“Parei o carro junto a minha sobrinha de 10 anos, descemos e fomos até essa senhora, perguntei a ela diversas vezes o que estava acontecendo, ela me informou que estava com dor no peito. Logo, os funcionários da farmácia vieram até a mim, dizendo que ela estava mal desde as 15h da tarde e que já tinham registrado a ocorrência no 192 (Samu). Eu disse a ela que ligaria também”, relata.
A advogada então realizou a primeira ligação. Embora não soubesse o nome da rua, informou que estava no único posto que fica em frente a Rodoviária de Cuiabá e ressaltou que havia uma mulher passando mal desde 15h. “Simplesmente me falaram que eu teria que saber o endereço, o nome da avenida, se eu estava na farmácia era só perguntar. Ainda me disseram para ligar depois que soubesse o endereço e desligaram na minha cara”, conta.
“Liguei outra vez, disse tudo novamente, fui maltratada, desligaram na minha cara. Na terceira vez que liguei para o Samu, fui maltratada novamente, mas a enfermeira que falou comigo, foi mais educada, diferentemente do médico e atendente anterior. Expliquei que aparentemente a mulher vivia em situação de rua, porém eu não poderia afirmar, não a conheço, mas precisava muito de ajuda, pois ela estava com muita dor no peito”, diz.
Ao final da ligação, a advogada ainda foi informada que era normal ter “esse tipo de pessoa” na região. Ela ainda reforçou o estado de saúde da mulher e novamente desligaram o telefone.
“Eu ali, após horas, comecei a sentir muita dor de cabeça, em razão da tensão de tudo que estava acontecendo, as funcionárias da farmácia, super educadas, dando água para a senhora que mal conseguia se levantar”, lembra.
A advogada ainda afirma que acionou a Polícia Militar e logo uma viatura chegou. Os agentes então conversaram com a mulher e ligaram novamente para o Samu.
“Depois de tempos, chegou a ambulância que só foram após os policiais chegarem. O suposto médico, fez a mulher se levantar, com muita dificuldade, pois ela falava que não conseguia se levantar que estava doendo, ele forçou ela levantar de todo jeito para ir andando até a ambulância, para ele examinar ela, deu dó, ela tentava levantar e abaixava, de dor, ficaram minutos na ambulância e no final levaram ela”, diz.
“Foi desumano, foi cruel, foi horrível, frustrante, meu Deus, eu quis chorar, independente DE viver em situação de rua ou não, é uma vida”, desabafa a advogada.
Outro lado
Procurada pelo Olhar Direto, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT), por meio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), informou que a qualidade das três ligações estava muito ruim, sendo que em certos momentos a comunicação ficava muda.
“Contudo, o atendimento à paciente foi devidamente prestado pelo Samu; a paciente foi transferida e assistida pela Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Verdão. O registro das ligações não aponta qualquer destrato no atendimento prestado pelo Samu, apenas evidencia a má qualidade da ligação telefônica”, diz trecho da nota.
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