O cenário de abandono tomou conta do imóvel onde funcionava a Comunidade Valentes de Davi, em Cuiabá. Sem mais nenhum abrigado no local, parte dos barracos que antes serviam como quarto para os acolhidos, hoje são espaços para os animais como cachorros, gatos e até mesmo ratos que transitam por onde ainda há restos de comida. O restante, está no chão, demolido pelos próprios construtores, antes de irem embora.
A reportagem do LIVRE esteve no local nesta quarta-feira (22), um dia após a data limite estipulada pela Justiça para a saída e realocação dos abrigados pelo Comitê Intersetorial. O que se vê agora são objetos pessoais espalhados pelo chão, roupas e colchões jogados pelo caminho.
Até mesmo dentro da casa, que servia como uma “sede”, o que se vê é a mesma coisa: peças de roupas, sapatos, caixas, amontoadas nos cômodos que têm as paredes sujas marcadas pelo tempo.
A realocação dos abrigados começou no dia 13 de junho, conforme determinação judicial. A casa é alvo de uma ação civil pública proposta pelo Ministério Público do Estado, com apoio da Defensoria Pública de Mato Grosso, por conta da insalubridade do local.
O Comitê Intersetorial, chefiado pela Secretaria Municipal de Assistência Social, realizou a primeira abordagem na semana passada, mas muitos dos abrigados se mostraram arredios a saírem da comunidade e irem para um dos abrigos municipais.
Para onde foram?
Segundo a administração da comunidade, o local teria mais de 300 pessoas. Já, de acordo com a Prefeitura, seria em torno de 135 e dessas, até o momento, 80 pessoas já foram atendidas pelo trabalho do Município.
Dessas, 31 encontram-se abrigadas na nova unidade de acolhimento, localizado na região do CPA, a Associação Terapêutica e Ambiental Paraíso (ATAP); outras duas foram para a unidade municipal que fica no Porto e 10 casais foram para o Hotel, no Centro.
A Prefeitura frisa que 14 pessoas foram reinseridas em seus respectivos convívios familiares, e terão todo apoio dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras), enquanto que outras 12 passagens receberam passagens para voltar ao local de origem.
Volta para as ruas
Segundo a responsável pela comunidade, Fátima Correa Mendonça, a saída daqueles que ainda permaneciam no local, aconteceu no último domingo. Os acolhidos, apreensivos com a possibilidade de um retirada com uso de força policial, ainda mais após a realização de uma operação policial no local, decidiram sair por conta própria.
“A maioria saiu no domingo (19) mesmo, perdi o contato com alguns que foram para as ruas, e outros, que estão nos albergues ainda me ligam”, afirma a pastora Fátima, como é conhecida.
Sobre as dívidas que ficaram por conta da casa, como o aluguel, de quase R$ 30 mil, afinal, há meses de 2021 em atraso e nenhuma parcela foi paga este ano, além da multa que a Justiça havia imposto para impedir novos acolhimentos, Fátima diz não ter como resolver.
“Eu não sei como vou fazer. Pelas minhas contas, o aluguel está em R$ 28 mil e não tenho como pagar, a multa também está na Justiça”, conclui.
Fonte: O Livre