Em agosto, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), candidato vice na chapa ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), vem a Mato Grosso para uma série de agendas com entidades representativas do agronegócio.
A visita deve ocorrer na primeira quinzena do mês, e faz parte do esforço da oposição para reduzir a preferência que o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem entre lideranças do setor.
Outra missão do ex-governador é levar o PSB para a chapa de oposição no Estado. Até então, o partido estava mais próximo de uma composição com o governador Mauro Mendes (União Brasil), que tenta o segundo mandato.
O PSB havia lançado a pré-candidatura ao Senado da médica Natasha Shlessarenko.
As movimentações ocorrem após o ex-presidente Lula selar aliança com o deputado federal Neri Geller (PP) – ex-ministro da Agricultura no Governo Dilma e vice-presidente da bancada ruralista – em Mato Grosso.
A estratégia é parte do plano para aproximação com o setor, formado, em sua grande maioria, por eleitores de Bolsonaro.
A equipe de Lula começou a receber sugestões para a montagem do programa de Governo voltado à agropecuária.
Algumas ideias já foram apresentadas em conversas anteriores, mas foram aprofundadas em reunião na sexta-feira (22), em São Paulo, entre empresários do agronegócio e o coordenador do programa de Gverno de Lula na campanha, o ex-ministro Aloizio Mercadante.
A aliança com Geller foi fechada na semana passada, durante encontro em Brasília.
Com o apoio de Lula, Geller vai concorrer ao Senado.
A expectativa é de que, a pedido do petista, o senador Carlos Fávaro (PSD) aceite disputar o governo de Mato Grosso.
Na segunda-feira (18), o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, informou que o partido no Estado deve procurar entendimento com a federação formada por PT, PCdoB e PV, mesmo com fortes resistências internas na legenda.
Carlos Fávaro disse que não tem martelo batido em relação à chapa majoritária no Mato Grosso.
“Foi uma proposta que o ex-presidente Lula fez, durante o bate-papo. Fiquei feliz. Eu disse que quero me dedicar ao Senado e à coordenação da campanha”, observou.
O senador confirmou que Alckmin cumprirá agenda solo, inicialmente, em Mato Grosso e, apenas num segundo momento, Lula irá ao Estado.
“Acharam que Bolsonaro era unanimidade no agronegócio”, disse.
“Estamos comparando os dois governos [Lula e Bolsonaro]. É gritante a diferença para o setor”, completou o senador.
PROPOSTAS – Fávaro, com Geller e o empresário do agronegócio em Mato Grosso, Carlos Ernesto Augustin, participou do encontro em São Paulo com o ex-ministro Aloizio Mercadante, coordenador do programa de governo, na última sexta-feira.
Uma das propostas é criar um programa de financiamento de longo prazo para a conversão de pastagens degradadas em lavouras com a marca “carbono zero”.
Só em Mato Grosso, o potencial é de abertura de 11 milhões de hectares.
A ideia é incrementar a pegada ambiental da neutralidade de emissões de gases de efeito estufa a juros baratos à oportunidade econômica de ampliação da produção de grãos.
O Programa ABC já financia a prática, atualmente.
Os juros altos, aliás, são atacados em outra proposta.
Com o Plano Safra 2022/23 na rua com juros de até 12,5% ao ano – para programas que financiam a compra de máquinas, por exemplo -, a sugestão é estabelecer um teto ou vincular as alíquotas do crédito rural a uma porcentagem da Selic.
REPÚDIO – O entorno de Geller e Fávaro aposta que outras lideranças do agronegócio local começarão a se manifestar a favor de Lula, com a proximidade das eleições.
Assim que a aliança foi anunciada em Mato Grosso, diversos sindicatos rurais do Estado divulgaram nota de repúdio e criticaram os políticos pelo apoio ao ex-presidente.
O texto classifica a aproximação como “retrógrada e oportunista”.
A equipe que apoia a chapa reconhece a resistência do agronegócio ao PT e a sólida ligação do setor com Bolsonaro, mas também lembra que os votos do campo não decidem o resultado da corrida presidencial.
“Tendo em vista que este debate está no âmbito político partidário e como somos uma entidade apartidária, preferimos não nos manifestar”, disse o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Fernando Cadore.
A aproximação do agronegócio a Lula também é estratégica para o setor em caso de vitória do petista na possível montagem do ministério.
A intenção é evitar que alas consideradas mais radicais historicamente ligadas ao partido emplaquem o comandante da pasta, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Em 2018, o agronegócio aliou-se a Bolsonaro.
Os ruralistas conseguiram indicar a ministra Tereza Cristina e seu sucessor, Marcos Montes, e venceram qualquer possibilidade de Nabhan Garcia, figura próxima do então candidato à Presidência à época, chefiar o Ministério da Agricultura.
Tereza Cristina chegou a ser cotada, inclusive, para ser vice de Bolsonaro nesta campanha à reeleição.
No entanto, irá concorrer ao Senado pelo PP do Mato Grosso do Sul.
A vaga de vice será ocupada pelo general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa.
Em seus discursos, Bolsonaro tem destacado algumas das realizações do seu Governo voltadas ao setor.
O presidente cita, por exemplo, a redução das invasões e ocupações realizadas pelo MST, além do aumento do acesso a armas e munições para os proprietários de terras.
No fim de junho, o Governo anunciou que o Plano Safra 2022/23 contará com R$ 340,88 bilhões, montante recorde e 36% maior que o plano anterior.
Fonte: Diário de Cuiabá