Por Katiuscia Manteli*
Há 90 anos, mulheres conquistaram o direito de votar e serem votadas no Brasil. Isso significa que gerações de mulheres ainda vivas estavam nascendo na época em que a conquista de direitos significava muita pressão social – o que infelizmente não é diferente hoje – e também muita barreira imposta pelo preconceito, machismo e misoginia.
Apesar do direito ter sido criado em 1932 no Brasil, a primeira mulher eleita para um cargo público em Mato Grosso ocorreu tão somente 14 anos depois, quando Lígia Borges Muller Figueiredo foi eleita a primeira prefeita mulher do país, no município de Rosário Oeste (distante 103,7 km de Cuiabá), ficando no cargo até 1950 e realizando muitas obras memoráveis como a Usina Hidrelétrica do Tombador, que foi a primeira do Estado.
Depois de Lígia, a segunda mulher a ter destaque na política mato-grossense foi Ana Maria do Couto, eleita vereadora por Cuiabá, em 1962, 30 anos depois que foi instituído o voto feminino.
Na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, a primeira mulher eleita deputada foi Oliva Enciso, cujo mandato ocorreu entre 1959 e 1963, antes da divisão do Estado. Ela também foi a primeira vereadora em Campo Grande, hoje capital de Mato Grosso do Sul, entre 1955 e 1958.
Já a primeira mulher eleita deputada federal foi Teté Bezerra, em 1994, 62 anos depois do início do voto feminino. O Estado também só teve a primeira senadora em 2002, quando foi eleita Serys Slhessarenko, cujo mandato foi de 2002 até 2011.
No Governo do Estado, a única a assumir a chefia do Poder Executivo foi Iraci França, que foi vice-governadora no primeiro mandato de Blairo Maggi (2003-2006), tendo exercido a função por quatros vezes, totalizando 40 dias. Na primeira vez que esteve à frente do Palácio Paiaguás, ficou 15 dias como governadora.
Essa pequena linha do tempo demonstra que em 90 anos de possibilidade de as mulheres ocuparem espaços de poder, ainda é mínima essa representatividade.
Mas o que gera esse problema? Não temos mulheres aptas para participar da política?
Pelo contrário, temos muitas mulheres que estão buscando a política como forma de construir uma nova sociedade. Contudo, ainda enfrentamos o machismo e a misoginia em muitas instituições e também entre os eleitores.
Não podemos ignorar que o debate político exige bem mais esforços das mulheres do que dos homens para conquistar votos, porque o que se constata com os resultados das urnas é justamente o desequilíbrio que existe entre o número de mulheres eleitas e a quantidade de mulheres eleitoras, hoje maioria.
O direito ao voto conquistado pelas mulheres, apesar de ter vindo de forma tardia e a duras lutas, ainda não garantiu o que a meu ver é fundamental, que é a ocupação equânime dos cargos eletivos.
Mas não podemos desistir e nem desanimar. Precisamos continuar o trabalho paulatino, mas contínuo de conscientização.
Se, infelizmente, é mais difícil para a mulher convencer o eleitor, então, que se intensifiquem os debates, o uso dos meios de comunicação, a estratégia política e a qualificação do modo de se fazer política. O que não pode acontecer é se esmorecer diante dos fatos e acreditar que isso é um problema sem solução. Prefiro acreditar que o que se tem para as mulheres na política ainda é um grande desafio, e estou convencida que é plenamente possível de ser resolvido.
Quanto tomarmos a devida consciência dessa realidade, deixaremos de ser apenas mulheres que votam e passaremos a ser mulheres que também são votadas, eleitas e capazes de mudar a história de seus municípios, estados e nação.