No retrovisor da cidade, a Avenida do CPA se repete, dia após dia. Um verdadeiro pesadelo em câmera lenta, onde cada carro parece engolido pelo asfalto rachado. Bueiros abertos lembram descuidos antigos, feridas na rua que ninguém ignora. Mas atenção: a avenida não está abandonada de hoje. É herança de anos de obras, improviso e descuido. E, ainda assim, o horizonte não promete solução.
O problema não está só nas máquinas. Está na poeira que invade os carros, na espera que não termina e nos caminhões que avançam fora do horário permitido. Placas ignoradas, fiscalização limitada e agentes de trânsito que fazem o que podem transformam a rotina dos motoristas em desafio diário.

“Gasto 20 minutos só para sair do meu apartamento, porque aqui próximo não dá nem um quilômetro. Estou aqui e acho que vou chegar muito atrasada no compromisso. E ainda corro o risco de ficar sem gasolina na rua”, relata a empresária Eliana Gomes. Janaína Sampaio complementa: “Tá ruim? Muito. Gastando mais de uma hora e meia do Bela Vista até aqui. A desorganização virou rotina.”
O servidor público Mário Coraza resume a sensação de muitos: “Falta de planejamento, sobra de caos. Será que não aprenderam nada com as obras da Copa? Não pode ser executada nesse horário de fluxo. Precisa ser planejada, talvez à noite ou madrugada. Aí o trabalho rende e a população ganha com isso.”
Enquanto isso, caminhões continuam passando fora do horário permitido, o trânsito segue arrastado e a paciência do cuiabano, cada vez mais curta.
No meio da confusão, surge uma promessa de ação. O Ministério Público de Mato Grosso convocou uma audiência pública para discutir a mobilidade urbana durante as obras. O encontro está marcado para o dia 10 de setembro, às 9h, na sede das Promotorias de Justiça. O tema é direto: desafios e soluções possíveis.

Representantes da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Câmara de Dirigentes Lojistas de Cuiabá (CDL), Sindicato das Indústrias da Construção do Estado de Mato Grosso (Sinduscon), Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Mato Grosso (Fecomércio) e secretarias municipais e estaduais foram convidados. A expectativa é por medidas emergenciais e acompanhamento rigoroso. O Ministério Público já adiantou que, caso a audiência não resulte em soluções concretas, poderá abrir inquérito civil ou adotar medidas judiciais. O objetivo, reforçam, é o diálogo.
Veja vídeo:
Entre os pontos em debate estão os impactos das obras do BRT, a reforma do Viaduto do CPA e a construção da trincheira no Jardim Leblon. A expectativa é que as contribuições de entidades, autoridades e sociedade civil resultem em um plano emergencial para reduzir os transtornos, com medidas que vão de maior fiscalização a alternativas de horários e melhorias na sinalização, garantindo o direito de ir e vir da população durante o período das intervenções. (Fonte: Primeira Página)