Médica acusada de matar verdureiro diz em depoimento que não viu acidente

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Nesta quarta-feira (23), foi realizada a audiência de instrução e julgamento da médica Letícia Bortolini, acusada de atropelar e matar o verdureiro Francisco Lúcio Mara, em abril de 2018. Em depoimento à 12ª Vara Criminal de Cuiabá, a médica afirmou que não teve conhecimento do acidente e que acreditava que, pelo barulho que ouviu, haviam arremessado algo no veículo.

No julgamento, Letícia confirmou que estava com o marido participando de um evento de churrasco e cerveja na capital, mas negou que tenha feito o consumo de bebida alcoólica na tarde anterior ao acidente. Versão também alegada pelas testemunhas da defesa.

A médica disse ter saído do evento por volta das 19h e que o acidente aconteceu em um trecho escuro da avenida Miguel Sutil. Letícia Bortolini afirmou que ouviu um barulho metálico de batida, olhou para o lado e viu apenas um retrovisor quebrado. Sem a visão do lado esquerdo do veículo, ela contou que preferiu não parar e seguiu viagem para a casa dos sogros.

Ela contou que logo ao chegar na casa dos sogros, os policiais chegaram e um deles havia dito: “vocês não sabem que assassinaram uma pessoa?”, afirmou no julgamento.

Em seu depoimento, Letícia disse que ficou muito nervosa. No entanto, seguiu a orientação da polícia e foi até a delegacia acompanhado do sogro e do marido.

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Letícia Bortolini disse que ouviu um barulho metálico de batida, olhou para o lado e viu apenas um retrovisor quebrado. (Foto: Divulgação)

A médica relatou que no local foi oferecido o teste do bafômetro, mas disse ao policial que havia bebido no dia anterior e que estava com medo de dar positivo. “Usei o meu direito de não fazer o teste”, disse.

Quando questionada pelo Ministério Público sobre o fato de não ter feito o teste do bafômetro, a médica disse que o nível da liberação do álcool pelo corpo depende do organismo de cada pessoa.

O MP indagou ainda se Letícia estava em alta velocidade mas ela alegou não saber precisar de fato.

Ao final do depoimento, a médica pediu desculpas à família do verdureiro. “Gostaria de pedir perdão para todos da família do Francisco, perdão por estar no carro naquele momento, eu não sai de casa para atropelar uma pessoa. Sou uma trabalhadora, vou levar o que aconteceu pra minha vida toda, rezo pela alma dele todos os dias”, disse.

A médica completou afirmando que sua vida nunca foi a mesma, depois do acidente. “Eu não sou esse monstro, essa médica que não presta socorro, essa pessoa desumana”, afirmou.

Bruno Lins

No julgamento a médica fez acusações à testemunha Bruno Lins. Ele foi ouvido no primeiro dia de audiência do caso, em 2 de dezembro de 2021.

Letícia afirmou que Bruno a teria procurado em seu consultório fingindo ser um paciente e que teria dito ser a “única testemunha do seu acidente. ‘Estou aqui para te ajudar, se puder me ajudar’ e fez sinal [de dinheiro] com os dedos”, segundo ela.

O juiz Flavio Miraglia disse que irá pedir uma investigação sobre o caso ao fim do julgamento.

Médica diz não ter visto o acidente

O atropelamento do verdureiro aconteceu por volta de 20h do dia 14 de abril de 2018, na Avenida Miguel Sutil, em Cuiabá.

Francisco empurrava um carrinho de verdura para o canteiro da avenida quando foi atingido pelo carro da médica e morreu no local.

Letícia Bortolini não freou o veículo e não prestou socorro ao pedestre. De acordo com as polícias Militar e Civil, ela estava com o marido no carro quando atingiu o vendedor.

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Francisco Lúcio Maia, de 48 anos, morreu na Avenida Miguel Sutil, em Cuiabá. (Foto: Arquivo pessoal)

O carro da médica foi encontrado em um condomínio no bairro Jardim Itália, na capital, depois de uma uma testemunha seguir o veículo e informar a polícia.

A Polícia Militar, ao detê-la, disse que ela tinha sinais de embriaguez.

O laudo da Politec (Perícia Oficial e Identificação Técnica) consta que a velocidade média de impacto do veículo que a médica conduzia, era de aproximadamente 103 km/h.

Para a polícia, a médica assumiu conscientemente o risco do acidente.

Na conclusão do inquérito policial, o delegado considerou o fato da vítima apresentar capacidade psicomotora comprometida por elevado estado de embriaguez, confirmado em laudo pericial.

Ela foi presa na casa dela, em um condomínio da capital, e solta dois dias depois sob a alegação de que ela tem um filho com 1 ano de idade que precisa dos cuidados dela.

Desde então, Letícia permanece em liberdade, atuando como médica dermatologista em Cuiabá.

Fonte: Primeira Página