Em um cenário de incertezas e dificuldades, muitos se viram obrigados a abandonar os estudos durante a pandemia. Na contramão dessa realidade nacional, dona Isaura da Silva Martins decidiu que era hora de voltar a estudar, aos 71 anos.
Moradora do Jardim Paula 1, em Várzea Grande, ela precisou largar os estudos ainda jovem. Dona Isaura se casou, teve quatro filhos e construiu a vida ao lado do seu marido.
Ela, que até então tinha realizado até a sexta série do Ensino Fundamental, decidiu retomar os estudos. Em 2018 ingressou na modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos (EJA), ofertada pelo Serviço Social da Indústria (Sesi MT).
“Fazia tempo que eu estava parada e eu não gosto de ficar parada, então decidi voltar a estudar”, diz dona Isaura, que após concluir o Ensino Médio está cursando o primeiro semestre de Serviço Social.
Entre marido, filhos e os nove netos, ela sempre encontra o apoio de que precisa. “Todos eles me apoiaram muito, principalmente minhas netas que estudam e me ajudam com as atividades”, conta a estudante, que precisou se adaptar às mudanças.
“Hoje em dia é muito diferente de quando eu estudava, no começo foi difícil”, complementa. As aulas acontecem de forma remota e por meio de vídeos gravados dona Isaura assiste e realiza as atividades solicitadas.
Além dos estudos acadêmicos, ela também se encaminha para a realização de outro feito, tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
Segundo a dona de casa, uma coisa levou a outra. Quando iniciou os estudos, devido à distância, precisou do auxílio dos familiares para buscá-la. Nos dias em que não havia ninguém disponível, ela voltava de ônibus, até ser presenteada pelo marido com um carro.
“Como eu sempre precisava de alguém para me buscar nas aulas e o carro estava parado na garagem, decidi tirar a carteira. Aí eu poderia ir sozinha”, conta sobre a autonomia que adquirirá com o fim dessa etapa.
O processo, entretanto, está parado. Com a pandemia, a dona Isaura se viu obrigada a adiar essa conquista. “Já estou na etapa final, falta só uma para eu tirar a carteira”, diz.
Para o futuro, ela vislumbra ajudar as pessoas por meio dos conhecimentos adquiridos ao longo das aulas. “Foi por isso que escolhi esse curso, para poder ajudar as pessoas. Espero que no final dele me contratem”, comenta rindo, devido à sua idade.
Ensino em meio à pandemia
Enquanto dona Isaura trilha o seu caminho no ensino superior apesar das dificuldades, uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha aponta para o aumento da evasão em escolas e universidades no Brasil.
Os dados mostram que em 2020 – início do período de pandemia – cerca de 4 milhões de alunos, com idades entre 6 e 34 anos, abandonaram os estudos.
Dentre os principais motivos citados estão problemas financeiros, dificuldades no acesso remoto para a realização das disciplinas, suspensão das atividades, entre outros.
Se para Dona Isaura foi um desafio se adequar ao uso das tecnologias durante as aulas. Para quem não tem acesso a elas, o desafio é outro.
De acordo com a pesquisa, entre os estudantes das classes mais baixas – D e E – o aumento no abandono foi de 54% com relação aos das classes mais altas – A e B.
Essa é apenas mais uma mostra de como a crise sanitária não só tirou milhares de vidas e afetou a economia, como também influenciou diretamente na permanência escolar e universitária de alunos em todo o país.
Outro dado preocupante mostra que dentre os alunos que interromperam os estudos, cerca de 17% não têm a pretensão de retomar os estudos, ao menos não neste ano.
Para a dona Isaura que, após décadas longe das salas de aula, conseguiu concluir seus estudos e ingressar em uma faculdades, o importante é não desistir. “Tem que continuar tentando, não pode desistir. Com a ajuda de Deus e esforço a gente consegue”, concluí.
Fonte: Midianews