um pouco. Ele passou a estudar em período integral e conseguiu achar um projeto da Prefeitura que ensinava atletismo. Começou a ir, no início foi bem difícil no começo, porque a rotina cansava muito, mas a gente foi incentivando, ele foi seguindo e segue até hoje”, explicou Mariele.

O projeto que a mãe de Maurício cita é a APADA Atletismo. Foi nele que Maurício aprendeu o básico e se desenvolveu em pouco mais de um ano na modalidade. Com treinos de segunda a sábado, o jovem passou a gostar cada vez mais do esporte e os resultados nos 400m passaram a aparecer.

“Meu filho ajudava o pai quando morávamos na parte rural da cidade. Meu marido é pedreiro e o Maurício ajudava ele. Quando morávamos na antiga casa, meu filho estudava só a tarde e de manhã ajudava o pai. Após a mudança, a escola passou a ser integral e ele encontrou o atletismo na APADA para treinar. Ele vai competir com frequência, normalmente em Cuiabá, e volta com as medalhas. É uma alegria muito grande ver que o que ele plantou está dando resultado. Ver o olho dele brilhando nos contando tudo é a nossa maior conquista, com certeza”, comentou Mariele

PAIS NUNCA VIRAM MAURÍCIO COMPETIR

Morando e treinando em Araputanga, Maurício aprendeu e se desenvolveu no atletismo, mas para competir a história é outra. Afastada da capital do estado, a cidade tem suas limitações e os torneios que o jovem atleta disputa são todos longe de casa.

“Ele acaba viajando para as competições. O projeto tem o apoio da prefeitura e de outros lugares e ele vai. A gente sempre senta com ele, aconselha, deixa claro que sempre vai estar torcendo. Sempre que ele vai para a pista ele me manda uma mensagem antes e eu falo sempre que depende apenas dele para que as coisas aconteçam. Infelizmente eu e meu marido nunca vimos ele competir ao vivo, no lugar que está acontecendo, mas a nossa torcida é muito forte”, disse a mãe.

ADVOGADA CRIA VAQUINHA PARA AJUDAR

A advogada paulista Maria Gabriela Junqueira se sensibilizou com a história do jovem velocista Mauricio dos Santos Oliveira e decidiu criar uma vaquinha para ajudá-lo a encontrar uma sapatilha 47. Ela também está em contato com marcas de materiais esportivos.

Maria Gabriela Junqueira se deparou com a história de Maurício pelas redes sociais na noite de ontem e decidiu agir. A publicação mostrava Maurício vencendo uma uma bateria de 400m rasos no Brasileiro de Atletismo sub-20 descalço.

A advogada procurou Maurício — que tem o apelido de Bolt do Mato Grosso —, e a família dele explicou que o jovem não tinha condições financeiras para comprar materiais esportivos de qualidade e, além de tudo, tinha dificuldades em encontrar uma sapatilha do tamanho do pé do atleta.

Maria Gabriela é casada com o jogador de basquete Alexey Borges, do Minas Tênis Clube. Justamente por ter contato com atletas de pés grandes, ela decidiu acionar os amigos em busca de sapatilhas e marcas do tamanho 47. Muita gente a procurou pelas redes sociais com o interesse de ajudar financeiramente.

Foi aí que Gabriela decidiu criar a vaquinha. Até a publicação desta reportagem (atualizada na manhã deste domingo, 9), a vaquinha já tinha alcançado R$ 7.191. “Eu comecei a fazer a divulgação da história e algumas pessoas me mandaram mensagens, para tentar ajudar com valores financeiros. Então, eu conversei com a Ludmilla [irmã de Maurício] e nós achamos uma boa ideia criar uma vaquinha”.

Fiquei engasgada

“Que loucura é o nosso país. É difícil ver o quanto de talento nós, brasileiros, temos e não conseguimos oferecer o mínimo para que eles consigam crescer”, disse Gabriela.

Marido atleta

“Sou casada com atleta profissional de basquete, então o esporte é meu mundo. Como no meio de trabalho do meu marido tem muita gente que calça 47, eu pensei que poderia tentar ajudar tentando o contato com alguma marca para mandar uma sapatilha dessas”.

Contato com Maurício

“Eu consegui falar com a irmã do Maurício, a Ludmila. Ela me contou a história deles. Fomos nós que tivemos a ideia de criar a vaquinha assim que o interesse em ajuda financeira apareceu”.

Ajuda da Olympikus

“Consegui contato com a Olympikus, mas eles não tem todo o aparato de atletismo. Eles disseram que vão mandar equipamentos”.

Veja a vaquinha AQUI.

Fonte: Estadão/Midianews/Página Única