O apelo de influenciadores digitais que divulgam jogos de apostas ilegais, como o do Tigrinho, chama a atenção de apostadores seduzidos pela promessa de dinheiro rápido e fácil. Os divulgadores costumam apresentar uma vida de ostentação, viagens e grandes lucros, incentivando seus seguidores a realizarem depósitos mínimos de R$ 10 com o intuito de obter o retorno por ganhos expressivos de maneira rápida, mas a recompensa nunca vem. Pelo contrário, as vítimas se veem afundados em perdas e até dívidas para sustentar o vício que os jogos se tornam.
Em entrevista ao Gazeta Digital, um jovem de 21 anos, que preferiu manter sua identidade em sigilo, relatou que conheceu o jogo por meio das redes sociais. Ao ver os ganhos de um influenciador, ele decidiu investir suas economias na aposta, seu prejuízo foi de R$ 5 mil.
“Vi o influenciador postando sobre os lucros e fiquei tentado a investir. No começo, ganhei um pouco, mas depois perdi tudo. Cheguei a colocar todo o dinheiro que tinha no banco, acreditando que poderia recuperar, e até comprei um dispositivo que os influenciadores garantiam ser capaz de indicar os momentos em que a plataforma estava mais pagante, mas era tudo uma enganação”, explicou.
A sociedade brasileira tem sido alvo de uma estratégia de marketing enganosa e, diante disso, no início desta semana a Polícia Civil deflagrou a Operação 777 contra influenciadores de Cuiabá e São Paulo por divulgarem as plataformas.
Segundo o delegado Rogério Ferreira, da Delegacia Especializada do Consumidor, as investigações revelaram que os influenciadores fraudavam suas publicações, compartilhando vídeos em que jogavam versões demonstrativas fornecidas pelos responsáveis pelas plataformas. Nessas versões, eles só ganharam.
“Esses jogos são ilegais. Não estão autorizados pelo governo federal e com a divulgação eles acabam induzindo seus seguidores a apostarem em plataformas que não são autorizadas, que não vão pagar os prêmios em caso de ganhos altos e que, na maioria das vezes, fraudam as apostas. Esses influencers recebem dinheiro dessas plataformas conforme os seus seguidores acessam esse site por meio dos links disponibilizados por eles e é a partir desse dinheiro eles praticam diversos crimes como divulgação de jogos de azar, prática de crime contra as relações de consumo, estelionato, a associação criminosa e lavagem de capitais”, explicou o policial.
Além dos prejuízos financeiros, as apostas afetam o emocional do usuário, diante da pressão psicológica em investir mais dinheiro com intuito ganhar ou de recuperar o que já foi perdido, conforme explicou a psicóloga Antonieta da Costa Leme em uma entrevista anterior concedida ao Gazeta Digital.
“É comum ouvir de pacientes que enfrentam o vício em apostas que começaram com os jogos de forma inocente, por meio de sugestão de amigos, o que, no início, parecia uma atividade inofensiva e até divertida, mas que, com o tempo, perderam o controle e viram suas vidas serem profundamente impactadas. As consequências podem ser devastadoras, afetando não apenas a saúde mental, mas também as relações pessoais e a situação financeira”, alertou.
Em julho deste ano, Marcos Roberto Machado, 52, foi encontrado morto em um Fiat Mob, em Nova Mutum (264 km ao norte de Cuiabá). Ele estava desaparecido desde o fim de maio, após perder muito dinheiro com jogos de azar.
Marcos pediu demissão da indústria onde trabalhava e estaria devendo agiotas, tamanho vício que estava no jogo. Após mais de um mês de sumiço, ele foi encontrado dentro do carro, às margens da rodovia.
Legislação
No Brasil, a Lei Federal nº 3.688/1941 proíbe os jogos de azar e a Lei nº 9.613/1998 define o crime de jogos de azar como uma contravenção penal.
Se você ou alguém que conhece está enfrentando problemas com os outros jogos de azar, peça ajuda. O Centro de Valorização da Vida (CVV) é Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC) pode ser contatado
Fonte: Gazeta Digital