Depois de resistir por quase 10 anos, remanescente do Largo do Rosário, conhecido como “Ilha da Banana”, em Cuiabá, Benedito Carlos Addor Nunes da Silva foi obrigado a deixar sua casa por causa do risco de desabamento, problema intensificado com as chuvas.
O local acabou sendo invadido por moradores de rua e usuários de droga do entorno do Morro da Luz. No fim de semana, vizinhos viram fogo no lugar e acionaram o Corpo de Bombeiros. A casa fica na avenida Coronel Escolástico, em frente à Igreja do Rosário e de São Benedito.
Benedito conta que não consegue mais nem mesmo visitar o local. Depois da mudança, ainda ia com frequência para manter a casa em ordem e de pé, na medida do possível, enquanto não recebe a indenização do Estado. Relata que invasores trocaram a fechadura ou trancaram por dentro, impedindo o uso da chave que ele possui. Antes de sair do local, objetos e móveis chegaram de ser roubados.
Mudanças
Após uma parte do telhado cair, com uma forte chuva em novembro de 2021, Benedito não viu outra saída a não ser deixar o imóvel, apesar do imbróglio judicial que se arrasta.
Morando em uma casa cedida por amigos, no bairro Tijucal, ele foi à polícia após a última tentativa de entrar no imóvel. Registrou um boletim de ocorrência para se assegurar, caso a polícia encontre drogas no local ou mesmo a possibilidade de algum crime na casa.
“Tive que tomar essa medida. Eu não sei quem está lá, o que estão fazendo e, se acontecer algo, a Justiça vai estar ciente que não resido mais no imóvel”.
Benedito morou 57 anos na casa, onde passou quase toda a existência. Fará 69 anos em junho. “Já são 10 anos de luta, porque a desapropriação começou em 2012, com o decreto do governador Silval Barbosa, tornando a área de utilidade pública para construção do VLT”, ressalta.
Na manhã desta segunda-feira (14), Benedito relata que esteve no Morro da Luz, observando a casa de longe. “Não posso mais entrar lá, é perigoso, não sei quem posso encontrar. Mas tudo que está ocorrendo estou reportando à Defensoria Pública, inclusive fotos, cópia do BO, etc”, completa.
11 famílias saíram para o VLT passar
Cinco anos após as demolições das casas da Ilha da Banana, 3 moradias resistiam às desapropriações que tirou do lugar 11 famílias. Sem respostas do Poder Público, moradores aguardam enquanto a Justiça não define o futuro do espaço e o destino dos herdeiros que lutam por indenizações justas, entre eles, Benedito Addor.
As mudanças começaram em 2012, porque no local passaria o Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT). Os desapropriados que aceitaram a indenização saíram, enquanto outros optaram por brigar na Justiça.
Enquanto a Justiça não define o futuro da Ilha da Banana, o local continua sendo motivo de insegurança para moradores vizinhos da Igreja do Rosário e de São Benedito. Grande parte das moradias está fechada.
O pouco que resta dos imóveis, que viraram abrigo de moradores em situação de rua e usuários de drogas, inibe a vizinhança, acostumada a sentar em frente às casas para conversar e olhar o movimento. “As pessoas evitam ficar na frente das casas. Já não existe mais tanta tranquilidade”, enfatiza o morador do trecho, José Roberto Santos.
Conta que as invasões no que resta dos imóveis se tornaram rotineiras, apesar da polícia ter ampliado as rondas. “Algumas pessoas entram nas casas, mas não passam 24 horas, a polícia logo tira, mas no dia seguinte vem outras e invadem de novo”, ressalta.
Juiz determina que Estado se manifeste
O Governo de Mato Grosso realizou, ao todo, 15 desapropriações no Largo do Rosário (Ilha da Banana). Do total, 12 imóveis foram demolidos e outros 3 aguardam anuência do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para a demolição.
Dos imóveis do Largo, a situação que perdura por mais tempo é a do imóvel de Benedito Addor, onde hoje constam duas avaliações sobre o valor a serem analisadas pelo juiz, sendo a do Estado e uma feita por avaliador judicial, segundo Benedito, que relata estar ansioso para a finalização do processo.
A área possui 182,64 metros quadrados e o valor oferecido pelo Estado, para desapropriação, foi de pouco mais de R$ 179 mil. A Defensoria Pública de disse que orientou Benedito a registrar o boletim de ocorrência (BO) referente ao incêndio ocorrido recentemente em seu imóvel.
Em relação ao pedido de indenização por conta da desapropriação do imóvel, em decorrência das obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), o processo aguarda uma decisão judicial na 5ª Vara Especializada da Fazenda Pública da Capital.
A Defensoria Pública afirma que segue acompanhando o caso de perto, prestando toda a assistência jurídica gratuita ao assistido. Em consulta ao Processo Judicial Eletrônico, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, consta que, no dia 4 de fevereiro, o juiz Roberto Teixeira Seror determinou que o governo de Mato Grosso se manifeste, num prazo de 10 dias, em relação ao interesse de continuidade do processo.
Fonte: Gazeta Digital