O Brasil perde o maior dos seus filhos

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Ele ganhou três Copas do Mundo. Na primeira, tinha 17 anos e foi uma das estrelas. Ganhou duas Libertadores e dois Mundiais de Clubes, formando pelo Santos um dos maiores times de todos os tempos.

Num esporte em que ninguém ainda tinha passado de 700 gols, marcou 1.283. Num Paulistão, terminou com a média de três gols a cada duas partidas.

E nada disso define o tamanho de Pelé. Numa época sem internet, redes sociais e streaming, em que a TV ainda era rara fora dos EUA e partes da Europa, com apenas o rádio como existindo meio de comunicação de massa, Pelé se tornou talvez a pessoa mais conhecida do planeta em sua época.

John Lennon, nos anos 60, disse que os Beatles eram mais conhecidos do que Jesus, mas poucas vezes a banda saiu do circuito Europa-EUA. Pelé, com o Santos, jogou em muitos mais lugares, em especial na África e na América Latina.

Pelé não levou o futebol apenas para os EUA, aonde foi jogar (NY Cosmos 1974-1977) depois de se aposentar pelo Santos (1956-1974). Foi o maior divulgador de qualquer esporte na história do planeta. Pessoas que viram sua imagem apenas em raras fotos, que apenas ouviam as suas histórias, tomaram-no como um herói e passaram a jogar futebol sem nem saber as regras direito.

Décadas depois de se aposentar, uma vez passeando em Hollywood, viu um dos maiores atores norte-americanos, entrar na sua frente, se ajoelhar e beijar seus sapatos.

Pelé foi também o maior responsável pela explosão da imagem do Brasil no exterior a partir do fim dos anos 50. Para quem o viu jogar, adquiriu um caráter quase sobrenatural. No final da carreira, os narradores brasileiros não o chamavam mais pelo apelido. Era apenas “Ele”.

Jogador baixo mesmo para seu tempo (“tenho 1,71 m até a ponta do topete”, costumava dizer), Pelé era um grande cabeceador, com gols dessa maneira em duas finais de Copas do Mundo.

Os vídeos de sua carreira mostram um atleta que corre num ritmo diferente dos adversários e que era capaz de ações jamais repetidas, como tabelar com as pernas dos seus marcadores.

Provocava tamanho temos entre os adversários que uma vez foi agarrado e jogado ao chão por um zagueiro que apenas se assustou com sua movimentação sem ver que a bola estava nas mão do seu próprio goleiro.

Pelé tinha um condicionamento físico admirado até pelos adversários europeus. “Ele podia ficar no ar o tempo que quisesse”, “era impossível derrubá-lo”, disseram jogadores do nível do italiano Giacinto Facchetti e do inglês Bobby Moore, relembrando a Copa do Mundo de 1970, da qual foram destaques.

De tempos em tempos, a posição de Pelé como o Rei do Futebol foi questionada. Muitos de seus números foram superados, a maioria porque o mundo do futebol mudara muito. Na maior parte da carreira de Pelé nem mesmo havia um campeonato nacional, criado apenas em 1971.

Se no Brasil ninguém tentou tomar-lhe a coroa, fora dele, em especial na Argentina, sugiram jogadores que almejaram esse posto (Maradona de forma declarada, quase obsessiva).

Talvez Maradona tivesse maior controle de bola. Talvez Messi tenha se mantido no topo por mais tempo, Talvez Cruyff tenha influenciado mais os rumos do futebol.
Mas o fato é que Di Stéfano, Maradona, Cruyff e Messi foram sempre comparados a Pelé, e não entre eles mesmos. Só isso já é suficiente para definir quem é o mais importante da história.

Com toda essa grandeza, Pelé sempre foi uma pessoa discreta, ligada à família e que se manteve longe de polêmicas. A ponto de que quase não se sabe o que pensou a respeito do mundo e da vida.

O Brasil deveria parar hoje, em respeito ao maior dos seus filhos. O Brasil merece dar a Pelé um funeral que retribua a tudo que Ele fez pelo país. (Jogada 10)