Atriz pornô de MT obtém liminar na Justiça e PT terá de filiá-la ao partido

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A atriz pornô Ester Caroline Pessato, de 24 anos, obteve nesta quarta-feira uma liminar na Justiça Eleitoral de Mato Grosso que determina sua filiação ao PT. Conhecida como Tigresa Vip, ela chegou a ter sua pré-candidatura a deputada estadual anunciada em um evento na capital Cuiabá, mas posteriormente sua filiação foi rejeitada pelo partido.

Na decisão, o juiz Alexandre Paulichi Chiovitti, da 38ª Zona Eleitoral de Mato Grosso, determina que o PT da cidade de Barão de Melgaço deve submeter a lista de filiados do partido em três dias e no documento deve constar o nome de Ester.

 

— No caso Ester, o arbítrio, a hipocrisia e o preconceito foram derrotados pelo Estado Democrático de Direito. A verdade venceu a mentira. O Poder Judiciário demonstrou que não vivemos em terra sem lei. Restabeleceu a ordem e a justiça — disse o advogado   Paulo Lemos Melo de Menezes, representante de Ester. Em sua defesa, atua também o advogado Julier Sebastião da Silva, ex-juiz federal.

Procurados por O GLOBO, os representantes do PT em Mato Grosso ainda não se manifestaram.

Alegações de irregularidades
Ester teve a filiação rejeitada com a alegação de que houve irregularidades no processo. Ela teria se filiado no município de Barão de Melgaço sem autorização do diretório municipal.

“Deve-se registrar que a Demandante havia solicitado a transferência de seu título de eleitor para o município de Barão de Melgaço/MT, onde reside atualmente. Materializada a mudança de seu domicílio eleitoral, a sua filiação partidária também foi transferida”, argumenta a defesa na ação ajuizada nesta terça-feira.

Os advogados de Ester alegam que o processo de suspensão da cliente foi realizado sem transparência, direito ao contraditório e ampla defesa. Segundo eles, a atriz teve a filiação na sigla, feita pelo site do partido, confirmada no dia 2 de abril. No dia 14 do mesmo mês, a sua pré-candidatura foi anunciada em evento do PT, na capital Cuiabá.

Quatro dias depois, o Diretório Estadual através de uma votação realizada em um grupo de Whatsapp decidiu suspender a filiação de Ester. A mulher recorreu então da decisão ao Diretório Nacional do PT, que confirmou a suspensão no dia 13 de maio.

— A única forma de suspender ou excluir um filiado é instaurar um processo, com direito ao contraditório e ampla defesa. E nada disso foi feito, eles sumariamente suspenderam a filiação — diz o advogado Paulo Lemos, que defende a atriz.

“A Requerente teve sua filiação suspensa, sem direito ao contraditório ou à ampla defesa, tampouco houve publicação, intimação de pauta, ata de convocação, ou qualquer notificação de infração ao estatuto da agremiação”, diz a ação.

Ester também é defendida por Julier Sebastião, ex-juiz federal e candidato do PT à prefeitura de Cuiabá em 2020. Lemos, filiado ao PT e ex-ouvidor-geral da Defensoria Pública do Mato Grosso, acredita que a suspensão da atriz pornô foi motivada por um misto de conservadorismo e interesse eleitoral.

A controvérsia no entorno da pré-candidatura de Ester Pessatto se arrasta desde meados de abril. Uma das polêmicas, citada na ação, envolveu um áudio atribuído à deputada federal Rosa Neide (PT-MT). Nele, Rosa Neide supostamente afirma ter visto um vídeo da atriz e alertado a presidenta do partido:

— Se é para fazer campanha política sendo chacota para o país, não estou disposta. Então já enviei para a presidenta (Gleise Hoffman) e espero que segunda-feira o deputado Valdir Barranco, nosso presidente, possa fazer uma reunião e discutir a questão antes que seja tarde demais — diz o áudio.

Lemos argumenta também que Barranco, presidente estadual do PT, teria receio de que a candidatura de Ester Pessatto tirasse votos seus no município de Alta Floresta, onde a atriz morou. Procurados, Barranco e Rosa Neide não responderam aos pedidos da reportagem. O espaço segue aberto.

Procurada pela imprensa de Mato Grosso na época do vazamento, Rosa Neide não negou a autoria do áudio. Em nota, ela afirmou que o PT é um partido dinâmico e plural.

— Quem articulou a minha saída, a minha expulsão, foi o deputado estadual Valdir Barranco com a deputada federal Rosa Neide — disse Ester, que cita o deputado estadual Lúdio Cabral como um dos que apoiou sua candidatura.

Ester Pessatto relatou ter tido dificuldade em se filiar ao partido ainda em março, quando estava em Alta Floresta, o que a teria feito optar pela filiação online:

— Toda vez que eu falava que queria me filiar eles enrolavam. Eu fiquei uns 4 dias mandando mensagem, ligando para o presidente do partido em Alta Floresta e ele sempre inventava uma desculpa — conta Ester.
(Publicado originalmente por O Globo)