Antes de morrer, major reclamou de atendimento em hospital; CRM vai apurar o caso

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Antes de ser transferido de unidade médica, o major da Polícia Militar Thiago Martins de Souza, 34, reclamou do atendimento no Hospital São Judas Tadeus, em Cuiabá. Relatou que ‘quase afogou’ após parte da máscara que ele usava se soltar e que não tinha recebido auxílio até então. Corregedoria da PM informou que levará o caso ao Ministério Público. O caso será apurado pelo CRM (veja mais abaixo).

A mensagem veio à tona após a técnica de enfermagem Amanda Benício, 38, denunciar casos de negligência dentro da unidade de saúde, citando especialmente o caso do major. Ela registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil na manhã de segunda-feira (5). Amanda foi demitida da unidade na sexta-feira (1) e segundo a direção do hospital, ‘por práticas dissonantes’ – veja a nota no final da matéria.

“O atendimento aqui é ruim. Muita gente e poucos profissionais. Mulher veio fazer o ‘trem’ cedo e me esqueceu com o aparelho. Dormi com o ‘trem’ na cara e soltou parte, quase afoguei. Soltei sozinho e até agora nada de socorro”, disse o major em mensagem enviada para uma pessoa não identificada. Segundo ele, esse foi um dos ‘problemas que passou’ na unidade.

A conversa segue com o destinatário da mensagem respondendo: “Thiago, em nenhum lugar está tendo profissionais suficientes. Os PAs estão fechando”, diz. Major continua dizendo que há muita gente, pouco aparelho e profissional, especialmente para fazer a fisioterapia pulmonar.

Na madrugada do dia 19 de março, ele relatou às 4h13 que teve pesadelos e em seguida, ficou com falta de ar. Thiago morreu no sábado (3), por conta das complicações em decorrência da Covid-19, em um leito da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São Benedito, qual ele foi transferido após o agravamento do seu quadro clínico.

Denúncia

Segundo Amanda, ela foi demitida após tentar relatar aos donos do hospital, por meio das redes sociais, as irregularidades que vinham ocorrendo dentro da unidade. Segundo ela, o centro cirúrgico foi fechado, faltam medicações, sedações e que estão amarrando os pacientes na cama.

No boletim de ocorrência, ela conta ainda que a equipe ‘jogou’ a pressão ao contrário na máscara VNI que o major estava utilizando para ajudar na respiração e na saturação do pulmão. E com isso sua saturação teria ido a 29 e ele ficou roxo. O major teria enviado uma mensagem para uma advogada, dizendo que ‘o hospital estava matando ele’.

Nota do hospital

Em entrevista ao vivo no programa Cadeia Neles, Amanda disse que ‘teriam que deixar alguém morrer’, já que não tinham mais equipamentos no hospital. Em nota, o hospital nega as ‘notícias’ e diz que Amanda tem como objetivo se vingar da administração e promover retaliação, leia:

“O Hospital São Judas Tadeu vem, nesta oportunidade, negar veementemente todas as notícias veiculadas na data de hoje, 5 de abril de 2021, que envolvem condutas supostamente promovidas em desfavor da saúde dos pacientes.

As acusações espúrias foram proferidas por uma funcionária que trabalhou 50 dias na Instituição, e foi demitida na semana passada justamente por práticas dissonantes com as exigidas pelo Hospital e, por isso, utiliza-se dessa pauta com cunho de promover retaliação e vingança.

É evidente que as afirmações são desprovidas de qualquer fundamento e principalmente provas. Diante da gravidade, o Hospital está empenhado na adoação das medidas cíveis e criminais cabíveis em face da profissional e isso será a maior resposta que poderemos dar a população.

De qualquer forma, reforçamos que o Hospital São Judas Tadeu é uma Instituição séria e respeitada, com histórico de excelência em serviços prestados à população cuiabana há mais de 35 anos.

Sempre atuamos com profissionais sérios e comprometidos com a ética e o bem estar dos pacientes e assim permaneceremos nossa caminhada.”

CRM vai apurar

O Conselho Regional de Medicina (CRM) abriu uma sindicância para apurar as denúncias feita pela técnica de enfermagem Amanda Demondes Benício, 38 anos, que acusa o Hospital São Judas Tadeu de maus tratos a pacientes com Covid-19. Em nota, divulgada na manhã desta terça-feira (6), o órgão ainda informou que convocará os envolvidos (gestores da unidade de saúde e denunciante) para prestarem esclarecimentos sobre os fatos.

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CRM-MT

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No comunicado, os conselheiros do CRM explicaram que Amanda não registrou denúncia no órgão. Porém, a sindicância foi instaurada “ex-officio” (por imposição legal) após publicações de matérias em veículos de comunicação de Mato Grosso.

“Independente disto, a corregedoria do CRM-MT foi acionada com base nas notícias veiculadas na imprensa para apurar a denúncia “ex ofício”. Ou seja, o próprio Conselho instaura a sindicância baseada em matérias jornalísticas”, diz trecho da nota.

A queixa da técnica de enfermagem foi feita na manhã de segunda-feira (5), após ela ser demitida da unidade de saúde. Após a dispensa, ela foi à 2ª Delegacia da Polícia Civil e denunciou que o hospital estava desligando os oxigênios para acelerar a morte dos pacientes. Na denúncia, ela ainda citou que o major foi morto devido à má gestão.

O órgão ainda disse que a investigação ocorrerá em sigilo, conforme prevê a legislação. “A referida sindicância vai tramitar dentro do sigilo que é exigido pela lei”, explicou.

Deputado convoca profissional

Durante o registro da denúncia, a técnica de enfermagem afirmou que a gestão do Hospital São Judas Tadeu seria a responsável pela morte do major da Polícia Militar Thiago Martins de Souza. O policial morreu no último domingo (4), em decorrência da Covid-19, em Cuiabá.

Diante disso, o deputado estadual Elizeu Nascimento (DC) solicitou que Amanda compareça à Assembleia Legislativa (AL) para dar mais esclarecimento sobre a denúncia de suposto maus tratos.

“Como membro da Comissão Parlamentar de Segurança Pública faço aqui um requerimento, desde já verbal, para que a comissão possa convocar essa senhora (técnica de enfermagem) para poder nos esclarecer algumas informações (sobre a denúncia)”, disse o parlamentar.

Fonte: Gazeta Digital