A denúncia formalizada nesta quarta-feira (26) pelo Ministério Público de Mato Grosso contra Nataly Helen Martins Pereira traz um detalhe perturbador: a bebê retirada do ventre da adolescente Emelly Teixeira, de 16 anos, nasceu sem sinais vitais e foi reanimada pela própria investigada, que agora responde por feminicídio e outros sete crimes.
De acordo com o documento, Emelly Beatriz estava no nono mês de gestação quando foi atraída até uma casa no bairro Jardim Florianópolis, em Cuiabá, sob o pretexto de receber doações de roupas de bebê. A suspeita teria premeditado o crime, cavando inclusive uma cova rasa no quintal da residência.
A denúncia aponta que Emelly foi atacada pelas costas com um “mata-leão”, amarrada, asfixiada com saco plástico e, em seguida, teve o abdômen cortado com faca e navalha, ainda com sinais vitais. A bebê foi retirada do útero da mãe já sem vida, mas Nataly conseguiu reanimá-la com massagem cardíaca.
Trecho da denúncia destaca: “O bebê nasceu sem sinais vitais, precisando ser reanimado pela própria denunciada através de massagem cardíaca, o que evidencia o risco concreto à vida fetal provocado pelas ações asfixiantes anteriores. A tentativa de aborto se configura porque, apesar dos atos executórios que colocaram em risco direto a vida do feto, o resultado morte não se consumou (lembre-se que a ação se deu sob dolo eventual”.
Após o crime, Nataly foi até o Hospital Santa Helena e se apresentou como parturiente, dizendo que havia dado à luz em casa. A farsa foi descoberta após exames indicarem que ela não estava em estado puerperal. A mulher apresentou até um exame de gravidez adulterado para sustentar a mentira.
Nataly responde pelos crimes de feminicídio, tentativa de aborto sem consentimento, subtração de recém-nascido, ocultação de cadáver, fraude processual, falsificação de documento e uso de documento falso. Ela está presa preventivamente.
Segundo o Ministério Público, a motivação envolve ressentimento e inveja: Nataly, que já tem três filhos homens e havia feito laqueadura, desejava uma filha mulher. A investigação aponta que ela monitorava gestantes de meninas em grupos de doação na internet.
Relembre o caso
Em 12 de março, Emelly desapareceu após sair de casa, em Várzea Grande, com destino a Cuiabá, onde buscaria roupas doadas para sua bebê. No mesmo dia, no fim da tarde, um casal procurou o Hospital Santa Helena solicitando uma declaração de nascimento para uma recém-nascida, alegando que o parto havia ocorrido em casa.
Os médicos solicitaram exames da suposta mãe, que inicialmente recusou, levantando suspeitas. Após insistência, ela realizou os procedimentos, que constataram a ausência de sinais de parto recente, como a produção de leite materno.
O casal foi conduzido à Central de Flagrantes, enquanto a criança permaneceu sob cuidados médicos.
Imagens das câmeras de segurança do hospital às quais o Primeira Página teve acesso mostram o momento que Nataly chegou a unidade com a criança para tentar fazer o registro no mesmo dia em que havia cometido o crime.
A localização do corpo
Na delegacia, os policiais interrogaram o casal e a mulher reafirmou que o parto ocorreu com ela sozinha, na casa do irmão.
Desconfiados, os policiais se dirigiram à casa indicada pela mulher, no bairro Jardim Florianópolis. Nos fundos da propriedade, encontraram o corpo de Emelly enterrado em uma cova rasa, com as pernas expostas e o abdômen aberto.
Suspeitos e primeiras prisões
Nataly e o marido foram os primeiros detidos, quando estiveram no hospital, apontados como responsáveis pela morte.

Na manhã de quarta-feira, antes da prisão, o marido havia publicado a foto de um bebê em uma rede social, o que levantou fortes suspeitas de seu envolvimento no crime.
Na residência onde o corpo de Emelly foi encontrado, o irmão de Nathaly e o cunhado da autora foram presos. Os dois haviam limpado o sangue espalhado pela casa após a acusada informá-los sobre o falso parto natural.
Nataly também usou do sangue de Emelly para fingir que era do parto dela.
Modus operandi
Nataly tinha engravidado, mas perdeu a criança em setembro de 2024. No entanto, ela manteve a falsa gravidez. Nas redes sociais, ela compartilhou diversos registros do período que esteve gestante, como o chá de revelação do sexo da criança.
Para manter a falsa gravidez, Nataly começou a procurar mulheres grávidas que desejassem doar o bebê após o parto. Vídeos encaminhados à TV Centro América mostram uma dessas tentativas.

Por não conseguir encontrar alguém que quisesse doar a criança, Nataly chegou até Emelly por meio de grupos de mensagens na internet com a promessa de doar roupas.
Nataly pagou uma corrida de aplicativo para Emelly ir até sua casa, no Jardim Florianópolis. Lá, ela matou a adolescente.
Depoimentos e detalhes do crime
Além dos quatro detidos, outros familiares e amigos, tanto da vítima quanto da suspeita, foram levados à delegacia para prestar depoimento.
O pai de Nathaly afirmou que a filha agiu sozinha, embora tenha envolvido familiares após o crime.
Em seu depoimento, Nataly confessou ter assassinado Emelly por conta própria. Ela atraiu a adolescente com a falsa promessa de doar roupas para o bebê que estava prestes a nascer. Sem demonstrar arrependimento, descreveu com detalhes como cometeu o crime.

Segundo o depoimento, a mulher atacou a jovem pelas costas, aplicando um golpe conhecido como “mata-leão” enquanto ela estava sentada em uma cadeira.
Com Emelly desacordada, Nataly usou um fio de internet para amarrá-la e arrastou a vítima até um quarto, onde iniciou a retirada do bebê. A suspeita afirma que acordou a jovem e disse que “iria cuidar da criança”.
A criança foi arrancada de Emelly enquanto ela ainda apresentava sinais vitais. (Fonte: Primeira Página)