No momento em que o Governo do Estado de Mato Grosso decidiu pela retomada das obras do VLT, é oportuno resgatar a experiência que tive ao conhecer Berlim, uma das cidades mais evoluídas do mundo.
A capital da Alemanha possui um dos sistemas de transportes mais ágeis do globo, conta com uma extensa rede de trem de superfície, metrô e o VLT, que lá é chamado de bonde. Com um cartão similar ao nosso bilhete único, o passageiro pode se deslocar usando todos os sistemas, inclusive, ônibus e travessia de barcos.
Ao logo da minha vida, percorrendo países pelo mundo, sempre gostei de analisar os aspectos econômicos e sociais de cada cidade visitada, a partir do meu Mato Grosso.
Se existem 388 cidades ao redor do planeta operando com sucesso o VLT, porque não desfrutarmos, também, aqui em Cuiabá e Várzea Grande? Capacidade os brasileiros têm, já que realizamos a Copa do Mundo e as Olimpíadas, tendo inclusive, implantado o sistema de Veículo Leve sobre Trilhos ou bonde moderno, no Rio de Janeiro.
Nesse sentido, Cuiabá precisa evoluir não só com prédios e lojas modernas, mas na mobilidade urbana, que representa melhoria de qualidade de vida da população. Em Berlim, a rede de VLT tem cerca de 200 quilômetros, é uma das mais extensas do mundo e transporta 157 milhões de passageiros por ano. O metrô, aberto em 1902, possui 173 estações, 10 linhas subterrâneas chamado de U-BAHN com 146 quilômetros de extensão e mais outros 331 km de metrô de superfície, denominado S-BAHN.
A Estação Central da capital alemã (Berlin Hanptbahnhof) é um dos maiores entroncamentos ferroviários do planeta. A estrutura começou a ser planejada a partir da reunificação da Alemanha em 1989. Foi construída em diversas etapas até a inauguração em 2006, a tempo para a Copa do Mundo.
A Estação de Berlim possui 5 níveis onde se cruzam o metrô da cidade, trens urbanos, suburbanos, nacionais e internacionais. A arquitetura, basicamente em vidro, aproveita a luz natural até o fim do dia. Faz parte do complexo um grande shopping center.
Apenas 31% dos moradores usam o carro particular. É impressionante como a capital alemã prioriza a preservação do meio ambiente. Cerca de um terço da cidade é composta por florestas, parques, jardins, rios e lagos. Respirar o ar puro é prioridade.
Uma das melhores formas de se locomover nessa fantástica cidade, é utilizando o combo metrô + bicicleta, ainda mais que existem bicicletários em todas as estações. Um dos muitos projetos inovadores é o “Radbahn”. Uma moderna ciclovia coberta (assim quem anda de bicicleta não vai se molhar, caso chova) com espaços para descanso, pontos de café, assistência técnica, além de outros serviços oferecidos ao longo do percurso estimulando a indústria criativa.
Até quando vamos continuar aplaudindo o transporte ecologicamente correto somente lá de fora? Até quando vamos ficar admirando tudo de que acontece de bom fora da nossa cidade? Chega de pessimismo. O pessimista não acredita em nada e torce para dar errado.
É um importante passo esse que o governo de Mato Grosso dá, ao declarar que continuará uma obra que está parada há anos. O que o cidadão brasileiro tem que lamentar é ter que lutar e gastar uma energia excessiva para conseguir fazer o governo cumprir o seu dever.
Mas já é um passo. Outros deverão ser dados em seguida. Não podemos parar. A Região Metropolitana de Cuiabá pode ser um exemplo de civilidade e desenvolvimento urbano para o país. Há recursos, quer sejam eles financeiros e orçamentários, quer sejam eles na forma da capacidade técnica e criativa dos mato-grossenses.
Vicente Vuolo é economista e cientista político.