Dono de distribuidora em Cuiabá tinha ‘bunker’ para esconder cerveja desviada da Ambev

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O delegado Felipe Leoni, da Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (Derf) de Cuiabá, e responsável pelas investigações da Operação Ceres, deflagrada na quarta-feira (13), afirmou que o empresário L.Q.G. possuía um depósito para onde as cervejas desviadas da Ambev eram levadas. O local tinha semelhanças com uma estrutura de guerra, conhecida como bunker.

“O depósito nos chamou a atenção pela maneira como ele era lacrado, quase que um bunker de guerra. Foi muito difícil a gente conseguir ingressar ali para poder ter acesso na parte interna do depósito”, disse o delegado.

O local foi descoberto com a deflagração da Operação Ceres, que tinha objetivo de desarticular uma associação criminosa que desviada cargas de lotes de cervejas da Ambev, como Brahma, Budweiser, Skol, Antártica, e Stella Artois. O galpão foi um dos alvos dos mandados de busca e apreensão.

Ainda segundo Felipe Leoni, o galpão era anexo à distribuidora de L.Q.G., que ficava no bairro Jardim Renascer, na Capital. “Era um anexo da distribuidora e não chamava muita atenção porque ele crescia para o fundo. Na verdade, era um galpão estrategicamente montado para não chamar muita atenção de quem passava na rua”, salienta.

Dentro do depósito, os policiais encontraram cervejas com lacres adulterados, cigarros contrabandeados e outros itens. “Ali dentro certamente aconteciam outras práticas criminosas que a gente ainda está investigando, o que mais poderia”, afirma.

“Por exemplo, foram encontrados cigarros ali, que a gente já mandou para perícia. No curso da investigação a gente vai com mais certeza dizer efetivamente quais crimes foram praticados ali”, completa.

Ainda segundo o delegado, durante as ações da operação no “bunker”, foram descobertas diversas cervejas com os lacres adulterados. “Isso foi comprovado através do exame de perícia que realmente havia cerveja adulterada, falsificada. Me refiro ao lacre da cerveja. A gente ainda não fez uma análise sobre o conteúdo, sobre o líquido propriamente dito, mas os lacres eram adulterados”, afirma o delegado Felipe Leoni,

Empresário preso

Conforme o delegado Guilherme Bertolini, da Derf, dentro da casa do empresário foi localizado mais de R$ 1,3 milhão em dinheiro. O montante estava escondido dentro de um cooler de cervejas, que ficava no quarto do alvo.

O empresário foi detido em flagrante pelos crimes de receptação qualificada, contrabando e expor a venda produto alimentício falsificado ou adulterado.

O esquema

De acordo com a Polícia Civil, os investigadores apuraram que os desvios eram praticados por funcionários da cervejaria AMBEV e de duas empresas que prestam serviços de logística à fabricante.

A execução dos crimes contava com a participação de empregados, que atuavam nas funções de conferencistas, porteiros, motoristas, ajudantes de motorista, carregadores, entre outros.

O grupo envolvido desviava mercadorias que eram devolvidas por clientes da cervejaria. Para isso, era falsificada uma declaração por parte do conferencista e do porteiro confirmando que houve a entrada dos lotes de cervejas na fábrica. Em seguida, as cargas das bebidas eram desviadas aos receptadores.

Os lotes de cervejas seguiam, então, para os receptadores, um deles uma distribuidora localizada na Avenida Arquimedes Pereira Lima, no bairro Jardim Renascer. Dois funcionários da distribuidora tinham conhecimento do esquema criminoso.

Prejuízo financeiro

Informações fornecidas pela fabricante de bebidas, a partir do sistema de controle de inventário, apontaram um prejuízo estimado em quase R$ 12.800 milhões. Os números foram apurados nas diferenças de itens de estoque levantadas pela cervejaria no inventário mensal nos anos de 2021 e 2022.

O inquérito policial instaurado apura os delitos de associação criminosa, lavagem de dinheiro, furto qualificado, receptação qualificada e falsidade ideológica contra uma quadrilha que se associou para desviar bebidas alcoólicas de cinco marcas produzidas pela cervejaria nacional.

A investigação da Polícia Civil iniciou a partir do recebimento de uma denúncia da Associação Brasileira de Combate à Falsificação apontando que estavam ocorrendo desvio frequentes de lotes das marcas Budweiser, Skol, Antártica, Brahma e Stella Artois da Ambev. (Repórter MT)