Adolescente de Água Boa acompanhou em tempo real assassinato da família do namorado no RJ

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A adolescente de 15 anos, moradora de Água Boa (729 km de Cuiabá), prestou depoimento à Polícia Civil de Mato Grosso sobre a morte dos pais e do irmão de 3 anos do adolescente de 14 anos que confessou o crime em Itaperuna (RJ). Ela foi ouvida na tarde desta quinta-feira (26) por cerca de duas horas, acompanhada da mãe, na delegacia do município.

As informações foram passadas a equipe do SBT News. De acordo com a polícia, durante o depoimento a jovem confirmou que mantinha um relacionamento virtual com o adolescente há seis anos, desde que tinha apenas 9 anos, após se conhecerem em jogos online.

Segundo os investigadores, chamou atenção a frieza da adolescente, que admitiu ter conversado em tempo real com o namorado enquanto ele assassinava os pais e o irmão na noite do último sábado.

Os policiais afirmaram que, apesar de ainda não haver confirmação sobre participação direta da adolescente no planejamento ou incentivo do crime, ficou claro que ela sabia de tudo que estava acontecendo e tratava os assassinatos como se fossem parte de um jogo, sem demonstrar emoção ou arrependimento.

O depoimento foi gravado e foi encaminhado à Polícia Civil do Rio de Janeiro, que investiga o caso. Por enquanto, a adolescente foi ouvida e liberada. As autoridades continuam analisando conversas entre os dois jovens para entender se houve incentivo ou participação dela no crime.

A Policia Civil de Mato Grosso, por meio da Delegacia de Água Boa, confirmou que está dando apoio às investigações do triplo homicídio em  Itaperuna (RJ), após ser acionada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro. No entanto, detalhes sobre a investigação que segue em andamento e dos depoimentos dos envolvidos são com a Polícia Civil do estado fluminense.

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Crônica de uma tragédia anunciada: o crime em Itaperuna e o vácuo emocional da nossa juventude

É difícil digerir a brutalidade de um adolescente de 14 anos que, com frieza, tira a vida dos próprios pais e do irmão de apenas 3 anos — e mais perturbador ainda é saber que ele compartilhou tudo isso, em tempo real, com sua namorada de 15 anos. A história ocorrida em Itaperuna, no interior do Rio de Janeiro, ultrapassa o limite do chocante: ela nos obriga a encarar um espelho social que há muito preferimos ignorar.

Vivemos numa era em que adolescentes, imersos em realidades digitais, constroem relacionamentos profundos e descolados do mundo físico. A menina, que acompanhou os acontecimentos à distância, teria reagido com uma frieza que os policiais compararam à de quem observa um jogo de videogame. Mas será que esse distanciamento emocional é surpreendente, ou é sintoma de algo que já se tornou comum?

Mais do que acusar ou patologizar precocemente esses jovens, precisamos fazer perguntas duras sobre o papel da família, da escola, da tecnologia e da sociedade. Como alguém tão jovem tem acesso e conhecimento sobre como ocultar corpos, manipular versões e planejar a própria narrativa? E por que isso não causou mais estranhamento entre aqueles ao redor?

Também é urgente discutir a segurança no lar, o acesso a armas e o acompanhamento da saúde mental de crianças e adolescentes. A negligência pode não ser criminosa por si só, mas muitas vezes é o pano de fundo de histórias como essa.

O crime de Itaperuna não é apenas uma manchete trágica. É um alerta — daqueles que ninguém gostaria de receber, mas que não podemos ignorar. Enquanto formos uma sociedade que não escuta seus jovens até que eles gritem através da violência, continuaremos falhando.