Uma das pessoas detidas pela Polícia Federal por participação nos atos do 8 de janeiro afirmou, em depoimento, que uma deputada federal bolsonarista e dois candidatos a deputado do Estado foram os responsáveis pela organização de um ônibus que saiu de Mato Grosso com destino a Brasília, às vésperas do evento.
Procurados, os três citados negaram participação no fretamento de caravanas para o dia 8 de janeiro.
Detida em janeiro, Gizela Cristina Bohrer, 60 anos, é aposentada e residente em Barra do Garças (509 km a Leste de Cuiabá).
Ela relatou à PF ter chegado a Brasília no sábado, véspera do ato que resultou na destruição das sedes dos Três Poderes.
No depoimento, ela disse ter embarcado em um ônibus gratuito e que a caravana foi organizada pela deputada federal Coronel Fernanda (PL), policial militar eleita para seu primeiro mandato na Câmara dos Deputados, e pela candidata a deputada federal Analady Carneiro da Silva (PTB), que não se elegeu, e pelo suplente de deputado estadual Rafael Yonekubo (PTB).
“Os três coordenam grupos de WhatsApp e organizam caravanas para Brasília já há dois anos; que tais caravanas tinham por objetivo o apoio ao então Presidente Bolsonaro, tais como fizeram por ocasião dos desfiles de 7 de setembro e 15 de novembro de 2021 e 2022”, contou à PF.
“Todo mundo que vem nesses ônibus vem de graça e recebe todas as refeições de graça”, afirmou.
Além de citar os nomes deles, Gizela apresentou em seu depoimento os números de telefones dos três, que ainda são usados por eles.
Ao ser detida, a depoente teve seu celular apreendido e forneceu a senha aos investigadores, para permitir o aprofundamento das investigações.
Procurada, a deputada Coronel Fernanda negou ter organizado ônibus para o ato do 8 de janeiro e disse que estava em Mato Grosso nessa data.
“Em anos anteriores, quando tivemos aqueles primeiros movimentos, como do 7 de setembro, todos nós ajudamos, mas em 2023, não. Não tenho participação e nem sei quem é essa pessoa que está falando”, afirmou à coluna.
A PF já havia realizado busca e apreensão contra Analady Carneiro e Rafael Yonekubo em dezembro do ano passado, sob suspeita de que eles estavam incentivando a realização de atos antidemocráticos pelo país.
Questionados, Analady e Yonekubo negaram a organização de transporte para o dia 8.
“Não fui nem organizei nada. Era meu casamento no dia 7 (de janeiro) e como eu já era alvo do ministro Alexandre de Moraes, eu não mexi com mais nada”, afirmou Yonekubo.
Analady disse que havia viajado para Brasília em dezembro, mas que não participou das organizações para o 8 de janeiro. “Ela se confundiu”, disse.
É a primeira vez na investigação dos atos que parlamentares foram citados como possíveis organizadores das caravanas do 8 de janeiro.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) já havia solicitado ao Supremo Tribunal Federal inquéritos contra André Fernandes (PL/CE), Clarissa Tércio (PP/PE) e Silvia Waiãpi (PL/AP) por incitação aos atos de violência e vandalismo registrados em Brasília no último dia 8 de janeiro.
Na ocasião, os três negaram terem incentivado a depredação das sedes dos Poderes.
Os órgãos de investigação ainda não definiram quais providências serão tomadas sobre as informações apresentadas no depoimento de Gizela a respeito da atuação da deputada Coronel Fernanda.
No depoimento, Gizela admitiu à PF que entrou nas instalações do Congresso Nacional durante o ato do dia 8 de janeiro, mas afirmou que “não aprova invasões”.
“Entrou no Congresso pois estava chocada e queria filmar o que tinha ocorrido”, afirmou.
Questionada sobre os responsáveis pela depredação, ela apenas afirmou que “acredita que quem fez o ‘quebra-quebra’ foram bandidos infiltrados”.
Fonte: Diário de Cuiabá