Não eram nem nove horas da manhã de domingo (29), quando César Pereira Lima, junto a sua família e um restrito grupo de amigos alcançaram o topo do Morro de Santo Antônio, na região metropolitana de Cuiabá. O que pode parecer algo comum, visto que o local é percorrido rotineiramente por aqueles que estão em busca de aventura. O diferencial aqui, no entanto, é que ele conseguiu fazer essa proeza para pagar uma dívida de fé em busca da cura.
Aos 50 anos, César faz parte do baixo índice de homens que são atingidos pelo câncer de mama, já que esse tipo é mais comum entre mulheres. Há seis anos ele luta contra a doença, mas foi dois anos atrás, que passou pela fase de maior dificuldade, tendo uma piora crítica, ficando de cama e respirando com ajuda de aparelhos. Foi então que prometeu que, caso melhorasse, iria cumprir uma lista de promessas.
Entre elas, justamente a de subir o Morro de Santo Antônio. E como ao longo desse período, está aos poucos melhorando, resolveu que já era hora de cumprir a sua parte. Antes das cinco da manhã, ele se posicionou aos pés do ponto e conseguiu cumprir o objetivo. Ao longo do trajeto, recebeu acompanhamento do oncologista Dr. André Crepaldi, diretor da clínica Oncolog e responsável pelo seu tratamento clínico e da Dra Mariana Carvalho, Médica Especialista em Cuidados Paliativos e responsável pela Rede de Cuidados continuados da Unimed Cuiabá.
O câncer de mama masculino é considerado raro. Para se ter ideia, de acordo com dados disponibilizados pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus), do Ministério da Saúde, enquanto em 2017 foram registradas 16.724 mortes em mulheres, apenas 203 homens faleceram pelo mesmo motivo. Mas de acordo com o Dr. André Crepaldi, quando ele atinge esse público é mais agressivo.
“Não há uma rastreabilidade precoce, muitas vezes, como se faz nas mulheres, por ele ser raro. Então, em alguns casos, acaba-se descobrindo de maneira tardia, o que impacta sobre o tratamento. Mas hoje já temos muitas novas terapias que são aplicadas para combater a doença e com ótimos resultados, dando uma expectativa de vida muito melhor ao paciente”, explica o especialista.
É o que aconteceu com César. Na pior fase, ele nem conseguia se comunicar, ficou de cama, precisando utilizar cadeira de rodas para se locomover e utilizando cateter de oxigênio 24 horas por dia. No entanto, após um tratamento complexo desenvolvido por uma equipe multidisciplinar, está conseguindo se recuperar. Hoje ele já não tem restrições para andar, não precisa de auxílio para respirar e já dirige.
“A melhora está ainda acontecendo, não estou 100% recuperado. Faço todos os tratamentos que me são indicados e tenho a sorte de ter uma equipe excelente me acompanhando. Quando eu estive no pior momento, fiz uma lista com dez itens que eu iria cumprir. E hoje já cumpri nove, o mais recente foi esse de subir o Morro de Santo Antônio”, confidencia.
Na lista, estavam atividades como conseguir voltar a jogar bola com o filho, sair da cadeira de rodas e viajar para fora de Mato Grosso sem precisar de cadeira de rodas. A única que ainda não foi cumprida é percorrer uma trilha em Machu Picchu. Algo que, inclusive, é considerado difícil para qualquer pessoa. “O Dr. André ainda não me liberou para essa, ele disse que para qualquer um, essa é uma delicada”, conta.
Câncer de mama
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) não tem dados relativos ao registro da doença no público masculino. De acordo com o Dr. André Crepaldi, o risco aumenta em homens que têm história de câncer de mama em familiares de primeiro grau. Este risco eleva bastante, quando a família tem uma mutação genética de BRCA 2, uma alteração herdada que aumenta o fator de risco. Hoje, esta alteração é detectada através de um exame de sangue e deve ter acompanhamento e orientação de um oncogeneticista.
“Felizmente, hoje temos a mão tratamentos mais avançados e que ajudam a cerca o problema de uma maneira mais efetiva. E é muito importante também, ao notarem alguma anomalia nas mamas, que não esperem para procurar auxílio especializado. Quando falamos em câncer, a detecção precoce é fundamental para um combate mais efetivo”, finaliza Crepaldi.