Mato Grosso ocupa a quarta posição no ranking dos estados com maior número de casos de injúria racial em 2020. No ano passado foram registrados 390 casos, enquanto em 2019 foram 489. Os dados são do 15º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O Anuário ainda mostra que Mato Grosso só fica atrás de Santa Catarina, Distrito Federal e Amapá em relação ao número de casos.
O servidor público federal Paulo Arifa, de 38 anos, denunciou ter sofrido agressão e racismo ao ser acusado de furto na saída de uma loja de um shopping em Cuiabá, em 9 de junho deste ano.
“Minha vida mudou, ‘surtei’. O fato foi muito prejudicial para a minha vida e ainda me acarreta muitos transtornos. Falar do ocorrido ainda é muito difícil pra mim, as dores físicas do meu tornozelo passaram, mas o dano psicológico ainda não”, contou.
Na época, o servidor, que é negro, decidiu comprar um sapato para participar de uma reunião do trabalho, que tinha sido antecipada. Como estava de bermuda e chinelo, ele foi até o shopping. Mas ao sair da loja foi abordado por cinco seguranças e uma funcionária, que exigiram a nota fiscal do produto.
Em seguida, ele relatou que os fiscais tentaram conduzi-lo para a sala segurança do local, momento em que um dos funcionários o segurou e o empurrou. A vítima pisou em falso, por causa do empurrão, e machucou o pé. Depois de alguns minutos, ele conseguiu localizar a nota que comprovava a compra, e foi liberado pelos seguranças.
Paulo Arifa sofreu uma torção no pé direito após empurrão em shopping — Foto: Arquivo pessoal
O caso aconteceu há quatro meses, mas deixou marcas até hoje em Arifa, que segue fazendo acompanhamento com especialistas para conseguir superar o episódio.
“Um dia acordei durante a noite dando cotoveladas em minha esposa, tentando me desvencilhar dos seguranças do shopping. Tais fatos fizeram, inclusive, com que eu fosse parar em hospital da capital para ser medicado, fui afastado de minhas atividades laborais e encaminhado para tratamento médico. Atualmente me encontro em tratamento psiquiátrico e fazendo acompanhamento psicológico e tomando medicamentos tarja preta”, declarou.
O Anuário mostra que o episódio não é um caso isolado em Mato Grosso. Em 2019 foram registrados 169 casos de racismo. No ano anterior, foram 105.
Em 2019, Mato Grosso ocupava a primeira posição no ranking de registros de casos de racismo por estado proporcional ao número de habitantes, de acordo com o mesmo estudo na 14° edição. O levantamento levou em consideração registros de 2018 e 2019.
“Ocupar uma alta posição no ranking de casos de racimos é lastimável. Tenho certeza que pessoas racistas não representam esse estado de pessoas tão calorosas que me acolheram. Tenho comigo que devido a muitas pessoas que sofrem o crime de racismo não formalizarem a denúncia, isso prejudica o combate ao crime de racismo, deste modo as estatísticas podem não demostrar a verdadeira realidade”, avalia Paulo Arifa.
Punição aos envolvidos
De acordo com a assessoria da Polícia Civil, a ocorrência foi registrada como constrangimento ilegal e injúria, mas “não houve representação por parte da vítima ou de seus representantes para que fosse dada continuidade à apuração”.
Posição do shopping
Em nota, o shopping onde ocorreu a situação informou que seguiu seus processos internos para apuração dos fatos e que realiza treinamentos constantes com toda a equipe e lojistas.
“O empreendimento reforça que não tolera nenhuma forma de discriminação e que o tratamento narrado não faz parte das diretrizes do shopping, que baseia a abordagem com o público de forma geral em valores como ética, respeito, humildade e transparência”.
Fonte: G1 MT