Com ações e obras sendo lançadas e entregues quase que diariamente, o governador Mauro Mendes (DEM) está credenciado a concorrer à reeleição no próximo ano. A afirmação é de um dos braços direitos do democrata, o vice-governador Otaviano Pivetta (sem partido).
Amigo de Mendes, Pivetta disse acreditar que a atuação à frente do Executivo credencia o governador até mesmo a pleitear uma vaga no Palácio do Planalto.
“Mauro conquistou o direito de pleitear uma reeleição. Ele está credenciado pelo trabalho que foi feito até aqui. […] Ele, inclusive, pode ser candidato a presidente”, disse.
Em entrevista ao MidiaNews, Pivetta ainda falou sobre a sua atuação na vice-governadoria, com forte influencia dentro da Secretária de Estado de Infraestrutura (Sinfra) e de Educação (Seduc). Falou sobre agronegócio, a decepção com o PDT, seu futuro político, e defendeu a industrialização de Mato Grosso.
Leia os principais trechos da entrevista:
MidiaNews – O senhor deu uma declaração dizendo que não volta para o PDT, porque não tem mais afinidade ideológica com partido. Se arrepende de um dia ter sido de esquerda como Leonel Brizola?
Otaviano Pivetta – Não. Eu nunca o vi Leonel Brizola como homem de esquerda. Até porque não tinha cizânia de esquerda e direita. Nunca vivi isso. Eu sempre fui muito do trabalhismo, da produção, do “fazimento”. Educação mais produção é igual a desenvolvimento e felicidade.
Muito se fala, mas veja o exemplo da Coreia do Sul. Estava bem pior que o Brasil há 30 anos e hoje o mundo inteiro utiliza produtos da Coreia do Sul. Isso se fez com educação. Já nós regredimos. Eu fiz o ensino fundamental em uma brizoleta [instituições de ensino]. Era um ensino emancipador, aprendíamos tudo no ensino primário. Aprendíamos a ser patriota, aprendíamos sobre o nosso dever cívico, sobre matemática, português, ciência, geografia… Tudo lá. Aprendi o suficiente para me relacionar com meus colegas, viver em sociedade e fazer minhas continhas para me tornar um empreendedor.
Hoje, ninguém mais respeita o educador. Eu sou inconformado com isso. E o PDT não fala sobre isso. O PDT começou a defender espírito de corpo, interesses de grupos, e não é isso. Nós precisamos libertar o Estado de interesses de grupo e entregar o Estado à sociedade, que é quem tem direito de cobrar as ações do Poder Público e não deixar o Estado capturado por determinados setores. Um Estado que gasta 15% do PIB (Produto Interno Bruto) com pessoal, entregando o que entrega, não está certo.
MidiaNews – Hoje, o senhor está mais próximo aos partidos de direita. Em uma futura filiação levará em conta uma afinidade com o presidente Jair Bolsonaro?
Otaviano Pivetta – Para trabalhar e para viver não é preciso partido, mas, pela lei brasileira, temos que ter filiação partidária para ser candidato a alguma coisa. Mas a falta de respeito que os políticos têm com seus partidos e a falta de respeito que os partidos têm com a sociedade é quase insuportável. O que fazem do fundo partidário e o que fazem com financiamento público de campanha? Eu estou procurando um partido que seja contra isso e já descobri alguns. Sou radicalmente contra. Porque se fosse assim, teríamos que dar direito a todas as igrejas a ter financiamento público. A igreja tem que arrecadar o dízimo e o pastor ou padre tem que ser competente o suficiente para darem importância à igreja e bancá-la.
O partido é a mesma coisa. Se um partido não inspira os políticos e agentes que pensam na sociedade a botar a mão no bolso para sustentá-lo, é porque está tudo errado. Eu estou um pouco inconformado. Estou no compasso de espera. Tenho esse mandato junto com o Mauro para cumprir e é isso que eu vou fazer. Não sei o que vai acontecer no futuro.
Se eu enxergar uma possibilidade de ser útil, vou pensar [em candidatura]. Senão, já tenho minha aposentadoria assegurada – e não é no setor público.
MidiaNews – Há um coro muito forte para que continue com Mendes em uma eventual candidatura.
Otaviano Pivetta – A vida é muito curta.
MidiaNews – E o Senado? Está no seu radar?
Otaviano Pivetta – Não. Nesse momento, não. Estou entusiasmado com o momento que Mato Grosso vive e quero botar em prática o que é possível neste Governo.
Imaginemos que eu seja um bom jogador de futebol, em campo, começou o segundo tempo e eu vou pensar na partida que terá na semana que vem? Eu tenho que jogar para ganhar. Nós [governo] estamos no segundo tempo da partida. Temos que ganhar esse jogo.
Temos a cultura, em um País pobre como o Brasil, de políticos chegarem no meio do mandato e já estarem pensando na eleição seguinte. Isso é perpetuar a miséria, esse estado de letargia que é o Poder Público brasileiro.
Nós do Governo temos vontade de fazer. Podemos fazer? Vamos fazer para melhorar o sentimento da sociedade em relação ao Estado. Essa é a nossa obsessão.
MidiaNews – O senhor tentou viabilizar uma candidatura ao Senado no ano passado, quando teve a eleição suplementar.
Otaviano Pivetta – Naquele momento, achei que poderia fazer mais por Mato Grosso e pelo Brasil no Senado. Com a pandemia, a eleição foi cancelada, e depois foi marcada uma nova data. Naquele momento, fiquei sabendo por meio do meu advogado que eu poderia financiar apenas 10% da minha campanha. Eu teria que pedir recursos para alguém. Eu não gosto de pedir. Já pedi muito na minha vida. Nós construímos uma cidade no movimento comunitário. Eu pedia para fazer hospital, praça… Cansei de pedir.
Outra coisa é que meu partido não aceitava o meu discurso. E meu discurso era claro: eu queria reformas, um Estado eficiente, menos custoso, sem cabide de emprego. Então, já estava surgindo um constrangimento, com os poucos discursos que fiz, e a direção nacional do partido – que eu respeito muito.
No PDT, deixei grandes amigos, como o deputado Allan Kardec que eu conheci e aprendi a gostar. Eu não tenho mais tempo de vida para estar em um partido em que tenho que esperar para falar as coisas que penso. Eu tenho que falar agora.
“Eu não tenho mais tempo de vida para estar em um partido em que tenho que esperar para falar as coisas que penso. Eu tenho que falar agora”.
MidiaNews – E um eventual pedido do governador para que continue na vice-governadoria?
Otaviano Pivetta – O Mauro é meu amigo e ele nem faz esse tipo de pedido para mim, porque a gente se respeita e cada um faz o que quer da sua vida. Cada um de nós temos o nosso CPF.
MidiaNews – Como viu a aproximação do governador com o PSL e a filiação do ex-senador Cidinho na sigla? Acha que ele seria um bom nome para vice?
Otaviano Pivetta – O Cidinho está credenciado. Ele é meu amigo, eu o respeito e tenho certeza que será um bom ajudante do governador.
MidiaNews – Passaria a “coroa” para ele tranquilamente?
Otaviano Pivetta – Sem nenhum problema. Sem nenhum ciúme. Sou desapegado disso aqui. 100% desapegado.
MidiaNews – A deputada Janaina Riva afirmou, nesta semana, que pesquisas mostram que só existem dois nomes viáveis para 2022: o governador Mauro Mendes e um candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro. Acredita que esse candidato apoiado pelo presidente coloca em risco uma eventual reeleição de Mendes?
Otaviano Pivetta – O Mauro conquistou o direito de pleitear uma reeleição. Ele está credenciado pelo trabalho que foi feito até aqui. A figura do presidente realmente é forte no Estado de Mato Grosso. O posicionamento do presidente mostra muito o sentimento da classe dominante em Mato Grosso, por isso tem essa sinergia e eu não sei até que ponto isso influencia em uma eleição.
Eu certamente se tivesse que escolher entre um ou outro, o meu candidato é Mauro Mendes. Ele, inclusive, pode ser candidato a presidente. O Mauro é de direita. A gestão do Mauro é liberal, que defende essa jovem e estrondosa direita que nasceu no Brasil.
MidiaNews – Acha que ele teria o apoio de Bolsonaro em uma eventual candidatura à reeleição?
Otaviano Pivetta – Ele tem tudo para ser o candidato de Bolsonaro em Mato Grosso. Não sei como não se encontraram ainda. É só um encontro. Eles se encontrando… Se apaixonam.
MidiaNews – Mas há um atrito que foi intensificado entre a presidência e os governadores durante a pandemia.
Otaviano Pivetta – Não tem briga. O Bolsonaro foi muito generoso com os governadores. Distribuiu dinheiro aos Estados e Municípios como nunca havia acontecido antes. Talvez sem querer, porque de gestão ele entende pouco. Mas ele foi muito generoso.
Essa posição de invariavelmente atacar os governador e prefeitos deve ser orientada como estratégia eleitoral. Seria uma maneira dele se sustentar mesmo em tempos difíceis. É uma estratégia que deu certo. Bolsonaro, na verdade, não fez nada contra o Mauro e nem Mauro contra ele. Nada. Mauro sempre foi alinhado com Bolsonaro.
MidiaNews – E para o Brasil, defende uma candidatura de terceira via para a Presidência da República?
Otaviano Pivetta – Desde que não seja do centrão. Desse centrão, que assalta o Brasil o tempo todo. Mas o centrão não terá candidato, ele gosta de se acoplar no poder.
MidiaNews – Então, acredita em um segundo turno dos nomes já colocados: Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro?
Otaviano Pivetta – O Brasil precisaria ter a sorte nesse momento de se livrar de um dos dois. Porque um depende do outro para viver. O outro que sobrasse ficaria fraco.
MidiaNews – Está satisfeito com sua atuação na vice-governadoria? Tem conseguido fazer o que planejou?
Otaviano Pivetta – Pouco menos do que eu sonhava, mas fazendo o suficiente para ter vontade de vir todo dia. Sem ‘caneta’ é muito difícil. Eu nunca atuei como coadjuvante. Eu tenho que emplacar minhas ideias com convencimento. Tenho uma boa relação com toda a equipe, e graças ao meu histórico as pessoas me ouvem.
As coisas demoram um pouco mais do que deveria e eu estou exercitando isso. Estou aprendendo. Mandar com a caneta é fácil. Aqui, eu estou no convencimento. Às vezes, tenho que convencer o meu amigo, o número um [Mauro Mendes], às vezes o Marcelo [de Oliveira, secretário de infraestrutura], o Alan [Porto, secretário de Educação]. Mas como a gente defende boas causas, não tenho tido muita dificuldade. E acabo me realizando por influenciar as diversas áreas do Governo.
MidiaNews – Corriqueiramente, o senhor vem publicando nas redes sociais que vem recebendo prefeitos do interior para atender, em especial, demandas de infraestrutura. O Governo do Estado está empenhado em pavimentar todo o Estado?
Otaviano Pivetta – Eu falo com eles das experiências que tive, do que aprendi como prefeito de Lucas do Rio Verde por dois mandatos. Mas não compete ao Governo se empenhar para asfaltar cada cidade de Mato Grosso. Isso compete a cada gestor. E não há nenhum modelo mais adequado que o municipalismo, e o prefeito nada mais é que o sindico daquela cidade.
O que o Governo tem feito é criar programas de estímulos para facilitar a vida dos gestores municipais. No caso da pavimentação asfáltica urbana, estamos criando um programa que visa fazer mil quilômetros de asfaltos, especialmente nas cidades mais pobres de Mato Grosso. Forneceremos insumos e óleo diesel necessário para eles fazerem as obras e eles entram com terraplanagem, trabalho braçal e essas coisas.
MidiaNews – Outra frente que o senhor tem adotado na vice-governadoria é na Secretária de Estado de Educação. Como tem atuado na Pasta e quais os avanços conquistou nesse período?
Otaviano Pivetta – Nós começamos as mudanças pela “cabeça”, que é o prédio da Secretaria. Lá, estavam alojadas 1.260 pessoas. Providenciamos a reforma de um prédio e hoje tem 700 pessoas. Qualificamos essa equipe.
O desafio é grande. Mapeamos toda a infraestrutura das mais de 700 escolas que estavam funcionando. Estamos fazendo um arranjo para tornar as estruturas com escala melhor. Tinham escolas com poucos alunos e era vizinha de uma escola maior que poderia oferecer condições melhores. Fizemos essa fusão. Estamos redimensionando e renovando a infraestrutura escolar. Um trabalho que esta sendo feito no Estado todo.
Há pouco, dotamos a autonomia das Escolas que tinha R$ 33 mil para investir em melhorias, hoje tem R$ 100 mil de limite. Sem burocracia nenhuma. Os professores e diretores definem o que irão fazer, apresentam um projeto e a gente libera imediatamente.
Nós ainda vamos implementar, a partir do ano que vem, o novo ensino médio, com 60 escolas profissionalizantes. Nelas, terá um laboratório robotizado que vai oferecer aulas de qualificação. O objetivo é ensinar os jovens para vida. A escola tem que cativar. A escola tradicional – quadro negro e giz – não funciona mais faz tempo.
MidiaNews – Há algum projeto ainda a ser implementado?
Pivetta defende municipalização da Educação Básica: “O Estado não tem capacidade de cuidar, os municípios têm”
Otaviano Pivetta – Estamos fazendo uma grande reorganização das responsabilidades sobre a educação básica. No Brasil, os Estados que municipalizaram a educação básica tem os melhores índices do Brasil – o de maior destaque é o Ceará. Estamos acertando com os municípios para que possamos fazer isso em quatro anos, no máximo. Iremos ajudar os municípios a se prepararem a assumir a educação básica. E os Estado cada vez mais se preparar para cuidar do ensino médio.
Por que isso? Porque está provado que os municípios, com exceções, tem Indeb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) melhor que o Estado. O município é o pai, que está junto, o Estado é o tio – e o tio, às vezes, falha. O Estado não tem capacidade de cuidar da educação básica como os municípios têm. Isso não trará nenhum prejuízo financeiro aos municípios. Estamos olhando caso a caso.
MidiaNews – No início da pandemia havia um temor quanto a uma crise no agronegócio, que o desempenho do setor caísse. Aconteceu o contrário. Esse cenário mostrou a importância de Mato Grosso para o mundo?
Otaviano Pivetta – Ficou evidente, especialmente para o Oriente. Porque ao contrário do que se imaginava o consumo de alimentos aumentou, apesar de a pandemia ter restringido muito as atividades e isso foi realmente surpreendente. E não só isso, houve um aumento de uma demanda geral em todas as commodities que o mundo utilizado.
Mato Grosso se tornou mais importante em função da crise de uma economia que está defasada. Nossa indústria está defasada. Não consegue acompanhar a modernização e aumento de produtividade do mundo globalizado, e isso faz com que perdemos mercado. E o agro conseguiu ampliar sua produção e o crescimento dos preços deram a Mato Grosso um significado muito maior no Brasil do que tinha até então.
Não acredito que isso tenha sido uma conquista, mas uma coincidência causada por esse conjunto de fatores. Isso não nos dá o direito de acharmos que estamos bem. Mato Grosso tem desafios a vencer enormes, e o principal é a infraestrutura.
Sem falar no distanciamento social entre os que têm mais e os que têm menos. Nós assistimos, também, com o advento do auxilio emergencial, que quase 1,1 milhão de irmãos tiveram que estender a mão. Isso mostra que apesar do agro ser pujante, por si só, ele não consegue fazer a distribuição de renda e o desenvolvimento social. Ficou evidente que é preciso verticalizar essa produção e agregar valor nela. Não podemos continuar sendo um Estado exportador de matérias primas, porque concentraremos renda e promoveremos desenvolvimento em outros países do mundo.
É um engano acharmos que vamos desenvolver o Estado produzindo matérias-primas para exportação. Precisamos ter capacidade de agregar valor aos produtos aqui dentro, precisamos industrializar, verticalizar, para vender ao mundo produtos de valor agregado. Senão vamos continuar nessa de uns ganhar muito e outros pedindo ajuda.
MidiaNews – O que o Estado pode fazer e vem fazendo para que essa industrialização acontecer? Por que tanta dificuldade para ser realizada?o
Otaviano Pivetta – Precisamos de uma reforma tributária no Brasil, para que a indústria possa replanejar seus rumos. A indústria está murcha no Brasil todo. Há o estimulo à exportação de matérias-primas pela Lei Kandir.
Não vale a pena investir na indústria em Mato Grosso, porque a carga tributária que se aplica no processo de industrialização inviabiliza. Ninguém quer correr esse risco. Eu tenho experiência por ser industrial em Mato Grosso. Eu estou nos dois setores – estou na indústria e na agricultura. Na agricultura, eu ando em uma ascendente, na indústria é dramática. É um processo que, na minha visão é equivocado, porque quem vai gerar oportunidades de distribuição de renda e o desenvolvimento industrial é o processo de verticalização da produção. Mas em Mato Grosso esse risco é alto. Paga-se muito caro e vale mais a pena ficar na produção primária.
MidiaNews – Nos temos três grandes projetos de ferrovias para o Estado – Ferrogrão, Ferronorte e a Fico (Ferrovia de Integração do Centro-Oeste). Acredita que esse ano elas ainda podem sair do papel?
Otaviano Pivetta – Estou há 37 anos em Mato Grosso e já ouvi falar muito do advento de uma rodovia que vai permitir o escoamento, depois ferrovia, e hoje o assunto voltou. Três ferrovias seria ótimo, mas se tivermos uma ferrovia já abre um alento.
MidiaNews – Mato Grosso, que é apontado como o berço do agro no Brasil, ainda tem 100 mil famílias na linha da pobreza. Como atenuar essa questão da desigualdade social no Estado?
Otaviano Pivetta – O Governo tem que criar um programa de renda mínima, e quando digo Governo me refiro ao Estado Brasileiro. É preciso de um pacto federativo para definir quem irá criar o programa de renda. Temos que sustentar a sociedade brasileira que está excluída por meio de um programa seguro e forte de renda para que todos tenham o mínimo de dignidade e cidadania.
Isso é necessário cada dia mais, porque a tecnologia que vem aí é excludente. Para um povo como o nosso, que tem um grau de Educação pequena, uma Educação de baixa qualidade como foi oferecida nos últimos tempos, a tendência é que a tecnologia venha castigar os menos favorecidos. A economia será cada vez mais fria e excludente.
Não sou a favor de esmola, não sou a favor de programas desintegrados – Município, Estado e União lançam um programa cada um. O Brasil precisa de um pacto federativo que promova a cidadania em um só programa de renda que seja real, verdadeiro, e que dê dignidade ao cidadão. Não esmolinha.
MidiaNews – Em 2019, a Gestão Mendes levou à Assembleia um projeto de minirreforma tributária, que posteriormente foi aprovado. Nele, algumas commodities tiveram a tributação aumentada.
Otaviano Pivetta – Não houve taxação do agro. O que fizemos foi uma isonomia tributária. Existia no Estado uma farra fiscal, cada setor conseguiu um incentivo diferente, negociava com secretário de plantão e saia uma negociação diferente e eliminamos isso. Hoje, o empresário que quer abrir uma empresa em Mato Grosso entra no portal e vê as regras.
Isso acabou aumentando a carga tributária para alguns setores, como comércio. No caso do agro, houve um aumento do Fethab (Fundo Estadual de Transporte e Habitação), sim, porque a nossa infraestrutura é precária. Pela primeira vez na história, vamos investir todo recurso que arrecadamos no Fethab em infraestrutura. Isso nunca aconteceu. Ele foi criado, foi desviado para cobrir os rombos que o Governo causava e foi desviado para tudo que era rumo do setor público sem conversar com quem paga a conta. Quando propomos a minirreforma, assumimos o compromisso de arrumar o Estado e começar a investir o dinheiro do Fethab em infraestrutura. E estamos fazendo isso.
MidiaNews – Naquela época, houve uma crítica dos opositores ao Governo de que a reforma era muito branda. Defende uma taxação maior ao agronegócio?
Otaviano Pivetta – Nós temos a Lei Kandir, que estimula a exportação no Brasil e eu não tenho conhecimento de nenhum País que exporte tributos. Nossa produção é basicamente exportação, e é normal que não tenha tributo. Agora, os produtos consumidos para a formação da lavoura é tributável. O produtor para impostos para comprar máquinas, equipamentos, defensivos, fertilizantes. O comércio local é muito irrigado com os recursos do agro. O agro não é totalmente isento.
O que acho que precisa ser feito é um programa de industrialização do Estado, para que possamos verticalizar mais nossa produção. Isso em algum momento terá que ser feito. Desde o Fernando Henrique eu espero que o Governo Federal faça uma reforma tributária.
MidiaNews – Há um exemplo prático sobre a questão dos impostos?
Otaviano Pivetta – Há quatro anos, nós escoávamos toda a produção de milho para outros estados e países. O que esse milho gerava de divisa para o Estado? Zero. Só estragava as estradas. Ano que vem, o Estado irá arrecadar mais de R$ 1 bilhão de impostos apenas das usinas de etanol de milho. Apenas de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), fora empregos gerados e os investimentos feitos.
Fonte: Midianews